ESTILO JESUÍTICO
No volume V da Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1941, Lúcio Costa, um dos Arquitetos da construção de Brasília, publicou um longo artigo, com mais de 100 páginas, sobre a arquitetura jesuítica no Brasil. E, quando se fala sobre arquitetura, arte ou estilo jesuítico, tem-se em mente o estilo barroco. O estilo artístico predominante no período colonial brasileiro. Para Lúcio Costa, “deve-se entender por barrocas, dentro do critério histórico habitual, a maior parte das manifestações de arte compreendidas entre a última fase do Renascimento ( séc. XVI) e o novo surto classista de fins do século XVIII e, no Brasil, princípios do século XIX”. Para o Autor, é incorreto reduzir a amplitude do barroco simplesmente a uma “arte jesuítica”. Mas existe uma razão para isto, pois a Ordem dos Jesuítas surgiu nos fins do Renascimento, quando os primeiros sintomas do barroco já se faziam sentir. Inclusive, a “igreja mãe” do estilo barroco é a Igreja do Gesú, em Roma, onde morava o Fundador da Companhia de Jesus, Inácio de Loyola. O estilo barroco se desenvolveu, principalmente, nos países de línguas latinas e suas colônias. O barroco não é apenas um estilo de arte, mas, muito mais, um estilo e uma compreensão de vida. Desta forma, podemos caracterizar o poder político predominante entre os séculos XVI e XVIII como “ poder barroco”. Palácios e outras construções eram barrocas. A música, a dança, as festas, a cultura, em geral, eram barrocas. Também as músicas sacras e as cerimônias religiosas eram barrocas. A literatura era barroca. Para verificar isto, basta ler os Sermões de Antônio Vieira. As colônias portuguesas e espanholas são riquíssimas em testemunhos barrocos. Dali a riqueza barroca no Brasil, com destaque para Minas Gerais, Bahia e Pernambuco. A denominação do barroco como “estilo jesuítico” condiz, de certa forma, com a época histórica, e com o surgimento da Ordem dos Jesuítas, uma Ordem Religiosa da Contra-Reforma. Assim, o barroco também é caracterizado, às vezes, como uma arte da contra-reforma. Predominam, na época, os reis com poder absoluto. Exalta-se o poder absoluto do Papa, a quem se deve obediência sem restrições. O conceito barroco de Deus exige que os homens se prostrem de joelhos em seus templos. Por isto, a disposição psicológica que se tem, quando se entra numa igreja barroca, é prostrar-se envolto pela grandiosidade da arte, da música e do cerimonial. A grandiosidade do poder sagrado exige do homem a sua submissão, lembra-lhe os seus pecados, a sua insignificância. E diante de tal grandiosidade o homem é levado a se arrepender, a confessar seus pecados, e a temer a condenação ao inferno. Assim, incute-se nos fiéis mais o temor de Deus do que o seu amor. Mas, sem dúvida, a arte barroca ainda hoje nos impressiona em muitos sentidos: sua beleza, sua grandiosidade, sua capacidade de inspiração. Além disto, conhecendo suas características e seus objetivos, entenderemos melhor o estilo de vida das gerações que viveram durante os séculos que produziram as maravilhosas obras destas épocas. Infelizmente, muitos responsáveis pela cultura em nosso país não sabem dar o devido valor às obras barrocas que nos cercam. Também em Pernambuco não existe uma suficiente consciência para a conservação de nossos monumentos barrocos: igrejas, esculturas, etc. Ainda falta muito ao setor turístico para dar o devido valor a tanta arte, muitas vezes, em processo de deterioração no Recife, em Goiana e em outras localidades do Estado. Um potencial turístico inestimável. Pena, tão pouco valorizado.
Inácio Strieder é Professor de Filosofia - Recife- PE.