O desvio espaço-tempo dos romances distópicos
O que de libertário existe na ficção científica? A ficção científica se presta a uma abordagem underground ou fora dos padrões do status quo? Á parte os futurologismos da literatura de ficção científica que fizeram-na uma das maiores profetizas dos estilos de vida e cultura no que tange à tecnologia e modos de vida nunca antes vista, muitos anos antes de acontecerem realmente, a ficção científica tem um viés extremamente atrelado à sociedade de consumo e à produção do consumo como um todo. Digo isso porque, depois de Matrix, o filme dos irmãos Wachowski, se tornou moda reportar-se à ficção científica de Matrix como abertura de mundos e à cessação de ilusões (literalmente) da cultura de consumo. Porém há que colocarmos as coisas no seu devido lugar, uma ficção de cunho distópica (como Matrix, por exemplo) não é a clássica aventura de ficção científica que conhecemos, como a série Perry Rhodan; 2010, Odissey two de Arthur C. Clarck ou até Viagem à Lua de Júlio Verne. Trata-se de um mundo mais próximo de uma aventura pós-apocalíptica como Mad Max ou de um futuro cyberpunk como Blade Runner. Nessas realidades, “as coisas deram errado” e o que é corrente foi parar num desvio espaço-tempo, em geral, aberrante e fora dos nossos padrões de real.
É o futuro de 1984 de George Orwell ou de Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley. Pois muito bem, não é que o “filão das distopias” agora está nos brindando com novos títulos de novos autores que não se fazem de rogados e se colocam como a nova onda de literatura de entretenimento?
A economia se desmaterializando em signos e símbolos culturais não é mais ficção científica nem futurologismo, é o aqui e o agora de 2012 que se coloca para todos nós, o status quo, mais uma vez, abarca os seus pequenos desvios de underground e os vomita de volta na nossa cara, na própria literatura – ó baluarte da cultura erudita o que fizeram de ti? Desde que o Grande Irmão (Big Brother) se tornou designação para programa de reality show da TV, o que se poderia esperar da pequena literatura dita especulativa dos modos de vida no futuro?
Mas, como diria Robop, no clássico policial futurístico dos anos 1990, “eles consertam tudo” e o nosso imaginário sempre será recheado de histórias como a do Vingador do Futuro em que sonhos se revelam pré-programações compradas para se viver uma vida de aventuras em Marte.
Os temas em questão, foram destrinchados ao máximo com autores como William Gibson (Neuromancer e Count Zero) e John M. Ford (Fugue State e The Dragon Waiting) que ofereceram-nos grandes obras de literatura, levando o signo a voltar-se para o daydream (o mecanismo de controle da imaginação) das massas para a vida cotidiana das populações em geral.
Agora novo ciclo de autores vem à carga. Diga o leitor, se estiver disposto, de que estofo é feita a nova ficção de romance distópica e se vale a pena lê-la!
Publicado no site No Mundo e Nos Livros:
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