As cartas de Tarot e o terreno do imagético
As cartas de Tarot tradicionais, como o Tarot de Marselha e o Tarot Iniciático possuem ricas ilustrações em suas lâminas. A correspondência entre os significantes (imagens) e os significados (conteúdo textual) das lâminas, a interpretação e a apreciação dessas lâminas pode ser clara como água para muitas pessoas, mas sempre há lugar para o inusitado e para o imponderável.
Quando olhamos a figura do Mago na carta 1 do Tarot de Marselha temos a exata medida do que é o nosso arcabouço de imagens versus a imagem que representa aquilo que sabemos, aquilo que conhecemos da figura do mago. Essa complementariedade deve ser total na ilustração e é, porque temos a mesa virada para nossa frente, numa perspectiva expressionista e o horizonte à vista, ao mesmo tempo, tudo está à mostra, os objetos do mago, a taça, a lâmina, o pentáculo, o cetro e o horizonte com suas infinitas possibilidades. Os contrastes tonais da luz numa composição dão a tônica e perfazem o caminho visual que temos que percorrer ao olhar para uma determinada peça de arte visual. Assim é, na lâmina O Mensageiro, carta 1 do Tarot Iniciático, na qual o mensageiro carregando um cetro e montando um cavalo branco, surge das sombras, deixando o cavalo com a maior luminosidade.
Dentre os muitos usos que o Tarot pode sustentar, apelo para aquele que o coloca como suporte na criação artística com conteúdo místico ou egrégora do terreno imagético. Pessoalmente, faço uso do Tarot de Marselha e do Tarot Iniciático. As cartas dispostas em pares: 1. O Mago – 0. O Andarilho, 2. A sacerdotisa – 21. O Mundo, 3. A Imperatriz – 20. O Julgamento e assim por diante, se complementam. A observação dos pares exercita a capacidade de sentir a unidade na dualidade e torna a criação artística prenhe de possibilidades. Essa disposição é, também, a mesma utilizada pelo autor das imagens das lâminas do novo Tarot de Thot e é uma disposição característica para a realização das lâminas.
As cartas de Tarot são instrumentos da arte da adivinhação e, como tal, são manipuladas por artistas, os intérpretes das cartas. Assim também, as artes visuais tem que ser manipuladas por artistas da imagem e o talento não presta verdadeiros serviços enquanto não for cultivado. Cultivar o talento significa elaborar conceitos e significados que preencham a criação artística enquanto prática do realizar, desse modo, as cartas do Tarot podem ser de grande valia para o artista que nelas se debruça em busca do místico das imagens, da egrégora das imagens.
Publicado no site No Mundo e Nos Livros:
http://www.nomundoenoslivros.com/2012/03/as-cartas-de-tarot-e-o-terreno-do.html