Enxergando talento, apesar do tormento!

Quando alguém fala alguma coisa, nós, os que estamos ouvindo podemos simplesmente ouvir, ou, dependendo de quem está falando, darmos certo alento ao que estamos ouvindo. Nesse caso levamos em consideração apenas os laços de ternura em termos de relação que exercemos com quem conversamos. Sucede que, raras vezes levamos em consideração as verdades do que está sendo dito. A conversa fica estremecida na frieza das relações entre o que se presenciou e o que é indiferente no mundo de quem nunca viu o que se está dizendo.

Essa lógica fez parte de minha vida no dia de hoje. Quando cheguei ao meu lar e tentei dizer para minha esposa que tinha visto algo maravilhoso que me encantou em termos de lucidez artística, ela não me deu a atenção que eu achava que merecia. Minha emoção era tamanha e tão grande, que não consegui descrever em palavras o que queria dizer. Simplesmente quis abreviar minha emoção, falando que tinha visto e ouvido três artistas que, para quem ouvia minha voz, que estava misturada com minhas emoções etílicas talvez não fossem tão importantes, afinal, eram frutos de observação incompleta, diante do senso comum da sensatez e da clareza das ideias. Ou melhor, era alguém que já tinha bebido um pouco querendo falar de algo concreto e sensato.

Assim, quando cheguei em casa tentei externar minha alegria. Fiquei frustrado por não conseguir expressar, com palavras, qual teria sido a dimensão de minha euforia quando ouvi um trio de artistas se apresentar num palco simplório, exibindo singular talento e tamanha desenvoltura artística capaz de tirar de meu olhos algumas lágrimas de empatia e de admiração.

O trio Canto a Três, se analisado pela simples palavra de um escritor, vai parecer estória de alguém que queira promover-se através de um domingo qualquer, quando não tinha nada para escrever. Quem pensar assim, jamais terá a oportunidade ver e ouvir o que vi e ouvi pelos meus próprios olhos e ouvidos. Se alguém for capaz de confiar na minha lucidez, posso afiançar, que faz tempo que não vejo em Campo Grande, especialmente nos shows de iniciantes, performance tão significativa e tão empolgante quanto a que vivenciei hoje ao assistir esse trio que, se alguém quiser me execrar que o faça pelas nossas origens, já que os artistas em questão também são de Amambaí.

Vamos aos que eles fizeram, para me deixar tão empolgado. Antes de eles aparecerem já corria o ‘zum-zum’ de que estaríamos diante de artistas de primeira. Eu imaginava que seriam mais alguns que, como artistas, iriam apresentar-se diante daquela performance que todos esperam, ou sejam, iriam tocar, cantar e, com isso, exibir músicas regionais que são frutos de nossa expectativa.

Até no repertório eles surpreenderam. Tocam, sim, chamamés e músicas regionais, mas, em estilo clássico, com o gabarito de um violão acústico refinado, com toques a lá Marcelo Loureiro. Superaram nosso artista de renome, já que além do repertório clássico, ainda exibiram vozes extraordinárias, através de um trio de vozes clássicas correntinas, variando entre o grave de duas vozes masculina e a sensibilidade de uma voz feminina. As letras, na maioria delas, de origem castelhana, deram um plus nostálgico do tempo em que os trios, ou os duetos castelhanos, vibravam os corações portenhos, através de interpretações bombásticas que superam a mesmice dos arranjos chamamezeiros.

Apaixonei-me de verdade! Até a interação com a galera presente foi uma demonstração de que aquele grupo está preparo para brilhar na mídia nacional. Não tenho pretensão nenhuma de ser o primeiro a dizer sobre a possibilidade de sucesso de desse trio maravilhoso. Aqui, sou apenas um testemunho. Sou alguém empolgado com a capacidade artística desses meninos de Amambai.

Eu vi aquele cabeludinho, magrelo, em certo momento do seu show, depois de largar o violão executado com maestria, apossar-se de um violino e, fazendo-se cego ante sua história de instrumento clássico, apegar-se às raízes da nossa história regional, para desenvolver acordes fronteiriços, produzindo música chamamezeira e estremecendo a galera presente que nesse momento só teve o trabalho de emudecer e vibrar com o coração, quando a dupla (casal), com microfones sem fio veio até o meio da galera para cantar e reproduzir música genuína.

Eu também via aquele terceiro que ficou no palco, com seu violão básico, segurando a barra das entrelinhas das músicas, com aquele rasqueado que, numa sequência poética, através das notas cantadas ao vivo, permanecia imponente no seu posto de maestro.

Ainda bem que Deus me deu o dom de escrever e de dizer sobre as minhas emoções. Não fosse por isso, aqui estaria eu tentando dizer para minha esposa o quanto vibrei neste domingão, mas, sem saber dimensionar o grau de minha euforia.

Tentei dizer em palavras, mas, não consegui. Ninguém se atenta para aquilo que o coração não viu. Talvez as palavras, apenas elas, possam dizer a dimensão do coração que bate forte. É exatamente isso. Chequei tentando dizer que havia visto algo lindo e maravilhoso. Não consegui. Disse que ia escrever tudo... Foi o que fiz...

Se você, caro internauta, ficou sensível com minhas palavras, aguarde que em breve sentirá a mesma coisa quando tiver o prazer de presenciar um show desse trio de anônimos, mas, que tenho certeza, em breve podem figurar como estrelas na configuração do cruzeiro estelar aqui da terra. Aguarde e veras...Não costumo exagerar no que digo, mesmo quando estou refém de alguns tragos...

O nome deles é: Canto a Três.

Detalhe: Não ganhei um tostão para fazer esses elogios. Acontece que, quando a gente, que não é dá imprensa empresarial vê algo bom e útil para somar no universo moral das pessoas, só nos resta divulgar e aplaudir.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 11/06/2012
Reeditado em 11/06/2012
Código do texto: T3718341