O Brasil ficou mais triste, neste mês de março que termina. Perdemos dois gênios, duas figuras ímpar da cultura nacional, o mestre do humor Chico Anysio e o mestre Millôr Fernandes. Mas o Brasil não ficou somente mais triste, ficou também menos colorido.
Das multifacetas de um humorista que se fazia de mais de duzentos personagens, às escritas e ilustrações de um artista que tinha como marca principal sua capacidade de interagir e mudar onde quer que se aventurasse, o Brasil ficou órfão de duas grandes figuras públicas.
Chico Anysio destacou-se muito jovem na carreira artística e logo estava atuando ao lado de grandes nomes do rádio e da televisão como Paulo Gracindo, Grande Otelo, Jô Soares, Agildo Ribeiro e outros tantos que marcaram a história da cultura brasileira. Chico foi o humorista que falava a linguagem do povo através de seus inúmeros personagens, que fazia cada um de nós, lembrasse de alguém parecido ou por que não, até nós mesmos em nossas excentricidades. Chico incomodou o regime de pressão daquelas épocas sem liberdade, épocas reprimidas pelo medo, quando interviu na situação de Caetano e Gil. E Chico Anysio criticou, alegrou, atuou, dublou, compôs, pintou, escreveu e conduziu o humor de nosso país. Mas Chico cansou... e sua saúde não ajudou e Chico nos deixou, uma pena. Mas o maior legado de um homem, o qual bons frutos se colhem pelas sementes de bem que semeou ao longo de sua jornada, está ai como exemplo na história deste homem que saiu da vida pra tornar-se mito.
Millôr Fernandes, que poderia ter sido Milton se não fosse um erro de registro de nascimento, mas que não poderia ter sido diferente a sua trajetória de vida cultural, intelectual e de uma clareza de pensamento que só os grandes gênios conseguem ter, como Aisten, Dimitri Mendeleev, Mozart. Millôr também começou jovem a sua escrita na nossa cultura brasileira, lá na saudosa “A Cigarra” dos anos 30 do século passado onde foi ganhando espaço quando venceu um concurso de contos. Fundou “O pasquim”, um marco para imprensa brasileira, escreveu prosa e na prosa voou feito gaivota livre, deixou sua marca de crítica e sobreidade de um homem muito além de seu tempo. E Millôr então se completou em seus desenhos lúcidos de um humor que dizia muito mais do que aquilo que víamos de imediato, onde retratava de maneira singular, tudo aquilo que gostaríamos de dizer numa sociedade em que cada vez mais tem seus verdadeiros valores ultrajados.
E agora como ficamos, sem a alegria de Chico? E agora como ficamos, sem o colorido de Millôr? Deve ser por isso que o céu está com um azul mais “colorido” e feliz, deve ser.