Ciência e Fé
Para Rosane Silveira
Para Rosane Silveira
Foi necessário. O homem para poder sobreviver não podia ater-se a si mesmo. Para se alimentar, para resguardar sua pele dos rigores do tempo, para enfim, resistir, suprindo suas carências, ele precisou de entender o mundo ignorado que o cercava, de reduzir aquela realidade extrínseca à sua capacidade de explicação. Só então ele poderia pôr na natureza sua marca de posse e fazê-la servi-lo. Usando a si mesmo como sua maior arma, ele partiu para a sua auto-compreensão, pois cada mistério que ele sorvia lá fora, arrancando da natureza os seus segredos, era um novo aspecto que acrescentava a si próprio. E chegou o momento em que não bastou mais a simples observação sensorial dos fatos naturais; e chegou o momento em que explicar os fatos naturais pela magia tornou-se inconcebível. Então nasceu a ciência.
Para lutar contra as forças naturais e adquirir o poder de dominá-las, o homem precisou de prever os fatos, os acontecimentos — aquilo que aparece; com o objetivo de pesquisar aqueles que eram vantajosos e úteis e, evitar ou anular os que lhe surgiam como prejudiciais.
A primeira indagação do pensador foi procurar explicar a origem do mundo. Tales, Anaximandro, Anaxímenes e outros debateram-se na escuridão de seus limites à procura da causa da existência de todas as coisas. Cada um julgou encontrá-la, mas jamais essa causa foi suficientemente lógica e sensível para ser passível de aceitação geral, e, muito menos, de comprovação.
O homem sente-se satisfeito desde que encontre a causa das coisas que o preocupam.
Por que aquela lebre corre? Porque ela percebe, através dos sentidos, a proximidade do inimigo. É puro instinto. Nós relacionamos também o movimento da máquina à dilatação do vapor, o calor à combustão do carvão, e, assim por diante. O homem se sente satisfeito quando pode reunir em apenas um pensamento um número muito grande de fatos, cuja aparência seja diversa. O físico dá uma explicação clara quando reúne sons diferentes, como o som da voz humana, do violão, da campainha e os explica como sendo vibração do ar. O astrônomo reúne em uma mesma teoria a da gravidade universal e o movimento dos planetas e a queda dos corpos.
Aristóteles estudou, dentro das possibilidades de seu tempo, um grande número de ciências particulares; admitia, sobremaneira uma ciência fundamental, a metafísica, e punha em segundo lugar os outros estudos.
“Se há duas maneiras de contar a história, há duas motivações que empurram o homem em cada uma delas. Na primeira, o motor é o amor; na segunda, o poder. Tudo tem indicado que o segundo tem se tornado cada vez mais hegemônico. Todos querem o poder, até mesmo para fazer valer sua própria noção de amor. Parece mesmo ingenuidade propor que o anteparo ao poder seja dado pela capacidade de amar de forma universal. Amor é hoje uma palavra fraca”. (João Paulo)
Entretanto, alguns abrem espaço em seu coração e acolhem o outro na dimensão da fé. Conjugam o verbo amar com a força poderosa que vem do próprio amor. Foi assim que conheci, num leito de hospital, a doutora Cleusa Vieira Miguel, patologista-chefe do Hospital Mater Dei, em Belo Horizonte. Cumprida sua jornada de trabalho, ela troca de roupa; retira a de cientista, veste a da “fé que enxerga o permanente além da cena passageira” e amorosamente vai ao encontro do outro “pelo apertado caminho que conduz à vida”. No laboratório ficam o microscópio, os reagentes químicos, o seu jaleco branco e toda sorte da mais completa tecnologia laboratorial. Silenciada a médica, surge, então, à missionária, e a doutora Cleusa se alterna com o doutor Marcos Senra, engenheiro construtor do Hospital Mater Dei. Como opção de esperança percorrem leitos e mais leitos, entram e saem, ora de um quarto, ora de outro, sobem e descem escadas, levando, convictos, dia após dia, aos que pedem, a Eucaristia.
A fé da doutora Cleusa não se cumpre neste ritual sagrado; ultrapassa a razão e a lógica; e, não se importando com a indiferença do laicismo e do ateísmo de muitos, alteia-se em orações, intensas, diante do material patológico enviado para exame, e os submete, antes ao poder salvívico de Deus.
Fé e ciência, então, se unem, e a doutora Cleusa Vieira Miguel conjuga o verbo crer no silêncio da fé.
Para lutar contra as forças naturais e adquirir o poder de dominá-las, o homem precisou de prever os fatos, os acontecimentos — aquilo que aparece; com o objetivo de pesquisar aqueles que eram vantajosos e úteis e, evitar ou anular os que lhe surgiam como prejudiciais.
A primeira indagação do pensador foi procurar explicar a origem do mundo. Tales, Anaximandro, Anaxímenes e outros debateram-se na escuridão de seus limites à procura da causa da existência de todas as coisas. Cada um julgou encontrá-la, mas jamais essa causa foi suficientemente lógica e sensível para ser passível de aceitação geral, e, muito menos, de comprovação.
O homem sente-se satisfeito desde que encontre a causa das coisas que o preocupam.
Por que aquela lebre corre? Porque ela percebe, através dos sentidos, a proximidade do inimigo. É puro instinto. Nós relacionamos também o movimento da máquina à dilatação do vapor, o calor à combustão do carvão, e, assim por diante. O homem se sente satisfeito quando pode reunir em apenas um pensamento um número muito grande de fatos, cuja aparência seja diversa. O físico dá uma explicação clara quando reúne sons diferentes, como o som da voz humana, do violão, da campainha e os explica como sendo vibração do ar. O astrônomo reúne em uma mesma teoria a da gravidade universal e o movimento dos planetas e a queda dos corpos.
Aristóteles estudou, dentro das possibilidades de seu tempo, um grande número de ciências particulares; admitia, sobremaneira uma ciência fundamental, a metafísica, e punha em segundo lugar os outros estudos.
“Se há duas maneiras de contar a história, há duas motivações que empurram o homem em cada uma delas. Na primeira, o motor é o amor; na segunda, o poder. Tudo tem indicado que o segundo tem se tornado cada vez mais hegemônico. Todos querem o poder, até mesmo para fazer valer sua própria noção de amor. Parece mesmo ingenuidade propor que o anteparo ao poder seja dado pela capacidade de amar de forma universal. Amor é hoje uma palavra fraca”. (João Paulo)
Entretanto, alguns abrem espaço em seu coração e acolhem o outro na dimensão da fé. Conjugam o verbo amar com a força poderosa que vem do próprio amor. Foi assim que conheci, num leito de hospital, a doutora Cleusa Vieira Miguel, patologista-chefe do Hospital Mater Dei, em Belo Horizonte. Cumprida sua jornada de trabalho, ela troca de roupa; retira a de cientista, veste a da “fé que enxerga o permanente além da cena passageira” e amorosamente vai ao encontro do outro “pelo apertado caminho que conduz à vida”. No laboratório ficam o microscópio, os reagentes químicos, o seu jaleco branco e toda sorte da mais completa tecnologia laboratorial. Silenciada a médica, surge, então, à missionária, e a doutora Cleusa se alterna com o doutor Marcos Senra, engenheiro construtor do Hospital Mater Dei. Como opção de esperança percorrem leitos e mais leitos, entram e saem, ora de um quarto, ora de outro, sobem e descem escadas, levando, convictos, dia após dia, aos que pedem, a Eucaristia.
A fé da doutora Cleusa não se cumpre neste ritual sagrado; ultrapassa a razão e a lógica; e, não se importando com a indiferença do laicismo e do ateísmo de muitos, alteia-se em orações, intensas, diante do material patológico enviado para exame, e os submete, antes ao poder salvívico de Deus.
Fé e ciência, então, se unem, e a doutora Cleusa Vieira Miguel conjuga o verbo crer no silêncio da fé.
Roberto Gonçalves
Escritor
Escritor