PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO-CULTURAL TOMBADO
                                              Sérgio Martins Pandolfo*
  
     Cidade sem passado é cidade sem futuro. Nesta capital da Parauaralândia inúmeros bens tombados pelo Patrimônio Público vêm tombando pelo descaso do Poder Público e mesmo do público em geral. Às vésperas de completar seu quarto centenário, Belém que fora a primeva atalaia do Norte, recebeu edificações para abrigar uma das sedes da Coroa Portuguesa, consoante planos aventados havia séculos e que o Marquês de Pombal, ministro plenipotenciário de D. José I, houve por bem retomar e levar adiante a partir de 1750: transferir a capital do Império Português de Lisboa para suas duas colônias da lusamérica, o Estado do Brasil e o Estado do Grão-Pará e Maranhão. Belém era a capital deste último e fazia-se mister dotá-la de edificações à altura da importância que o reino português desfrutava, advindo dessa época o Palácio dos Governadores, a dignificação da Sé, a requalificação do Colégio dos Jesuítas (hoje Museu de Arte Sacra) com sua monumental e apegada Igreja de São Francisco Xavier (ora de Santo Alexandre), o Hospital Real (Casa das Onze Janelas agora), todas obras da lavra ou da intervenção magnificadora do genial arquiteto bolonhês Antônio Giuseppe Landi, aqui chegado em 1753 compondo missão multiprofissional de alto nível para cá enviada a fim de promover a delimitação das terras dos dois reinos ibéricos: Portugal e Espanha.
     Contam-se dessa época, ao demais, inúmeras outras edificações da mais elevada dignidade e importância histórica, máxime no âmbito religioso, tais as igrejas de Santana, de São João Batista, das Mercês, do Carmo, as capelas do Senhor dos Passos (Capela Pombo), da Ordem Terceira de S. Francisco da Penitência e do Convento de Santo Antônio (ora colégio homônimo), a capelinha em genuíno rococó francês do Palácio dos Governadores e as ruínas da capela de N.Sra. da Conceição, na área do engenho do Murutucu (este não mais existente), pertencente já ao próprio Landi que lá finou-se.
     O mestre deixou-nos igualmente farto conjunto arquitetural no segmento civil, do qual sobressaem os precitados Palácio dos Governadores e a Casa das Onze Janelas e a que podemos acrescer, por ainda subsistirem, residências erigidas para amigos e clientes, tais: a Casa Rosada, o soberbo prédio esquinado pelas ruas Conselheiro João Alfredo e Frutuoso Guimarães e o imponente palacete erguido para seu sogro, ocupando a esquina formada pela travessa D. Bosco e a rua Dr. Assis, conhecido  como “Palacinho”, a cujo canto vivo está apenso um “marco fálico”. Todos imóveis de elevada distinção arquitetural e magno valor histórico-cultural que remontam ao século XVIII.
      Das centúrias seguintes salientam-se, em especial, os surgidos durante o fastígio gomífero (da borracha) e os da intendência Antônio Lemos, tais: O Theatro da Paz, os palacetes Bolonha e Pinho, o Corpo de Bombeiros e o Asilo de Mendicidade, o complexo do Ver-o-Peso, o Palacete Azul (Palácio “Antônio Lemos”), o prédio de “A Província do Pará” (ora IEEP) o porto cpm seus armazéns e muitos outros relativamente bem conservados ou carentes de alguma intervenção revivificadora. O problema se revela quando tentamos repertoriar inúmeros outros monumentos de real valia que tombaram, seja por ação deliberada de administradores insensíveis (Grande Hotel, caixa d’água de ferro, Fábrica Palmeira, a estação de trens de S. Braz, o Hospício são exemplos) ou por intervenção delituosa de “herdeiros” que os mandam demolir à socapa ou lançam mão do processo vil de retirar as calhas dos telhados para que as águas torrenciais de nossas chuvas equatorianas, agindo sobre paredes pelo geral de taipa, as façam tombar literalmente, malgrado o tombamento patrimonial. Nessa crítica situação encontram-se prédios de subida importância histórica, cabendo elencar alguns: o Palacete Faciola, a antiga sede da União Beneficente dos Chauffeurs do Pará, o casario “belle époque” da travessa Leão XIII, o Edifício Bern e tantos outros que urge requalificar.
-------------------------------------------------------
Foto: o majestoso prédio do Grande Hotel, legítimo representante da belle époque, de traça e edificação europeias, posto abaixo pela incúria administrativa de governantes desalinhados com a importância que detinha esse esplêndido imóvel, coevo do Copacabana Palace do Rio de Janeiro
--------------------------------------------------------------------------------
*Médico e escritor.  Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES sergio.serpan@gmail.com - serpan@amazoncom.br - www.sergiopandolfo.com
Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 09/03/2012
Código do texto: T3544326
Classificação de conteúdo: seguro