IGNORÂNCIA-INCERTEZA
Costumo asseverar que não sou um homem de certezas.
Ao contrário. Passei anos estudando em quatro universidades
Canadenses, e uma Faculdade Americana, e se alguém me pedir
para definir seja lá o que for, a minha honestidade vai me obrigar
a dizer que não sei fazê-lo.
Por exemplo, de acordo com a Filosofia, aquilo que se chama
de deus é o "princípio supremo de explicação da existência, da ordem
e da razão universais, e garantia dos valores morais". Pode até ser
que seja isso mesmo, mas acontece que eu continuo sem saber o que
está por trás(se é que há algo por atrás delas) de tais palavras, o que
equivale a dizer que, no meu caso, esses termos não passam de
abstrações.
Dando continuidade ao parágrafo anterior, no meu entender, se o ser humano tem a capacidade de definir a divindade, eu tomo a liberdade de afirmar que tal deus é limitado, dado o fato de que a palavra definição implica em limite. Definir é colocar a realidade num
determinado espaço dogmático, não se admitindo mais nenhuma possibilidade.
Eu garanto a quem quizer me ouvir ou ler que não sei definir aquilo que as pessoas chamam de amor. O que posso fazer é olhar ao
meu redor e ver o que está ou não acontecendo. Ainda tenho a capacidade de observar a diferença entre o discurso e sua implementação, mesmo porque falar é muito mais fácil do que fazer ou deixar de fazer. "Eu te amo, meu amor" pode muito bem se transformar em "eu te odeio", principalmente com o passar do tempo. Essa é a natureza dialética da vida.
Confesso que fico embasbacado quando ouço alguém definindo a vida, essa realidade constituída de tantas características passíveis de transformações.
No campo daquilo conhecido por moralidade, o que é definido como
errado num determinado contexto, pode ser aceito como correto e até mesmo desejável num outro universo circunstancial. Por exemplo,se eu, como indivíduo anônimo e comum , matar alguém, corro o risco de passar o resto de minha vida numa prisão, ou ser torrado numa cadeira elétrica. No entanto, se sou um General quatro estrelas,
e determino a matança de milhares de seres humanos, sou agraciado com medalhas, discursos encomiásticos, minha foto na chamada mídia,
e até a minha biografia é escrita e transformada em filme.
Penso eu que não faz sentido falar em moralidade divorciada daquilo que certos Filósofos chamam de lógica. O que acho que aprendi nesse campo extremamente polêmico é o que alguns designam como "conjunto de estudos, originados no hegelianismo, que têm por fim determinar categorias racionais válidas para a apreensão da realidade concebida como uma totalidade em permanente transformação; lógica dialética". Em Inglês há a seguinte expressão: the devil is in the details, e são nesses detalhes que me perco, me sinto extremamente incerto e ignorante. Diante disso eu me pergunto: como posso sair por aí DEFININDO a realidade humana, a vida e suas inúmeras contradições? Como vou definir um beijo molhado, dado com muita vontade? Como colocar dentro de uma gaiola dogmática aquilo que sinto quando um filho ou filha que adoro desaparece da minha vida através das sombras morte?
Levando isso em consideração, digo que sou filho da ignorância, e
prisioneiro da incerteza. Deixo as certezas para os donos da verdade. Enquanto isso, à maneira de um garimpeiro, sigo procurando a pedra escondida em algum lugar, o diamante quase impossível de ser encontrado, porque desconfio que procurar é preciso.
IRAQUE