SAMBA PAULISTA E SUA HISTÓRIA - QUANDO O BATUQUE PEDE PASSAGEM PARA O CARNAVAL

PREFÁCIO

Tudo começou quando eu estava ouvindo a Usp FM em um domingo à tarde, um programa musical sobre sambas. Diante de tantos sambas tocados, um deles chamou-me a atenção:Silêncio no Bixiga de Geraldo da Barra Funda uma homenagem póstuma ao grande Maestro de bateria da Vai-Vai,Pato N'Água, encontrado morto em uma lagoa em Suzano em uma manhã de 1969. Curioso busquei efetuar uma pesquisa na internet e descobri coisa fantásticas sobre o Pato N'Água e sobre o samba paulista e peço licença aos autore das matérias para publicá-las aqui no Recanto das Letras.

FONTE DE PESQUISA

(piraporadobomjesus.sp.gov.br › História)

O Samba Paulista Nasceu em Pirapora

Bumbos e Batuques de Pirapora Fundaram o samba Paulistano. Se a definição de onde nasceu o samba no Brasil alimenta há anos discussões acaloradas, entre baianos e cariocas, é mais licito reconhecer que as origens do samba estão relacionadas aos batuques e manifestações festivas rurais ligadas aos primeiros Afros Brasileiros, que Habitavam as povoações das regiões Brasileiras.

Por onde andaram os Africanos e seus descendentes o ritmo os acompanhava fruto da herança cultural da Mãe África. Se acompanharmos o fluxo migratório dos Afros descendentes no Brasil, fica clara a presença de diversos tipos de samba, de Norte ao Sul do país. O Município de Pirapora do Bom Jesus faz parte importante desse fenômeno migratório do Samba, que foi decisivo para caracterização do Samba Paulista.

Na década de 1930, os estudos sobre a cultura popular desenvolvidos por Mario de Andrade, já o levaram a Pirapora do Bom Jesus, com o intuito de registrar esta manifestação cultural popular que era o samba de roda de Pirapora, uma vez que guando menino já era levado pelos pais á festa do Bom Jesus. O intelectual registrou em seu texto “O Samba Rural Paulista” de 1937, que na termologia dos negros que observei a palavra samba tanto designa todas as danças da noite como cada uma delas em particular. Em 1933 os negros falavam indiferentes samba ou batuque. A palavra ainda designa o grupo associado para dançar sambas.

O motivo que tornou Pirapora do Bom Jesus um ponto de encontro espontâneo e não oficial, de batuqueiros de diversas regiões do estado de São Paulo que viam para as festividades do Sr. Bom Jesus de Pirapora, o santo milagroso sempre trouxe grande numero de Romeiros e demais visitantes ao Município. No começo, as famílias de fazendeiros deslocavam-se para o então vilarejo e levaram consigo seus escravos. Enquanto o Senhorio rezava ao santo, a escravaria fazia seus batuques á distancia.

Após a abolição da escravatura, os ex-escravos e seus descendentes continuaram a freqüentar Pirapora durante as Romarias e datas festivas. No começo do século 20, foram construídos dois barracões para abrigar os romeiros que não tinham onde se hospedar, os negros ficavam nestes barracões e ali mesmo realizavam o samba. Eram negros provenientes de São Paulo e do interior paulista, municípios como Campinas do samba Campineiro, Tietê, Capivari, Piracicaba, Sorocaba, Tatuí e outras cidades faziam de Pirapora o seu ponto de encontro.

As formas de samba que praticavam em suas cidades, eles as faziam em Pirapora para festejar o Santo, eram os samba de Umbigada, Samba de Lenço. Jongo, o Tambu entre outros. A forte presença da zabumba (Bumbo) que fazia o compasso do ritmo da dança, aos poucos provocou a fusão da denominação dos Sambas que se praticavam nos barracões de Pirapora como Samba de Bumbo ou Samba de Pirapora que Mario de Andrade preferiu chamar de “Samba Rural Paulista”.

A partir das décadas de 1910 e 1920, a presença crescente dos batuqueiros em Pirapora a tornou no reduto do samba paulista, e os batuques dividiam o motivo de atração dos romeiros com a festa religiosa, esses motivos levaram os padres responsáveis pela igreja de Pirapora decretarem a demolição dos barracões considerados, o antro das festividades profanas, tentando desta forma coibir esta manifestação artística cultural não compreendida na época. O fato foi que desta forma o samba ganhou as ruas e chegou mais fortemente a um número maior de adeptos, mas a divisão entre negros e brancos continuava, eram até amigos, más no samba de preto branco não estava e assim vice versa e este fato perdurou até a década de 1950. Foi do Samba de Bumbo de Pirapora que saiu uma das mais importantes influencias dos primeiros cordões carnavalescos de São Paulo.

Bumbo ícone do samba, de Pirapora para o carnaval de São Paulo.

Com abolição ocorreu o êxodo rural, por parte de grande maioria dos libertos, com destino a São Paulo, com eles vieram os costumes caipiras e o samba que praticavam. Tem-se noticia segundo Osvaldinho da Cuíca, musico, escritor e pesquisador do samba paulistano existem indícios de que já no inicio do século 20 os ex-escravos da capital freqüentavam as festas do Bom Jesus de Pirapora. Todos os anos os negros viam para Pirapora com intuito de participar dos encontros dos grupos de samba.

Fundador do grupo Barra Funda, o primeiro grupo carnavalesco de São Paulo, Dionísio Barbosa Freqüentava as festas do Bom Jesus de Pirapora. Influenciado pelos batuques de Pirapora, na década de 1930, ele foi o primeiro a introduzir o bumbo e sua sonoridade grave no carnaval de rua paulistano; Posteriormente o bumbo passou a ser uma das principais características dos cordões carnavalescos de São Paulo, com uma sonoridade diferente dos ranchos carnavalescos do Rio de Janeiro.

Da mesma turma que freqüentavam o samba de Pirapora também havia os baluartes do samba paulistano do carnaval, nomes como Madrinha Eunice fundadora da Escola de Samba Lava Pés no ano de 1937, a primeira escola de samba paulistana. Pé Rachado e Pato N água fundadores da Escola de Samba Vai-Vai, Carlão do Peruche e muitos outros.

Merecedor de destaque é a pessoa de Geraldo Filme, um dos maiores compositores do samba paulistano, foi iniciado no batuque de samba de roda de Pirapora, pois os pais eram freqüentadores assíduos da festa do Bom Jesus e devotos que eram.

Tendo o menino Geraldo nascido em 1928 com quatro anos de idade ficou acometido de uma doença grave e a mãe fez promessa ao santo para cura do menino, com a graça alcançada a mãe foi proibida pelos festeiros da época de pagar sua promessa com o menino vestido de anjo na procissão.

Anos mais tarde o episodio virou letra de samba de um dos sambas de maiores sucessos da carreira do artista, a musica “O Samba de Pirapora” de Geraldo Filme considerado um dos clássicos do compositor pode ser ouvido no disco que traz o som do programa ensaio da TV cultura, gravado com o Geraldão como era conhecido pelos amigos, em 1985. O disco é vendido nas unidades de SESC. São Paulo.

Hoje em Pirapora funciona um centro de Memória do samba Paulista conhecido como a Casa do Samba, situado na Rua José Bonifácio nº. 226 centro, alem do acervo se apresentam no local, grupos de Samba como o Grupo Cultural Folclórico Vovô da Serra do Silêncio no Bexiga

Geraldo Filme .

Silêncio no Bexiga discorre sobre a morte de Walter Gomes de Oliveira, o Pato N’água, diretor de bateria da Vai-Vai, assassinado pela polícia em 1969. Seus versos levantam e sintetizam questões fundamentais quando tratamos da eleição de representantes de nossa cultura. Na maioria das vezes, na cultura popular, parte da produção artística que não foi registrada em gravações e divulgada pelos meios de comunicação pode se perder com a morte de seus protagonistas.

Geraldo Filme mostra o lado da cultura negra paulista. O Samba Paulista. Um samba com traços caipiras no sotaque, no uso da viola, nas fusões rítmicas, no som do terreiro. Tem traços do preto caipira que foi o Geraldo, nascido em São João da Boa Vista. Traços estes que se comunicam com os sambas de lenço e de umbigada do interior paulista.

(FONTE DE PESQUISA)

vermutecomamendoim

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O apito de Pato N´água

Wálter Gomes de Oliveira, era esse o nome de Pato N´água, um mestre de bateria como poucos. Aliás, mestre não, Pato N´Água era apitador como se dizia antigamente. Comandando o cordão do Vai-Vai, o batuque saía perfeito, sem nenhum probleminha na afinação ou ritmo. "Ele passou pelo Bixiga, pela Vila Santa Isabel que hoje é a Escola de Samba Acadêmicos do Tatuapé, Peruche, Camisa Verde...", conta Geraldo Filme no seu Ensaio à TV Cultura.

Geraldo Filme, um dos compositores deste lindo samba: O cara era mesmo uma fera. Bom de dar pernada na tiririca, Pato era um malandro completo. Um negrão alto, forte e valente.E como bom bamba que era, Geraldo Filme conta que Pato era cheio de"comadrinhas" por aí. E foi num dia que o homem foi visitar suas moçoilas que o bicho pegou. Pato alugou um táxi e começou a rodar a cidade. Visitou uma aqui, tomou um café acolá, bateu um papo noutra esquina. Enfim, ficou o dia todo com o mesmo motorista que acabou desconfiando e avisando a polícia. Como já naquela época o pessoal atira primeiro pra depois perguntar, Pato acabou dançando. Em uma manhã de 1969 foi encontrado morto em uma lagoa de Suzano.

"O laudo dava infarte. Mas de susto não morreu porque era bravo. Afogado também não porque era Pato N´Àgua porque nadava bem demais", lembra Geraldo Filme, "Aí o motorista do carro funerário disse pra mim, o Carlão do Peruche: 'Dá uma olhada na japona dele que ela tá com uns furos meio estranhos' Aí quando o Carlão pegou a japona, o dedo dele já entrou no buraco. Aí fomos tirar a roupa dele pra ver, mas não tinha marca de furo. Aí fomos tirar a roupa dele pra ver e não tinha marca de furo. Aí explicaram pra gente que se foi baioneta ou punhal, na água fecha".

Pra contar o final da história, Plínio Marcos, em um texto que saiu no dia 13 de fevereiro de 1977 na Folha de S. Paulo: "O que se sabe é que a notícia chegou no Bexiga à tardinha, na hora da Ave-Maria, e logo correu pelos estreitos, escamosos e esquisitos caminhos do roçado do bom Deus. E por todas as quebradas do mundaréu, desde onde o vento encosta o lixo e as pragas botam os ovos, o povão chorou a morte do sambista Pato Nágua. E o Geraldão da Barra Funda, legítimo poeta do povo, chorou por todos num bonito samba chamado Silêncio no Bexiga".

Silêncio no Bixiga

Silêncio

O sambista está dormindo

Ele foi mas foi sorrindo

A notícia chegou quando anoiteceu

Escolas

Eu peço silêncio de um minuto

O Bixiga está de luto

O apito de Pato N'água emudeceu

Partiu

Não tem placa de bronze

Não fica na história

Sambista de rua morre sem glória

Depois de tanta alegria que ele nos deu

Assim

Um fato repete de novo

Sambista de rua, artista do povo

E é mais um que foi sem dizer adeus

Silêncio

FONTE DE PESQUISA(Folha de São Paulo)

O CARNAVAL DOS CORDÕES

Publicado na Folha de S.Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 1977

Plínio Marcos

A tradição canavalesca de São Paulo era o cordão. Havia algumas escolas de samba, porém (e sempre tem um porém), os bambas, a pesada eram os cordões. Camisa Verde e Branco (branço mesmo), Vai-Vai, Paulistano da Glória, Campos Elíseos, Som de Cristal eram todos famosos cordões. E o cordão paulista tinha batida diferente das escolas de samba, tinha outras figuras e outras mumunhas. Eu disse "tinha". Porque, que eu saiba, não existe mais nenhum cordão em São Paulo. Os que não acabaram de vez se transformaram em escolas de samba. Como é o caso do Vai-Vai e do Camisa Verde e Branco, que foram os que mais resistiram, antes de se transformarem em escolas de samba. E o fim dos cordões, sem dúvida nenhuma, se deve ao elitismo, ao paternismo das autoridades que, quando resolvem incrementar algumas manifestações espontaneas do povo, mesmo quando estão bem intencionadas, só atrapalham. Isso porque as autoridades, sempre tão distantes das bases, tomam suas medidas dentro dos gabinetes, escutando acessores que geralmente se preocupam com o brilhareco que resulte em algum lucro e nunca nos interesses da coletividade.

No caso do samba de São Paulo, não deu outra coisa. O Prefeito Faria Lima resolveu, com a melhor das intenções, oficializar o Carnaval de São Paulo. Mas deve ter consultado gente que sempre achou que nesta cidade não havia samba, nem sambistas. E essa gente, sem vacilar, desconhecendo totalmente o que é Carnaval, desconhecendo que carnaval não se resume apenas em desfiles, nem em escolas de samba, que desfile e escolas de samba são um aspecto do carnaval, que existem vários outros aspéctos que também devem ser considerados, essa gente estava interessada na cascata que podia fazer em torno da oficialização do Carnaval e não na preservação dos costumes carnavalescos do povo desta cidade. E então, sem nenhuma cerimônia, fizeram a presepada: oficializaram o Carnaval. Mas, na lei, ficou claro que o único evento carnavalesco que a Prefeitura se via obrigada a realizar era o desfile das escolas de samba. Resultado, todo incentivo da Prefeitura para as escolas de samba e nenhum para os cordões que, diante da indiferença das autoridades, foram se extinguindo ou virando escolas de samba, puxadas aos defeitos das escolas do Rio de Janeiro (é mais fácil copiar defeito que virtude) e se desvinculando totalmente das raízes culturais de São Paulo.

O samba paulista é diferente do samba baiano que se instalou no Rio de Janeiro a partir da casa das "tias". O samba paulista é mais puxado ao batuque, ao samba de trabalho. Do toco, durão. O samba paulista vem das fazendas de café. O crioulo vindo do interior ia se instalando perto dos locais de trabalho: Jardim da Luz, Barra Funda, Largo da Banana, Praça Marechal, Alameda Glete, Bexiga, Rua Direita, Praça da Sé. E aqui, como no Rio de Janeiro, a polícia perseguia o samba e os sambistas. No Rio de Janeiro, os pagodeiros subiam o morro e a polícia se acanhava, e aí, não havia remandiola. O samba era solto, batido na mão, espalhado pelo terreiro. Aqui, o sambista se recolhia nos porões e lá puxava o samba, mas, naturalmente, não era a mesma coisa. Um samba espalhado debaixo de um céu cheio de estrelas e de luar e um samba espremido em porões, nos quais crioulo de mais de um metro e setenta tinha que mostrar o que sabia todo dobrado, pra não bater com a testa nas vigas. E quando o pagode esquentava, era tanta poeira que subia, que só era possível saber que estava havendo samba pelo ronco da cuíca e pelo gemido do cavaquinho, porque ver, não se via ninguém.

São muitos os grandes sambistas de São Paulo: Vassourinha (Olha aí, carnavalescos de escolas de samba, que andam com mania de enredo com vida de artista: esse foi gente grande e de muita embaixada no rádio), Dionísio Camisa Verde, Marmelada, Jamburá, Feijó, Pato Nágua, Sinval, Inocêncio Mulata, Carlão do Peruche, Nenê da Vila Matilde, Pé Rachado, Zézinho do Morro da Casa Verde, Geraldão da Barra Funda, Chiclete, Zeca da Casa Verde, Toniquinho, Nego Braço, Zoinho, Dona Eunice, Sinhá, Donata, Tudo gente que mantinha o samba na rua na época em que a polícia acabava samba na base do chanfralho. Tudo gente de valor provado no meio das batalhas. Tudo gente que saía nos cordões pelo prazer de sair, por gostar de samba, por querer sambar. No centro da cidade, muitas vezes, um cordão que ía encontrava um cordão que vinha. Então, era coisa pra valente. Ninguém recuava. Os cordões se cruzavam. Tinha um ritual todo cheio de parangolé. O baliza de pau de um cordão protegia a porta-estandarte do outro cordão. Os estandartes (ou bandeiras) eram trocados com muita gentileza e muito respeito. Depois de um tempo, se destrocavam os estandartes (ou bandeiras) e aí o pau comia. Navalha, tamanco, porrete entravam na fita pra bagunçar o pagode.

Pato Nágua foi levar uma cabrochinha lá pras bandas de Suzano. Amanheceu boiando numa lagoa, comido de peixe e de bala. Dizem que foi a primeira vítima do Esquadrão da Morte. Ninguém sabe direito. Defunto não fala. O que se sabe é que a notícia chegou no Bexiga à tardinha, na hora da Ave-Maria, e logo correu pelos estreitos, escamosos e esquisitos caminhos do roçado do bom Deus. E por todas as quebradas do mundaréu, desde onde o vento encosta o lixo e as pragas botam os ovos, o povão chorou a morte do sambista Pato Nágua. E o Geraldão da Barra Funda, legítimo poeta do povo, chorou por todos num bonito samba chamado Silêncio no Bexiga.

O Largo da Banana era o lugar onde os caminhões que vinham do interior encostavam pra descarregar. Ali se juntava a curriola. Enquanto não vinha caminhão se armava o samba duro. Se jogava a tiririca:

É tumba, moleque, é tumba

é tumba pra derrubar

tiririca, faca de ponta

capoeira vai te pegar

Dona Rita do Tabuleiro

quem derrubou meu companheiro

Abre a roda, minha gente

que comigo é diferente

E só parava na roda quem se garantia. E o Inocêncio Mulata (hoje presidente do Camisa Verde e Branco da Barra Funda) sabia tudo. Tudo e mais alguma coisa. E no Carnaval, puxava no surdão um famoso trio de couro. Ele no surdão, o Feijó na caixa de guerra e o Zoinha no tamborim. Paravam num boteco qualquer e começavam a zoar. Ia juntando gente, juntando gente e aí o rio saía pela Barra Funda, com uns duzentos sambando atrás. Na Praça Marechal, já eram dois mil, na Glete, cinco mil. Aí, era zorra, zorra total, até a polícia chegar. Foi nesse trio de couro que o Inocêncio ganhou o apelido de Mulata. Logo ele, que não é de fazer careta pra cego, resolveu aprontar pro Feijó, que não podia ver rabo de saia. O Inocêncio pegou um vestido da Dona Sinhá, meteu um turbante, se embonecou e ficou na moita. O Feijó e o Zoinha, que estavam no boteco esperando o companheiro de trio, foram tomando todas. Quando já estavam bem bebuns, e achando que o Inocêncio não viria mais, ele se apresentou vestido de mulher. Fez sucesso pro Feijó, que achou aquilo uma tremenda mulata e foi logo pagando cerveja. Mais encantado ainda ficou o Feijó quando aquela mulata pegou no surdo e mandou ver. O trio saiu. O Feijó todo preocupado com a mulata e alimentando ela com cerveja até a Glete. Aí, o Feijó resolveu partir com tudo. Se entortou. O Inocêncio tirou o turbante e se apresentou. O patuá do Feijó entortou. Mas o Inocêncio ganhou pra sempre o apelido de Mulata.

Mas a guerra se avacalhou. Não existe mais trio de couro, nem bloco de sujo, nem vai-quem-quer. Essas manifestações espontâneas do povo, que sempre a polícia tentou acabar sem conseguir, acabaram graças às promoções carnavalescas da Prefeitura. No lugar dessas coisas todas, a Prefeitura meteu o Trio Elétrico. A própria poluição sonora, que com guitarras elétricas e grandes aparelhos de som, esmagam, apagam qualquer instrumento de couro batido por um sambista. Alguns músicos defendem essa jeringonça como mercado de trabalho, mas esquecem que um toca-fitas e uma Kombi fazem o mesmo efeito que esse trio elétrico. E esquecem que falta mercado de trabalho porque muitos bailes de Carnaval em São Paulo são animados por toca-fitas e que a própria Prefeitura promove um bailão pra quarenta mil pessoas, com toca-fitas.

São Paulo sempre teve muito carnaval. Mas hoje está tudo resumido no desfile das escolas de samba e nos bailes dos clubes. E isso tudo é muito triste. Porque o Carnaval sempre serviu pras manifestações espontâneas do povo. E tudo agora vai se resumindo num espetáculo pra atrair turista. Feito no gosto dos turistas e avaliado pelos padrões culturais das elites. E isso dói. Porque um povo que não ama e não preserva suas formas de expressão mais autênticas jamais será um povo livre.

Aditamento: O comentário de Liberto Solano Trindade é tão enriquecedor, que merece ser adicionado a este artigo do Samba paulista.

"07/10/2016 12:23 - Liberto Solano Trindade [não autenticado]

Jota Kameral, deste que você cita, só não conheci Dionísio e Walter Gomes de Oliveira (Pato N'Nágua) Quantos outros, conheci em vida, através da Associação das Escolas de Samba e mais tarde União das Escolas de Samba Paulistanas, cheguei ao que se chamava Vice Presidente de Comunicação e Cultura, gestão de Alberto Alves Filho, (Betinho) 83-85 fato na mesma Gestão, - Celso de Lima Vice de Patrimônio, foi descobridor da atual Sede da mais importante Central de São paulo, injustamente abandonada pelo clube dos 13 que imigraram e criaram a Liga das Escolas de samba, este é um trecho que identifiquei, por um dos baluartes entrevistados, Domingo de Carnaval em São Paulo era Marca registrada do Paulistano e aquela resistência que estava se desenhado no período, foi se perdendo, perdeu! Eu acha eu, carioca que sou, por amor a este Samba maravilhoso, samba paulista, que agora só nos resta lutar por algo que equivale, que seja em forma de homenagem, igual já não é mais possível, mais que seja, aproximado, exemplo, os chocalhos tamanho gigantes de ferro fundido, pesadões, serem substituído por matéria de alumínio que é mil vezes maior leveza e assim sucessivamente, onde os ritmistas com indumentaria própria para os movimentos gingando de um lado para outro, só isto ressuscita de vez a era Cordão sem prejuízo do hoje, o mesmo, podemos trazer os trajes padronizados de Luiz Quinze nas Comissões de Frente, As baterias (a cozinha) pode vim representando todos os tipos de indumentarias que eram desde os antigos barracões de Pirapora até as dos enredos de época! Meu amigo São Muitas as Idéias para que o carnaval tome corpo de Samba Paulista. Muito Obrigado por lembrar um pouco de São Paulo que amo de verdade, não deixei, não deixo e nem deixarei de fazer parte dele, é lindo, São Paulo tem vida própria, e vamos seguir suas orientações - Abraços - lib para Créditos, com relação as sugestões."

É o que há