Revolução da Vulgaridade
Eu assistia a um programa de televisão, quando minha atenção foi severamente atraída para uma reportagem na qual uma mãe tinha perdido a guarda da filha por ter cometido um erro aparentemente simples: aplicado – ela mesma – botox no rosto da criança de apenas oito anos. A reportagem seguiu mostrando outras crianças que, cada vez mais cedo, tornam-se consumidoras compulsivas e bastante preocupadas com a beleza física. Certamente, essas crianças precocemente atraídas pela vaidade são o resultado de uma cultura midiática que supervaloriza as mulheres melancias, peras, morangos entre tantas outras siliconadas...
É perceptível que vivemos hoje um momento de crise moral, ética e, acima de tudo, da interioridade humana que vai se perdendo ainda mais a cada grito de mulheres superpopozudas: essas que nem parecem reais, que se apresentam como se fossem produzidas em laboratório, tipo experiência científica. Elas gritam: “só as cachorras, só as preparadas, só as popozudas, velocidade cinco aí DJ”; enquanto mexem suas superbundas, porque na verdade se consideram supermulheres, especiais, desejadas por todos os pênis-espectadores simples e raquíticos: homens como eu, por exemplo.
A banalização daquilo que é belo direciona a mulher a desejar uma imagem, que para a maioria das brasileiras, é impossível de se alcançar, sem se submeter aos laboratórios e tratamentos que prometem transformar “gatas borralheiras” em “cinderelas” artificiais. Ou não é isso que vemos no dia-a-dia? Tratamentos e cirurgias, além de vários produtos, que prometem transformar o corpo indesejado naquele corpo arrasa-quarteirão. São nessas mulheres turbinadas que nossas meninas e mulheres se espelham, nessa salada de frutas, mulheres esteticamente perfeitas e moralmente imundas.
Pois bem, caro leitor, confesso que tenho saudades da época em que as mulheres se contentavam com seus corpinhos lindos e simples, porém, cheios de respeito e ética, quase intocáveis. Esses, sim, eram corpos de deusas por sua beleza e ingenuidade: muitas vezes até, intangíveis, quando não, tidos com muito respeito e carinho. Essas eram as mulheres para se acompanhar tomando um bom vinho, falando sobre literatura, artes ou apenas ter uma simples e boa conversa na praça; e não mulheres vazias, sem conteúdo proveitoso, com conversas do tipo: não fiz minha unha hoje, ou preciso mudar a cor do meu cabelo, além de outras milongas mais sobre seu corpo e sua mediocridade.
O corpo, utilizado como linguagem, pode inclusive ser interpretado como um dos traços de determinada cultura. Sendo assim, nossa identidade brasileira está altamente caracterizada pela vulgarização da beleza e opressão da moral, da ética, do respeito, do carinho e de todos os atos honestos e caretas...
Quer dar? Dê-se ao respeito. O primeiro beijo é na mão.