O JOGO DE XADREZ   (**)  
 


                "O xadrez é um jogo de reflexão, que exige grande tensão mental e uma imaginação criadora fecunda. Notáveis jogadores já o eram quando muito jovens, como  Paul Murthy aos 12 anos, ou Robert Fischer, que, com apenas 15 anos de idade, foi consagrado campeão dos Estados Unidos. O xadrez foi sujeito a acurados estudos por alguns famosos matemáticos, interessados, a partir das regras do jogo, em descobrir estruturas matemáticas desconhecidas, mas sem nenhum resultado prático. Já foi atribuída a gregos, babilônicos, egípcios, persas, judeus e chineses a invenção do jogo de xadrez. A verdade,  porém, é que foi o Hindustão a “pátria” de sua origem, onde apareceu com o nome de “chaturanga”, denominação esta que aludia as quatro armas (“anga”) de um exército, isto é, elefantes, cavalos, carros e infantaria. Difundiu-se aos demais países asiáticos e, mais tarde, para a Rússia, de onde atingiu a Escandinavia, a Alemanha e a Escócia. Realizava-se, da mesma forma que acontece nos dias atuais, entre dois competidores em um tabuleiro de 64 casas, com cada jogador dispondo de 16 peças de diferentes formas e movimentos, cabendo a um peças de cor clara (brancas) e ao outro de cor escura (pretas). A finalidade do jogo consistia, como ainda consiste, em colocar a peça mais importante do adversário, o rei, em situação de captura.

                Em pouco tempo, o jogo de xadrez converteu-se em verdadeira guerra de competição entre intelectos de um mesmo país e, ainda, entre “cobras” de nações diferentes. O espanhol Ruy Lopez de Sigura é considerado o primeiro analista moderno do jogo. Em sua obra “Livro da invenção liberal e arte do jogo de xadrez”, publicada no ano de 1561, explica as antigas e as novas regras do xadrez. O famoso “Café de La Régence”, em Paris, é o local onde floresce a escola francesa, sob o impulso de François André Danican (1726-1795), autor do livro “Analyse deséchecs”, que teria inúmeras edições e traduções. Enquanto isso, J. H. Sarrat torna-se o primeiro mentor da escola inglesa, cujo predomínio tem início como excepcional Howard Staunton, o qual vence, em 1843, o campeão francês Pierre Charles Fournié de Saint-Amant. Já a escola germânica encontra contradições especiais em Berlim, a partir do ano de 1830, destacando-se Ludwig Bledow e Bernard Horowitz. No fim do século XIX, o xadrez é dominado pelo grande jogador e teorizador austríaco Wilhelm Ateinitz. Nas primeiras décadas do século XX, ocupa o cenário o hábil mestre russo Alexander Alekhine. Como se sabe, foi no ano de 1972 quando se travou o famoso duelo entre os dois titãs do jogo de xadrez, isto é, Boris Spaski, da União Soviética, e Robert Fischer, dos Estados Unidos, sendo este último virtual vencedor do inesquecível embate.

                No Brasil, o primeiro torneio oficial de xadrez chegou a ser realizado no ano 1880. Mais tarde, foi criada a Confederação Brasileira de Xadrez, que, atualmente, congrega os clubes existentes em quase todos os Estados da União. Os enxadristas brasileiros têm participado, individual e coletivamente, em competições internacionais. (...)  No mundo inteiro o número de enxadristas ascende a mais de 5 milhões, mas existem apenas algumas centenas de jogadores profissionais, para os quais o xadrez é uma atividade permanente e recurso principal. O desenvolvimento do xadrez num número cada vez maior de países levou à criação da FIDE – federação do âmbito internacional, fundada em 1924, agrupando, no momento, quase 100 nações. Cabe a ela a arbitragem ou julgamento de certos litígios, inclusive a realização do campeonato mundial. (...). Distração e jogo de espírito, o xadrez tem sido considerado quase uma ciência, próxima da lógica, e também uma arte. Mais de 10 mil livros lhe foram dedicados, inclusive o mais lido: Inteligência! "

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(**)  por George Schpatoff em “Os Ideais da Justiça”,   1979, Editora Litero-Técnica, Curitiba, p. 117, 118 e 119

George Schpatoff   foi jornalista, escritor e cientista político. Nasceu na Bulgária e se formou em Jornalismo na Turquia. Radicou-se posteriormente no Brasil, onde dirigiu vários jornais e publicou mais de 10 obras. Faleceu em Curitiba, onde vivia, em 2003.