Palcos da Música Erudita
Aos interessados em música erudita nos tempos atuais necessário que se encontrem em grandes centros [normalmente capitais] ou que acessem canais de televisão [abertos ou fechados]. Esta constatacao leva a conclusão de que o acesso a esse estilo musical [sinfonia, ópera, câmera, camerata e solo] encontra-se dificultado, em razão da pouca difusão. Inclusive, o acesso a material de apoio, como livro, revista, CD e DVD, também é dificultado [em que pese a aquisição pela internet], destacadamente porque a comercialização desses produtos acompanha as apresentações que ocorrem nos grandes centros.
Mesmo nos grandes centros o acesso é dificultado pelos valores das apresentações, eis que predominantemente sao onerosas, em que pesem algumas exceções referentes as apresentações em espaços públicos, as quais objetivam a exposição aos futuros adeptos desta manifestação cultural [iniciação] ou aos que aproveitam, inerentemente, a gratuidade. Portanto, mesmo nas capitais o acesso, predominante, e elitizado, primeiro aos que compreendem esta versão cultural, e, segundo, de modo concomitante, aos que podem manter o necessário investimento, seja avulso ou por meio de assinatura.
Interessante observar, historicamente, que nem sempre o acesso foi elitizado. Na realidade, a fase embrionária da música erudita era popular, promovida pela igreja, como meio basilar de manifestação religiosa. E mais, a igreja promoveu os primeiros grandes compositores, musicistas e regentes da música erudita. Por exemplo, a música medieval como o canto gregoriano; a renascentista com os corais ou policorais, destacando-se os madrigais; e a barroca com as óperas de oratórios [histórias extraídas da biblia]. Nestas três fases históricas tem-se a música como base essencial do dia a dia das igrejas e especialmente nas comemorações de datas específicas como o dia de santos, Páscoa e Natal. Dia a dia destinado a sociedade, de modo gratuito. Gratuidade persistente, ainda que os nobres tivessem o direito de se sentarem, enquanto o povo mantivesse-se a distância em pé nos fundos da igreja. Esta relação de ordem social, constatada é pelas cartas de Cláudio Monteverdi, quando vinculado a Igreja de San Marcos, em Veneza, ou Antonio Vivaldi quando vinculado ao Ospedale della Pieta, na mesma cidade. Funções estas que eram exercidas de modo reiterado e remunerado pelos compositores e musicistas da época.
No âmbito da música erudita, através da música clássica, tem-se a transferência, até como rompimento com a tendência anterior, do incentivo e patrocínio da igreja para a nobresa. Em que os artistas passam a prestar serviços a determinada família de nobres, de modo exclusivo, ou por encomenda [Haydn, Mozart e Beethoven]. Deste modo, as apresentações públicas e gratuitas cessam e reduzem-se, portanto, vê-se restrita aos nobres, especificamente para casamentos, aniversários e recepções.
Outra situação que esclarece a transferência e o quase abandono, pelos compositores da época, dos temas espirituais, voltando-se aos assuntos cotidianos e edílicos. Em razao do sentido libertário da sociedade e da nova concepção social de que o homem torná-se o centro das atenções. Destaca-se a fase, da música erudita, romântica e moderna. Diante da nova concepção cultural a igreja desmotivou-se a contratar e remunerar a música como elemento essencial de suas atividades religiosas. Compositores como Schumann, Liszt, Brahms, Stravinsky, Prokofiev, Debussy, Schoenberg e Ravel passam a ser contratados por teatros, gravadoras, radios e estudios cinematograficos.
Hoje, como forma de aumentar o público interessado em música erudita, como manifestação cultural, independente de classe social, os grandes centros oferecem apresentações gratuitas ou a preços populares. Além disto, busca aproximar-se deste público por meio da instrução em música erudita. Instrução que envolve a compreensão sobre compositores, composições e instrumentos. Isto porque reconhece-se que o "conhecer" é necessário a absorção como manifestação cultural e a divulgação deste estilo musical.
Interessante que os grandes centros por meio de suas fundações, orquestras, câmeras e cameratas, coloquem-se, principalmente, perante estudantes do ensino fundamental e medio, para que estes, naturalmente, tornem-se ouvintes de música erudita, tornando-os o novo púbico consumidor. Consumo este que envolve o desenvolvimento artístico, intelectual, espiritual e social. Recomenda-se que esta sistemática seja adotada pelos programas brasileiros de música erudita, como o faz a Orquestra Sinfonica do Estado de São Paulo e a Orquestra Sinfônica do Paraná, exemplos de sucesso na aproximação com as diversas classes sociais.