DOMINGO

O vento do outono nos faz mais preguiçosos e o dia de domingo é o dia da preguiça mesmo. Supostamente intitulado de dia de descanso lá nos primórdios da industrialização européia, talvez, não sei direito. E não tenho nenhuma obrigação no domingo de saber de onde veio esse domingo. Se fosse na segunda feira de um tempo tardio iria numa biblioteca pública e talvez, talvez achasse um literário qualquer me explicando o dia de domingo. Mas nem o Machado de Assis nem Graciliano se preocupavam com dias da semana; sabendo-se que um dia é “encarriado” com o outro, portanto sem lucro em alguma definição. O dia nasce e morre para a noite nascer... Conseqüentemente a noite...

A noite... Quando menino fazia da noite um dia de sono; acordava para o dia torcendo para a noite chegar...

Completamente livre de maus pensamentos que hoje foram embutidos em minha mente porque o capital institui o calendário, ganhos e percas, bandidos a revelia...

Estou com medo do calendário porque a vida está passando tão rápido e talvez não tenha tempo de realizar meus sonhos de menino. E nos meus sonhos que também foi realidade, dormíamos com a porta aberta, bandido ou ladrão eram só na televisão que buscava de outros mundos, mundos esses que inventaram a gastronomia e esse capitalismo selvagem que faz um menino pobre do Haiti comer bolinhos de terra enquanto países supostamente ricos se “palhaçam” nessa gastronomia do Natal. Não mais acredito nos seres humanos. Sei que existem formas de acabar com essas desigualdades, mas o capital que nos domina não deixa. Viramos escravos, não da chibata e sim da gastronomia. Até nos EUA que pregam a liberdade de expressão nenhum movimento contra esse lucro abusivo de banqueiros mundo afora pega. Ficam falando ao vento porque a mídia, hoje mundial, depende desse esquema capitalista. Fizeram do ser humano uma teia de aranha, só que o ser humano é um simples fio, simples suporte da gananciosa aranha capitalista.

JOSÉ EDUARDO ANTUNES