O Massacre em Angicos

O lampião está aceso submerso as caatingas dos sertões nordestinos, fazendo “jus” ao pensamento do escritor Euclides da Cunha “O sertanejo antes de tudo é um forte”, sobrevivendo à seca, à caatinga, e aos mistérios da mata sertaneja, um homem enigmático e místico chamado popularmente por “Lampião”, uma alcunha na pessoa de Virgulino Ferreira da Silva percorrendo em outro mistério obscuro das caatingas.

A bandeira a ser levantada no ano de 1938 era o sonho dos sertanejos, ou melhor, de alguns sertanejos mesmo na maioria. Há quem goste de um cangaceiro, de um bandoleiro? Sim, até o perdão merece como assim o fez padre Cícero Romão Batista. Mas um bandido ao nível de Lampião com tantos crimes cometidos possuía fé em Deus? Sim, os historiadores relatam que essa figura temida do sertão respeitava os religiosos e respeitava as “coisas sagradas”.

Eis controvérsias acerca da personalidade desse cangaceiro onde emana uma reflexão: Na letra da música “mulher nova, bonita e carinhosa” há uma estrofe que suscita um debate, confronta teorias. A estrofe explicita: “Virgulino Ferreira o Lampião, bandoleiro das selvas nordestinas, sem temer a perigos nem ruínas, foi o rei do cangaço no sertão; mas um dia sentiu no coração, o feitiço atrativo do amor, a mulata da terra do condor, dominava uma fera perigosa”, Com tantos crimes cometidos, ele sentiu amor? Que tipo de amor é esse impetrado em uma figura bandoleira? Eis a questão, uns há que diga que fora “herói” outros afirma que fora um “bandido” e nunca se chega a uma verdade.

Houve combates em vários territórios nordestinos, os crimes iam se acumulando em boletins de ocorrência e aumentando em sua quantidade, a justiça não conseguia conter o cangaceiro Virgulino, não me refiro ao bando de cangaceiros por que foram mortos vários seguidores de Lampião, me remeto à Virgulino Ferreira, “o bandoleiro das selvas nordestinas” que resistia e se mantinha vivo.

No dia 28 de Julho de 1938 como data a história, em uma fazenda chamada Angicos, situada no sertão de Sergipe, ocorre a morte do cangaceiro Virgulino Ferreira e alguns de seu bando, o chamado “massacre de angicos” praticado pela “ volante” ,ou seja, pelos policias da época quando surpreendeu os cangaceiros em descanso. Não é de se admirar, a justiça praticou a injustiça, não teve outra opção de conter as ações do bando. Conta a história que “a volante chegou tão de mansinho que nem os cães pressentiram.”

Sobre a questão espiritual de Lampião, ninguém pode comentar, nem mesmo os chefes de religiões, mas podemos levantar suposições: Será que Pe. Cícero Romão Batista vai interceder a Deus pela salvação de Lampião?

O escritor e jornalista José Neumanne Pinto como um de tantos, escreveu sobre Lampião e o massacre de angicos colocando em contextualização e intertextualização a guerra de canudos. È mais um mistério sobre o obscuridade do cangaço nordestino e o ano de 1938.

Candaceiros e Fanáticos

A espada solar de Virgolino

E o cajado lunar do conselheiro

A seca que vem

A vida que foge

O punhal mais frio de Corisco

E a palavra quente de Romão Batista

Primeiro foi o rifle

Ou primeiro foi a mão?

Primeiro o rosário

Ou primeiro lampião?

Abaixo da terra

Acima do céu

A flor de sangue em Canudos

A folha da fome em Angicos

Poema extraído do livro “Solos do Silêncio” de José Neumanne Pinto.

A figura do cangaceiro Lampião assevera à ética, moral e religião, podemos concluir que ele não entrou em anuência com a ética, mas sua moralidade foi a melhor possível, restando à sabedoria popular condená-lo ao inferno e poucos absorvê-lo e exaltá-lo nas obras de literatura, sejam em cordéis ou romances, mas do analfabeto ao bacharelado, do tolo ao sábio, permanece exaltado uma mesma figura em heterogêneas cosmovisões: o Lampião dual, herói e bandoleiro.

Geraldo Neto
Enviado por Geraldo Neto em 19/02/2012
Código do texto: T3507682
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