VIVENDO EM PECADO, ESTADO CIVIL!

Em sua coluna de O Globo (26.1.2013), Ancelmo Gois relata o caso verídico, com testemunhas, de uma cliente que ao preencher a ficha numa clínica de dermatologia, na Tijuca, Zona Norte do Rio, respondeu para a atendente sobre seu estado civil:

– “Vivendo em pecado.”

O episódio não é só interessante pelo inusitado da resposta – afinal de contas, estado civil no Brasil ainda se define pelas terminologias solteiro, casado, divorciado e viúvo –, mas, também, pela sinceridade da resposta consciente e pelos valores religiosos que ela embute.

Num país onde ainda se encontram os “enrolados”, os “ficantes”, os “juntados”, encontrar alguém que se assuma “vivendo em pecado”, se não gera espanto, pelo menos gera curiosidade.

Duas questões se apresentam preliminarmente inquietantes no episódio. Primeira; o que levaria alguém a declarar-se “vivendo em pecado” quanto ao seu estado civil? Segunda;qual o histórico de fé dessa pessoa?

Sobre a primeira indagação, esta cliente poderia ser uma jovem solteira tendo casos amorosos (relação sexual pré-conjugal) ou uma mulher casada tendo relacionamentos extraconjugais. Os nomes para estes comportamentos são, no primeiro caso, fornicação e, no segundo, adultério. Ambas as práticas são imorais e condenadas pela Bíblia.

Sobre a segunda indagação, é certo que em uma sociedade liberal como a que vivemos, assumir-se como “vivendo em pecado” é algo totalmente démodé, senão “politicamente incorreto”. Para assumir tal status, o indivíduo precisa ter sobre si uma forte influência religiosa cristã. A partir desta constatação, elimina-se uma lista de “tipos” religiosos que poderia compor o perfil desta cliente e reduz-se a ascendência religiosa da autora da frase a condição de ser católica ou protestante/evangélica.

Talvez pudéssemos excluir também a religião Católica. O catolicismo, praticado quase que nominalmente em nossos dias pela maioria brasileira, não produz mais uma ética voltada para a fidelidade conjugal. (Embora a questãoda fidelidade conjugal transcenda os valores religiosos, estando enraizada no inconsciente da humanidade.)Também, no evangelicalismo neopentecostal ou nas igrejas de prosperidade, esse valor possa ser considerado um valor pequeno-burguês não cultivado de forma intensa. Assim sendo, é bem provável que esta mulher fosse de uma igreja tradicional.

Concluiríamos, então, que a nossa personagem cujo estado civil é “vivendo em pecado”, teria o seguinte perfil: mulher, casada, religiosa, protestante, tradicional, adúltera.

Mas, aqui temos a grande reflexão que este episódio deve promover: o que leva alguém que está cometendo um erro e tem consciência disso ao ponto de admiti-lo perante estranhos (nem tão imparciais assim, porque a clínica, com certeza, possui a ficha completa dessa cliente), a permanecer no imobilismo, em lugar de tomar a decisão de abandonar seu erro, corrigir-se e viver em paz consigo mesmo, com o próximo e com Deus?

Imagino que esta mulher já deve ter lutado muito com Deus em seu lugar secreto de oração (Mt 6.6). Não sei se ela já teve coragem de procurar um conselheiro, seu pastor, talvez, para ajudá-la a vencer o seu pecado. Mas algo me salta aos olhos: a força do pecado! O pecado individual de cada um é irresistível para quem o comete. O pecado cega, aprisiona, aniquila. O pecado exaure, tira as forças, amordaça.

Pode ser que esta mulher tenha declarado seu estado civil como “vivendo em pecado” apenas como uma forma de ironia consigo mesma ou um tipo de masoquismo ético em que a humilhação verbal lhe traria alguma compensação. Neste caso, é bom concluir com a Bíblia que não vale a pena entrar pelo caminho tortuoso do pecado. Fugir dele é a única opção, antes que, em assim não fazendo, se torne do pecado prisioneiro ou mesmo cético para consigo mesmo, não encontrando mais forças para vencê-lo (1Tm 6.11; 2Tm 2.22).

Que Deus para tanto nos abençoe!