Oscar Niemeyer: parabéns e obrigado
* Prof. Ms. Arnaldo de Souza Ribeiro
"As ideias marxistas continuam perfeitas, os homens é que deveriam ser mais fraternos.”
Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares. Arquiteto. Encontra-se entre aqueles que mais influenciaram a Arquitetura Moderna. Nasceu no Rio de Janeiro, no dia 15 de dezembro de 1907.
1. Introdução
Na manhã desta sexta-feira, chuvosa e permeada de neblina em vários pontos da estrada que conduz a Ouro Preto, enquanto dirigia escutava um locutor que informava e advertia acerca das chuvas torrenciais que caíam em algumas cidades de Minas Gerais desde quarta-feira e recomendava que as pessoas permanecessem em suas casas e, se necessário sair, o fizessem com cuidado. Aqueles que estivessem nas estradas redobrassem a atenção, reduzissem a velocidade, não fizessem ultrapassagem em lugar proibido e evitassem o álcool.
Em seguida com entusiasmo e mistério, informou:
Completou ontem 104 anos e a comemoração foi na companhia de parentes e amigos no seu Escritório, em Copacabana, localizado de frente para o mar, local de que ele mais gosta, onde trabalha todos os dias. Trata-se do arquiteto Oscar Niemeyer. A ele os nossos parabéns e votos de felicidades.
Embora o locutor só tenha declarado o nome do aniversariante no final da notícia, por certo, todos que o ouviram, a partir da terceira palavra já sabiam de quem se tratava, considerando a singularidade do aniversariante a quem ele se referia.
Seguramente o arquiteto Oscar Niemeyer é hoje o cidadão brasileiro mais longevo em atividade, cuja vida e história se traduzem em orgulho para o povo brasileiro e, sobretudo, em exemplo a ser seguido.
Nasceu no dia 15 de dezembro de 1907, no Rio de Janeiro, também conhecida por Cidade Maravilhosa e, certamente, a teve como sua primeira fonte de inspiração. Nasceu em um tempo em que as crianças podiam jogar bola na rua, conforme ele mesmo relata.
Oscar Niemeyer já elaborou mais de 600 projetos arquitetônicos executados no Brasil e no mundo. E todos eles dotados de invulgar beleza e modernismo que, somados a sua inteligência e à força de seu caráter, o fizeram conhecido e respeitado no Brasil e no exterior. Este respeito e admiração comprovam-se pela forma com que todos o tratam e, sobretudo, pelas incontáveis homenagens e condecorações que recebeu.
Trabalhador obstinado, ainda dirige vários projetos dentre eles a renovação do Sambódromo do Rio de Janeiro, com vistas a adaptá-lo para os Jogos Olímpicos de 2016. Em recente declaração à imprensa disse que ainda existem coisas que gostaria de fazer, dentre elas um “belo projeto para Copacabana”.
As obras de Oscar Niemeyer possuem o condão de agradar a gregos e a troianos. São capazes de impressionar pessoas simples e até cosmonauta, a exemplo do que ocorreu com o russo Iuri Gagarin que, ao visitar Brasília, teria dito: “ ... é viver a experiência de aterrissar em um planeta diferente.”
Particularmente, dentre as centenas de obras de Oscar Niemeyer, sem desmerecer nenhuma delas, muito antes pelo contrário, as que mais me impressionam e admiro são: O Grande Hotel de Ouro Preto, O Conjunto Arquitetônico da Pampulha e Brasília.
2. O Grande Hotel de Ouro Preto
Em 1938, por ocasião do translado dos Restos Mortais dos Inconfidentes, para Ouro Preto, estes foram acompanhados pelo Presidente da República Getúlio Dorneles Vargas, por sua família e comitiva. Àquele tempo, era seu Prefeito o Dr. Washington Dias que os hospedou.
Naquela oportunidade Getúlio Dorneles Vargas, como bom político, em agradecimento à fraterna acolhida que tivera em Ouro Preto, perguntou ao seu anfitrião, o que ele desejava que o Presidente da República fizesse para sua cidade. E para surpresa de Getúlio o prefeito respondeu que gostaria de um hotel, no que foi atendido.
A princípio o então diretor do SPHAN, Rodrigo Melo Franco de Andrade, entregou o projeto a Carlos Leão, que era assessor técnico do órgão e membro da equipe de arquitetos do Ministério de Educação. O local da edificação seria um terreno cedido pelo Estado, uma ladeira que ligava a Casa dos Contos ao Museu de Mineralogia.
O projeto original seria um edifício neocolonial de alvenaria de tijolos sobre uma base de pedra, com vistas a imitar os casarões do século XVIII, projeto que foi desaconselhado por Lúcio Costa, então consultor do SPHAN, com o propósito de não induzir os turistas a atribuírem valor histórico a uma construção contemporânea.
Como alternativa ao projeto de Carlos Leão foi apresentado um projeto desenhado sem maiores pretensões por Oscar Niemeyer. A beleza e a viabilidade deste projeto despertaram as atenções de todos, inclusive dos integrantes do SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Ao fazê-lo, com a inteligência e a genialidade que lhes são próprias, Oscar Niemeyer conseguiu o que até então parecia impossível: harmonizar o antigo e o moderno, sem que um ofuscasse o outro. Superado este obstáculo, o seu projeto foi aprovado.
Deste modo, o despretensioso projeto arquitetônico desenhado por Oscar Niemeyer em 1938, se transformou no Grande Hotel de Ouro Preto, concluído em 1944. E hoje, 73 anos depois, consegue coabitar o mesmo espaço entre os casarões barrocos do século XVIII em perfeita harmonia e, sobretudo, atrair a atenção e visita dos guias e turistas que o incorporaram aos principais monumentos a serem visitados em Ouro Preto.
3. Conjunto Arquitetônico da Pampulha
No ano de 1940, Oscar Niemeyer conheceu o então prefeito de Belo Horizonte Juscelino Kubitschek de Oliveira e este lhe solicitou que fizesse o projeto de um conjunto de edificações a ser desenvolvido na área norte da cidade, denominada Pampulha.
Dentre estas edificações constam a Igreja de São Francisco de Assis, A Casa do Baile, o Cassino, o Museu, o Iate Clube.
Destas edificações a mais visitada e também mais conhecida é a Igreja de São Francisco de Assis, pela sua beleza, a começar pela porta principal, diretamente ligada com a parte mais bonita da lagoa. Soma-se ainda a obra de Candido Torquato Portinari, nela existente. Beleza que também gerou protestos e polêmicas por parte dos representantes da Igreja Católica, pela inserção de um cachorro junto a São Francisco de Assis. Por dezesseis anos a Igreja ficou fechada e somente em 1959, o bispo auxiliar de Belo Horizonte, Dom João de Rezende Costa benzeu-a e entregou-a aos cristãos.
4. Brasília
No ano de 1956, eleito presidente do Brasil Juscelino Kubitscheck de Oliveira, assumiu o governo com o propósito de estender ao Brasil o progresso e a profícua administração que desenvolvera em Minas Gerais.
No seu plano de governo, divulgado em campanha, comprometeu-se fazer o Brasil crescer 50 anos em 5, e que interiorizaria a administração do pais, conforme antes previra o Marquês de Pombal, José Bonifácio e as profecias de Dom Bosco.
Para alcançar o ousado projeto não poderia prescindir da colaboração, da inteligência e da determinação de Oscar Niemeyer e o convidou para dirigir a Novacap, empresa que urbanizou a nova capital.
No ano de 1957, foi aberto o concurso público para a escolha do plano piloto de Brasília. Lúcio Costa foi o vencedor e Niemeyer foi escolhido por Juscelino para ser responsável pelos projetos dos novos edifícios, o que foi feito em poucos meses dado a exiguidade do tempo.
Dentre esses projetos destacam-se: o Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto, a Esplanada dos Ministérios, o Congresso Nacional, com as famosas conchas, uma para cima e outra para baixo, para materializar a aspiração e a confirmação do desejo do povo brasileiro; a Catedral de Brasília e os prédios residenciais e comerciais.
Niemeyer chegou a definir assim os seus trabalhos na construção de Brasília:
“…quem for a Brasília, pode gostar ou não dos palácios, mas não pode dizer que viu antes coisa parecida. E arquitetura é isso - invenção.”
Realmente, Brasília materializa a invenção, a coragem e a genialidade de grandes brasileiros e por esta razão ainda impressiona àqueles que vão conhecê-la, tornando-se motivo de orgulho para todos os brasileiros.
5. Conclusão
Aproveito a data e associo-me a todos aqueles que ontem e hoje apresentaram suas congratulações ao eminente arquiteto Oscar Niemeyer, pelo seu aniversário, conforme registrado pela imprensa escrita, falada, televisa e on line, do Brasil e do exterior
Quero também cumprimentá-lo e agradecê-lo pelas magníficas obras edificadas no Brasil e no mundo. Obras que, além da beleza, são úteis a exemplo do Grande Hotel de Ouro Preto, de onde nesta noite chuvosa passo para o computador estas breves informações, diversas vezes já repetidas para amigos e turistas que se abismam diante delas, tendo em vista que suas obras, algumas de imediato e outras com o tempo, se transformam em obras de arte e endereço de necessárias e constantes visitações.
Parabéns e muito obrigado.
Ouro Preto – Grande Hotel, sexta-feira 16 de dezembro de 2011.
Prof. Ms. Arnaldo de Souza Ribeiro
Obs. 1. Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares faleceu no Rio de Janeiro, no dia 05.10.12, ocasião em que recebeu homenagens do Brasil e do mundo.
2. Artigo publicado no livro: Magistério: estudos, pesquisas e palestras. 1. ed. Itaúna: Vile – Escritório de Cultura, 2014, p. 195 a 200.
* Arnaldo de Souza Ribeiro é Doutorando pela UNIMES – Santos - SP. Mestre em Direito Privado pela UNIFRAN – Franca - SP. Especialista em Metodologia e a Didática do Ensino pelo CEUCLAR – São José de Batatais – SP. Advogado e conferencista. Coordenador e professor da Faculdade de Direito da Universidade de Itaúna. Professor convidado da Escola Fluminense de Psicanálise – ESFLUP - Nova Iguaçu - RJ. Sócio efetivo da Associação Brasileira de Filosofia e Psicanálise – ABRAFP. E-mail: souzaribeiro@nwnet.com.br