Sérgio Martins Pandolfo*

     Acaba de finar-se na cidade espanhola de Sevilha, até onde fora para passar as festas de Natal e Ano Novo com o filho, artista plástico Gonçalo Ivo, o notável poeta e escritor alagoano Lêdo Ivo, membro dos mais ilustres da Academia Brasileira de Letras. Sua morte repentina na madrugada desse domingo 23, véspera de Natal, por infarto agudo do miocárdio, pegou a todos desprevenidos, pois o poeta, apesar de seus 88 anos, estava aparentemente bem de saúde e de nada se queixava, “pretendendo retornar logo após as festas a Maceió para cumprir seus compromissos de trabalho". O poeta, jornalista, romancista, tradutor e ensaísta, nascido em Maceió aos 18/2/1924, sentiu-se mal enquanto comia em um restaurante e decidiu retornar ao seu hotel, onde recebeu o primeiro atendimento médico, vindo a morrer antes de ser levado ao hospital. Foi casado com Maria Lêda Sarmento de Medeiros Ivo (1923-2004), com quem teve três filhos: Patrícia, Maria da Graça e Gonçalo.

     O poeta fazia jus, na plenitude, à etimologia de seu prenome, Ledo, pois era um eterno de bem com a vida, risonho, contente, alegre, jubiloso, como atestavam seus companheiros de fardão, amigos e familiares, tanto que a escritora, Ana Maria Machado, presidente da ABL, ao tomar conhecimento de sua morte disse que Lêdo Ivo era um dos membros "mais ativos da instituição, um cultivador da vida”. Para ela, o alagoense era um “poeta versátil, com capacidade para a ficção, grande contador de casos e possuidor de uma vitalidade espantosa; falava alto, gostava de comer bem", aditou a presidente da ABL. O corpo do escritor será cremado na Espanha a expensas da ABL e as cinzas, chegadas ao Brasil, deverão ser depositadas no mausoléu da academia. Ainda segundo Ana Maria, Ivo lutava há vários anos contra um câncer da próstata, coisa que ele preferia manter reservadamente, só comentando, e assim mesmo de forma discreta, com alguns colegas mais chegados da academia.

     Fez os cursos primário e secundário em sua cidade natal. Em 1940, transferiu-se para o Recife, onde ocorreu sua primeira formação cultural. Em 1943 transladou-se para o Rio de Janeiro e se matriculou na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, pela qual se formou. Passou a colaborar em suplementos literários e a trabalhar na imprensa carioca, como jornalista profissional.

     Seu primeiro livro foi As Imaginações. Atuou como jornalista em vários periódicos de sua terra natal, no Rio e São Paulo e traduziu pelo menos cinco importantes obras estrangeiras, máxime do francês, sendo de ressaltar que, em contrapartida, o escritor já foi traduzido para diversos idiomas. Da sua vasta literatura, destacam-se títulos como Ninho de Cobras, A Noite Misteriosa, As Alianças, Ode ao Crepúsculo, A Ética da Aventura ou Confissões de um Poeta. Deixou perto de uma centena de obras publicadas entre poesias, antologias, contos, crônicas, romances, traduções, infanto-juvenis, ensaios, mas era ele, e maximamente, um poeta. Dos maiores, dos melhores! Era rigoroso com seus poemas, dos quais chegava a exigir quase a perfeição, esmerando-se para separar do dadivoso trigo o joio que o conspurca e amesquinha. “Poesia é vigor e rigor”, dizia amiúde. Na ABL ocupava a cadeira de nº 10, patronímica de Evaristo da Veiga, sucedendo a Orígenes Lessa desde 7/4/1987. Pertenceu a inúmeras instituições literárias, tendo recebido grande número de distinções e láureas acadêmicas, tais:

     Sócio efetivo da Academia Alagoana de Letras; honorário do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas; sócio efetivo da Academia de Letras do Brasil, correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do DF. Condecorações: Ordem do Mérito dos Palmares, grau de Grã-Cruz; Ordem do Mérito Militar, grau de Oficial; Ordem do Rio Branco, grau de Comendador; Medalha “Manuel Bandeira”; Cidadão honorário de Penedo, AL; Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Alagoas. Do PEN Clube Internacional.

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*Médico e escritor . ABRAMES/SOBRAMES
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