Música em tempos de Guerra e de Paz - O início da era Marin Alsop

MÚSICA EM TEMPOS DE GUERRA E DE PAZ –

O INÍCIO DA ERA MARIN ALSOP

No último dia 08 de Março iniciou-se a temporada 2012 da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, sob a Direção Artística de Arthur Nestrovski e regência titular de Marin Alsop com a temática Música em Tempos de Guerra e de Paz. Temporada esta que envolverá 35 semanas de concertos, 124 apresentações, 80 regentes e solistas convidados, Coros e conjuntos de Câmaras da própria OSESP, projetos educativos da Fundação OSESP, uma série significativa para um compositor transversal, pela primeira vez a presença de um artista em residência, a primeira encomenda internacional e a contratação, por cinco anos, de Marin Alsop, como regente titular, e de Celso Antunes, como regente associado.

Marin Alsop assume a função com a expectativa, em razão de seu histórico, destacadamente, como Diretora Artística da Sinfônica de Baltimore e as regências que executa pelo mundo, de oferecer à OSESP uma sonoridade própria, consolidá-la na vida dos paulistanos, através de uma maior democratização por meio do uso das novas mídias, especialmente, a internet, e inseri-la internacionalmente.

O que surpreende efetivamente no perfil profissional da regente e que, automaticamente, gera grande entusiasmo aos que amam música erudita no Brasil, é a aproximação que ela promove do público com a realidade desse estilo musical e artístico. Em Baltimore, por exemplo, ela se dirige à platéia para falar sobre a música que rege, promove atividades educacionais com crianças e jovens estudantes e mantém em seu site pessoal (www.marinalsop.com) e no da Sinfônica de Baltimore (www.bsomusic.org) uma série de informações sobre o programa executado através de vídeos explicativos.

O início da temporada incluiu o lançamento do Compact Disc com a Sinfonia n. 5 de Prokofiev e O Ano de 1941, ambos sob a regência de Marin Alsop conduzindo a OSESP em apresentações que antecederam a temporada 2012. Os freqüentadores da Sala São Paulo ainda tiveram a oportunidade de um contato maior com a regente, eis que ela ficou à disposição para autógrafos em três oportunidades.

Para os que tiveram o privilégio de assistirem a uma das quatro apresentações inaugurais ou mesmo o ensaio geral, constatou-se o ânimo dos envolvidos, desde a Direção até os músicos, e a empolgação e o absoluto comprometimento da regente com a OSESP. Comprometimento este espelhado na abertura do site oficial da regente através da citação “Brazil is currently undergoing an economic and cultural revival and I look forward immensely to both contributing to and to being part of that in the future”.

O ensaio geral, em que pese aberto ao público, demonstrou, sem maquiagens, o entrosamento entre a compositora Clarisse Assad, os músicos e a regente. Em que a primeira manteve constantes diálogos com os envolvidos sobre suas intenções explanadas na partitura. Este ensaio mostrou-se interessantíssimo pelo fato de nem sempre ter-se a oportunidade de se apresentar música de compositores vivos. Empolgante ter visto a compositora com partitura em mãos conversando com músicos e experimentando a sonoridade dos instrumentos.

Quando, efetivamente, do primeiro concerto de abertura da temporada, o qual se dividiu em duas partes, teve-se a sensação de surpresa constante. A composição Terra Brasilis – Fantasia Sobre o Hino Nacional Brasileiro, da jovem e telentosa brasileira Clarisse Assad, empolgou com trechos do Hino Nacional intercalados com tarantela e, destacadamente, com o ritmo espanhol. O Concerto n. 22 de Wolfgang Amadeus Mozart, de 1785, destacado foi pelo solo ao piano de David Fray, uma verdadeira apresentação teatral do francês.

Quando da segunda parte, a performance oferecida à Sinfonia n. 5, de Dmitri Shostakovich, de 1937, balançou as estruturas da Sala São Paulo. Seja pelo histórico opressivo, político e culturalmente, suportado pelo compositor, perceptível nos quatro movimentos; seja pela sonoridade alcançada pela orquestra; e seja pelo vigor físico da regente.

Sala São Paulo lotada, público aplaudindo reiteradamente e comentários elogiosos nos corredores. Resta, neste momento, parabenizar a Fundação OSESP, a orquestra e sua regente. Quanto a esta, um detalhe não escapou dos olhos e ouvidos mais atentos da Platéia Central: ao final da apresentação de David Fray, no sábado, este ao cumprimentá-la escutou da regente “Do you are good?”. Ou seja, uma verdadeira demonstração do comprometimento e atenção de Marin Alsop para com o seu trabalho. Seja muito bem vinda.

Patrícia Luciane de Carvalho. Professora de Direito Autoral.