A Pérola Falada

Marataizes... A pérola Capixaba. Uma cidade localizada ao sul do Espirito Santo, conhecida por suas praias, pelo seu famoso abacaxi e pelo jeito de falar de seus habitantes. E é extamente sobre esse ultimo tópico que me atrevo a falar.

Por mais que voce ande pelo enorme Brasil não encontrará outro lugar em que seus habitantes falem do mesmo jeito que um maratimba, pois essa linguagem é unica, e por isso as vezes não é compreendida por outros.

Só quem é maratimba sabe o que é matar uma “taruira”, “varejar” algo, querer saber “cadique”, ter uma “mota-zera” ou dizer que alguma coisa é “poco fraco” enquanto é forte ou que é “poco forte” enquanto é fraco.

Aqui, quem nunca viu algo grande e chamou de “miúdo”? ou foi a padaria e pediu um “pão de sal”? quem nunca falou que alguém era “gadernal” ou “bobado” ou disse “dijaoje” para enfatizar um tempo anterior, quem nunca “rompeu” por algum lugar, ou em um momento de raiva deixou sair um “caiau” ou um “kidesgrama”?

Esse jeito diferente de falar muitas vezes se torna objeto de piada para aqueles que veem de fora, o que faz com que alguns maratimbas sintam vergonha e assim começem a se controlar para não deixar escapar alguma dessas palavras típicas desse lugar. Isso faz com que essa parte da nossa cultura começe a se perder.

Precisamos ter em mente, que esse modo de falar, mesmo que as vezes seja estanho ou engraçado, é parte importante da nossa cultura e que quando o abandonamos é uma parte dela que deixamos de lado.

Ao invés de deixarmo-nos ser criticados, devemos cuidar bem desse patrimonio cultural para que gerações futuras o conheçam. Não que isso seja incentivo para sairmos por ai falando ou escrevendo errado, abandonando assim as normas cultas, mas deveriamos aprender a apreciar e valorizar nossas raizes linguisticas.

Acredito que da mesma forma que os poetas tem a licença poética que os permitem escrever de um jeito diferente, deveria existir a “licença linguistica” para permitir que as pessoas pudessem se expressar de forma mais livre, sem sofrer discriminação por isso. Afinal, como disse a escritora Rita do Carmo da Silva, “A gente não fala errado, fala apenas diferente” e isso não se resume apenas ao “maratimbês”, mas a todas as variações linguisticas que são vistas com maus olhos, por uma sociedade que se “acha” correta, mas que esquece de viver e sentir a simplicidade de ser verdadeiramente pertencente a um lugar.

Para finalizar, deixo como reflexão para todos um trecho da musica “Zazulejo” de “O teatro mágico”:

“Acredito que errado é aquele que fala correto e não vive o que diz.”

Karina Benevides
Enviado por Karina Benevides em 09/10/2012
Reeditado em 30/03/2017
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