CORAÇÃO

Naquele dia aquela mãe e aquele pai tinham razão de sobra para enxergar a vida com fortalecida motivação. Havia nascido a bela criança

que certamente viria iluminar suas vidas, dar-lhes novo e salutar sentido.

Durante séculos, pensadores, filósofos, têm escrito a respeito daquilo que motiva o ser humano a continuar sua caminhada nessa existência. Daquele momento em diante, os mencionados pais foram como que possuídos de nova energia, eu diria até mesmo incomensurável alegria, necessário combustível no caminhar nas veredas desse mundo.

Durante longos meses aquela criança foi o centro das atenções, não somente dos pais, mas também dos demais membros da família. O seu sorriso era uma declaração de que vale a pena viver, apesar dos eventuais obstáculos.

Num certo dia, com a criança nos braços, a mãe notou os lábios do amado filho acometidos de uma cor arroxeada. A criança respirava com dificuldade. Uma dessas situações que costumam nos pegar desprevenidos, nos deixando desorientados.

Sem nem mesmo a ninguém avisar, aquela mãe correu em direção a um hospital que ficava situado próximo de sua residência. Ao verem o estado do garotinho, apressadamente os médicos o entubaram, de maneira a lhe prover com o necessário oxigênio, até saberem o que fazer para reverter aquele quadro.

Com o passar dos dias e meses, os cardiologistas chegaram à inevitável conclusão de que um transplante seria o único modo de salvar aquela criança.

Diante dessa circunstância, quase todos os membros da família,

inclusive verdadeiros amigos, encetaram uma procura por um coração

para salvar o amado filho. No entender de um tio daquela criança, o trágico dessa realidade é o fato de que, para salvar um garotinho, uma outra criaturinha teria que morrer. Eis o drama e o dilema da nossa passagem por esse planeta. O fato é que o coraçãozinho não foi obtido.

Recentemente, recebi uma mensagem eletrônica de um tio daquela criança, me dando a saber que ela havia morrido, deixando um pai e uma mãe dialogando com seus fantasmas.

Eu, emotivo que sou, não consegui estancar minhas lágrimas, e mais uma vez fui bombardeado por um enorme fardo denominado depressão, tristeza, logo agora na época do Natal, quando milhões de crianças recebem seus presentes. Presumo que para esse pai e essa mãe o Natal desse ano não será nenhum motivo de alegria.

Perder um filho ou filha é como receber uma punhalada no próprio coração. A diferença é que o punhal mata imediatamente, enquanto que a dor de perder uma criança vai matando paulatinamente, nos transformando em corpos ambulantes destituídos de vontade de continuar vivendo.

IRAQUE

Iraque
Enviado por Iraque em 17/12/2011
Código do texto: T3393561
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