LIVRO NOS CAMINHOS DO VALE

Prefácio

Professor Tadeu Antônio de Araújo Teixeira

Membro da Academia Bom-Despachense de Letras.

Dos escritores que conheço em Bom Despacho, seguimos todos, o caminho normal da produção literária. Somos cronistas. Poetas. Contistas. Uns poucos, romancistas.

Geraldo Rodrigues, ou Geraldinho do Engenho, se diferenciou de nós, primeiro por sua linguagem coloquial. Linguagem cuja força expressiva agrega especial valor aos seus causos, crônicas, contos e até as suas pesquisas históricas.

Segundo, porque Geraldinho guarda no coração e no fundo de sua alma, como ele próprio diz um ícone: o Vale do Rio Picão, com este lendário Rio cujas histórias se confundem com as origens da cidade de Bom Despacho e com as do próprio distrito do Engenho do Ribeiro, terra sagrada que o viu nascer, berço de seus ancestrais desde os finais do século XVIII.

Num poema de Fernando Pessoa, o maior poeta de Portugal depois de Camões, ele fala do rio de sua aldeia e diz que ele é mais importante do que o lendário Tejo que banha Lisboa.

E por quê? Justamente porque ele é o rio que banha a sua aldeia. Aldeia que, às vezes, a gente abandona para correr o mundo, mas que nunca esquece. Aldeia natal que guarda lembranças dos doces folguedos de nossa infância, dos mimos de nossos pais, das amizades inesquecíveis da adolescência e da juventude, das paisagens e dos rios mais belos do mundo, pelo menos em nossa bairrista concepção.

Ao apreciar mais este livro do cronista, do poeta e historiador do Engenho do Ribeiro, eu percebo no conto do menino do formigueiro, ou nos amores sofridos e frustrados de Sílvia e Marcos, em “A Dama do Cemitério”, em tipos populares cômicos como seu personagem Tetéu... percebo, sim, as marcas de um poeta que nasceu para cantar a vida provinciana e rural do interior das Minas Gerais.

Geraldinho, no seu processo de elaboração artística, usa figuras do seu meio, gente simples de existência real ou fictícia, recriadas ou criadas em suas produções literárias. Então surgem figuras caricatas como o palhaço Cem-cem e o macaquinho nojento. O político, pagando mico em velório. Às vezes, como em “Meu dia de Macumbeiro”, o personagem é o próprio autor, a contragosto, eleito e elevado ironicamente à condição de benzedor e milagreiro, pelos companheiros da dura lida da lavoura, que ele, vivenciou, pessoalmente, em sua vida na roça. Noutra situação, ele vive o menino tímido de fazenda, assediado por moças chiques do Clube Social, que lhe roubam laranjas do cesto que lhe confiara seu avô, para entregar como presente para o Coletor Federal da cidade.

E, sobretudo, é notável esta ligação e esta inspiração poética do escritor com o seu vale, o Vale do Picão, na magistral descrição que faz de um simples passeio matinal, nos caminhos das terras cujas belezas ele sempre enaltece em versos e prosa nos seus escritos.

Ele curte e rememora as saudades da garupa do cavalo de seu pai. Saudade da estrada que percorriam. Estrada roceira onde ele conheceu sua mais que cinquentenária, amada e inesquecível árvore de copaíba, cuja foto ilustra esta edição. Nas sombras desta copaíba, fonte de inspiração literária, por um gesto de carinho paternal, ele recolheu as pedrinhas de Santana, suas rapadurinhas mágicas. Nas pedrinhas encontradas à sombra da copaíba, Geraldinho do Engenho buscou elementos mágicos para criar seu sétimo livro, batizado com propriedade de “Nos Caminhos do Vale”.

Seja bem-vindo, Geraldinho, ilustre imortal da Academia Bom-Despachense de Letras, por mais esta bela obra que merece toda a nossa credibilidade, embora seja a de número 7 (sete) – conta dos mentirosos – e que vem em boa hora enriquecer os anais da literatura bom-despachense.

TAAT
Enviado por TAAT em 25/04/2013
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