HISTÓRIAS DO NOSSO POVO
HISTÓRIAS DO NOSSO POVO
O LOBISOMEM
Um casarão decadente e abandonado, um caminho ermo, uma noite mal assombrada de sexta-feira 13... De repente, o lobisomem. Bem sabemos que o imaginário cruel do povo acaba vendo fantasma onde não há. Na verdade, acreditar em lobisomem é uma crença do tipo pessoal, uma vez que estes tipos são, como se sabe, as proposições aceitas por um indivíduo como certas, independente das crenças dos demais.
Convém lembrar aqui que a palavra “lobisomem”, formada por aglutinação, origina-se do latim lupus homo, e, portanto, significa etimologicamente “homem lobo”. Por isso, segundo a crendice popular, lobisomem é um homem que em determinadas ocasiões se transforma em lobo nas noites de sexta-feira 13, mais precisamente à meia-noite, em uma encruzilhada,, e vagueia feroz e horrivelmente pelos caminhos e estradas, assustando as pessoas, até que alguém o desencante através de um ferimento provocado no mesmo. Conta-se que ele, costumando ficar também em encruzilhadas e proximidades de cemitérios, só volta a ter a forma de homem bem perto do amanhecer, na mesma encruzilhada onde antes se transformara em lobisomem.
Em meu tempo de criança, eu ouvia muitas histórias aterrorizantes de lobisomens que freqüentavam e percorriam a região, sobretudo nas noites de sexta-feira e de Lua cheia; e, inocentemente e como a maioria das pessoas do interior nordestino, chegava mesmo a acreditar na existência desses seres fictícios e imaginários de compleição pálida e magra. Todavia, tempos depois, cheguei à conclusão de que isso, obviamente, não passava de uma mera crença admitida e aceita por algumas pessoas. Isso, incontestavelmente, nada mais é do que uma inverdade, uma fábula ou mito, que tem origem em tradições europeias, e que durante séculos povoou a mente ingênua das populações do interior do Brasil. Aliás, ainda hoje há, de fato, quem acredite na existência real do lobisomem, esse ente lendário, fabuloso ou mítico. Há, inclusive, quem afirme com convicção já ter visto um desses monstros por aí. Mas, isso faz parte da imaginação e da crença de cada um. Realmente, algumas pessoas até juravam existirem fantasmas desse tipo. O certo é que a antiga lenda do temido lobisomem é, na realidade, muito difundida e muito conhecida no folclore brasileiro, não resta dúvida. E também pelo mundo afora.
Esclareço, finalmente, que esta é mais uma daquelas muitas histórias fantasiosas que eu desde criança ouvia, assim também como várias outras histórias sobre assombrações, lendas, adivinhações e as célebres histórias de Camões e de Trancoso, agradáveis narrativas de ficção e contos populares que fazem parte da literatura folclórica oral do nosso povo. É bem verdade que, ao contrário do que ocorria antigamente, hoje praticamente já não se conta nem mais se ouve, infelizmente, este tipo de história entre as gerações; histórias estas que povoaram grande parte da nossa mente infantil.
Em última instância, quero aqui ressaltar que este artigo de maio de 1996 é parte integrante do meu livro Memórias do Tempo, já tendo sido, inclusive, publicado nos seguintes jornais: Tribuna de Picos/Tribuna do Povo, Jornal de Picos, O Povo, Total Informativo, dentre outros. Direitos Reservados.
(*) Edimar Liz é escritor/cronista, poeta, compositor, memorialista, professor e sociólogo formado em Recife – PE.
Picos - PI, maio de 1996.