A gente não quer só comida

O público potiguar espera com ansiedade pelo show de Chico Buarque de Holanda, a ser realizado no Teatro Riachuelo nos próximos dias 28 e 29 de maio do corrente. Considerado como um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira, Chico Buarque ganhou notoriedade no cenário musical brasileiro nos anos 70, depois de vencer um festival com a música A Banda.

Jovem, tímido e dono de um par de belos olhos verdes, o artista revelou-se um compositor excepcional, conseguindo levar ao topo das paradas, inúmeras de suas composições como Modinha, Mulheres de Atena, Meu guri, Construção e tantos outros sucessos cantados por esse mundo a fora.

Muitas das suas composições, que expunham as mazelas do Brasil, foram proibidas durante o regime militar e ele também foi vítima do sistema: muitas de suas músicas foram censuradas. Várias delas, para serem aprovadas sem problemas, levavam um pseudônimo, ao invés do real nome do compositor.

A letra poderia ser a mais inocente possível, mas, ostentar o nome de Chico Buarque era motivo suficiente para sofrer veto. Hoje, graças a Deus, tudo isso é apenas parte da história.

Um fato, porém, chama a atenção e não pode passar despercebido aos nossos olhos em relação à apresentação de Chico Buarque de Holanda em Natal: trata-se do valor cobrado pelo espetáculo que chega a R$ 380,00. Considerando-se que o Salário Mínimo nesse meu País varonil é de R$ 622,00, fica claro e evidente que o show de Chico Buarque de Holanda não é para qualquer um, e muito menos para a classe trabalhadora do Estado.

Longe de mim insinuar que uma apresentação do artista não valha essa quantia; mas é que o valor do ingresso fica realmente fora da realidade de um trabalhador assalariado que também deveria ter acesso à cultura através de espetáculos musicais.

Talvez o cantor nem saiba, mas existem trabalhadores no Rio Grande do Norte, que sequer chegam a ganhar um Salário Mínimo no final do mês. Aqui, na terra de Luiz da Câmara Cascudo, desafortunadamente, o Salário Mínimo é um valor extremamente real e não apenas um número de referência para a realização de alguns cálculos, conforme ocorre em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, entre outras regiões do País.

Para algumas famílias residentes no RN, ganhar a importância de R$ 622,00 significa garantir, com muito sofrimento, a sobrevivência da família, dando-lhe o mínimo possível. Quem sobrevive com esse valor tendo que pagar alimento, aluguel, transporte, vestuário, educação, medicamentos e todos os demais itens necessários à sobrevivência humana, não pode se dar ao luxo de pagar um show no valor de R$ 380,00.

Fica claro, portanto, que a cultura não é um produto de primeira necessidade para o povo brasileiro, em especial para os potiguares menos afortunados e que contam com o mínimo para sobreviver.

Lembrando que há poucos meses, o ex-beatle Paul McCartney realizou um show em Recife, cujo ingresso custou R$ 50,00, não podemos deixar de fazer alguns questionamentos: por que será que um sujeito vindo da Inglaterra cobra mais barato para fazer uma apresentação, do que um brasileiro que vem do Rio de Janeiro? O que será que a voz de Chico Buarque tem de diferente para merecer um ingresso quase oito vezes superior ao cobrado por Paul McCartney?

Chico Buarque que me desculpe, mas com o valor cobrado para assistir ao seu show, qualquer potiguar pode comprar uma passagem no trecho Natal/São Paulo no valor de R$ 315,00 e ainda ficar com um troquinho para comprar um monte de bugigangas no comércio da rua 25 de março, inclusive um CD dele, para escutar até ficar com dor de ouvido.(26/mai/2012)