UM LOUCO NA MADRUGADA

Ligo o aparelho de televisão, e somente me deparo com notícias que me deixam maravilhado. Israel e seus inimigos fizeram as pazes. Agora o cordeiro e o leão ocupam o mesmo espaço, em paz.

Armas de matar milhões foram eliminadas da face da Terra. Corrupção é coisa do passado. Racismo existe apenas nos livros de história. Violência urbana se transformou no mais impressionante amor entre as pessoas. Brutais diferenças sociais se tornaram uma isonomia que transformou a sociedade num paraíso pré-comida da maçã da Eva pelo faminto Adão. Ódios religiosos são relíquias de épocas mais brutais. Ganância e egoísmo são elementos pertencentes tão somentes aos compêndios históricos. Os vários tipos do doenças que eliminavam milhões de vidas todos os anos, agora são coisas do longínquo passado. Desemprego e miserável salário são contrastados com os atuais niveis de enorme fartura dos melhores e mais bem pagos empregos em todo o planeta Terra. Terremotos, sunamis, tornados, enchentes, e muitos outros cataclismas naturais existem apenas nas mentes daqueles que presenciaram essas pretéritas realidades. Acidentes automobilíticos, aéreos e ferroviários pertencem aos alfarrábios estatísticos, e hoje em dia a segurança nas viagens é o elemento mais óbvio de se observar.

Passando de um canal televisivo para o outro, somente vejo notícias que me fazem saber que a humanidade e suas circunstâncias se metamorfosearam num inegável Shangri-La. O amor permeia cidades e vilarejos, vales e montanhas. Cristalinos rios transitam placidamente, sem um pingo de poluição, pois a ganância desapareceu do meio dos seres humanos. Finalmente chegou o tão esperado millenium, aglutinando a humanidade, eliminando todo e qualquer tipo de sofrimento, numa irrefutável implementação dos mandamentos de Jesus: amem uns aos outros, sigam meu exemplo, e os humanos alunos finalmente aprenderam a amar como o mestre mandou.

De repente, devido ao barulho provocado pelo tocar do telefone fixo , me acordei de um maravilhoso sonho, de volta à deprimente realidade que faz parte do nosso cotidiano. Então tomei a decisão de não mais ver programas de televisão, nem ler jornais ou revistas, e me isolar numa caverna, longe do estrangulamento emocional que massacra e conduz à depressão mental, nunca esquencendo das clássicas palavras de antigas eras: ne facias per alium quodo fieri potest per te.

IRAQUE

Iraque
Enviado por Iraque em 20/12/2011
Código do texto: T3397935
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