OUTRA VISÃO SOBRE A LITERATURA GOIANA
Durante todo o percurso da vida do indivíduo humano, infinitas são as experiências pelas quais ele passa. Ainda que fôssemos seres eternos, muitas coisas não chegariam a passar pela nossa minúscula cabecinha, já que possuímos certas limitações. Mesmo depois de nos constituirmos como sujeitos, continuamos adquirindo novas experiências e tentando sermos cada vez mais ousados. Daí, o nosso enorme poder de transformação. Não importa com que dom nascemos ou qual vocação vamos seguir, a criação é um poder versátil e ilimitado, um campo vasto a ser galopado constantemente e o que vem à frente, muitas vezes, parece misterioso demais aos olhos humanos. No campo da literatura, por exemplo, dia a dia, somos surpreendidos e agraciados com obras e autores tão inovadores capazes de nos prender à leitura na primeira linha do seu texto e nos conduzir a mundos nunca dantes imaginados, sem desgrudar os olhos ou desviar o pensamento daquela arte posta nas páginas.
A exemplo desse veículo que nos leva a mundos brilhantes temos também a Literatura Goiana, que nas suas primícias, no século XVIII, Bartolomeu Antônio Cordovil (pseudônimo de Antônio Lopes da Cruz), nos presenteou com o poema Ditirambo e depois com outros escritos; Luís Antônio da Silva e Sousa, colaborador do Meia-Ponte, Matutina Meyapontense; Luís Maria da Silva Pinto, com o Diccionário da Língua Brasileira; Florêncio Antônio da Fonseca Grostom; Joaquim Teotônio Segurado; Antunes da Frota e o marechal Raimundo José da Cunha Matos, também ficaram muito conhecidos pelas suas crônicas.
No século XIX, a Literatura Goiana começava a ser assediada pelo Romantismo que estava em alta nas poesias europeias e nas de outros cantos do Brasil. Na segunda metade do século XIX e início do século XX, Acrísio Gama, Antero Pinto, Félix de Bulhões, Joaquim Bonifácio de Siqueira, entre outros, destacaram-se principalmente pelas suas poesias reverenciando o cerrado e pelo amor à natureza.
Belíssimos escritores como Hugo de Carvalho Ramos, Pedro Gomes, Gercino Monteiro, Ribeiro da Silva e Derval de Castro marcam a prosa realista na Literatura Goiana.
Ainda no século XIX, com o advento do Parnasianismo e do Simbolismo no Brasil, a Literatura Goiana se expande ainda mais com livros de Érico Curado, Hugo de Carvalho Ramos, Vasco dos Reis, Vítor de Carvalho Ramos, Leo Lynce (Cyllenêo de Araújo) e José Lopes Rodrigues.
No início do século seguinte já começa a aparecer os primeiros contistas goianos como Matias da Gama e Silva, Zeferino de Abreu, Cora Coralina, Gastão de Deus Vítor Rodrigues.
Ontem, livro de versos, de Leo Lynce abre a porta para o Modernismo em Goiás. Logo, vieram João Accióli, José Godoy Garcia, Bernardo Élis, José Décio Filho, Cora Coralina e Demóstenes Cristino.
Na tangente da prosa regionalista goiana são os textos de Bernardo Élis, de Regina Lacerda e de Antônio Geraldo Ramos Jubé que, a princípio, enaltece a Literatura Goiana, sendo Ermos e Gerais e O Tronco, ambos de autoria de Bernardo Élis, as obras mais importantes da prosa regionalista.
Tropas e Boiadas (1917), contos de Hugo de Carvalho Ramos; Ontem (1928), poesia de Leo Lynce; Veranico de Janeiro (1966), contos de Bernardo Élis; Pium, (1949) romance de Eli Brasiliense; Íntima Parábola (1960), poesia de Afonso Félix de Sousa; Jurubatuba (1972), romance de Carmo Bernardes; Via Viagem (1970), romance de Carlos Fernandes Magalhães; Alquimia dos Nós (1979), poesia de Yêda Schmaltz; Rio do Sono (1948), poesia de José Godoy Garcia; Nos Ombros do Cão (1991), romance de Miguel Jorge; A Raiz da Fala (1972), poesia de Gilberto Mendonça Teles; Joana e os Três Pecados (1983), contos de Maria Helena Chein; Aquele Mundo de Vasabarros (1982), romance de José J. Veiga; Poemas dos becos de Goiás e estórias mais (1965), poesia de Cora Coralina; Relações (1981), romance de Heleno Godoy e Elos da Mesma Corrente (1959), romance de Rosarita Fleury são apenas algumas obras-primas, pois se fôssemos citar toda a arte literária goiana, desde seu florescer aos dias atuais, o leitor teria que se programar para passar muito tempo lendo, ouvindo ou vendo o que Goiás guarda no seu baú literário que a cada dia é remontado com novas belezas criadas pela Literatura Goiana.
Parte da falta de expansão e amadurecimento da Literatura Goiana se deve ao fato do gosto pela arte de literar ter sido despertado tardiamente, em relação ao cenário nacional. Outro motivo foi causado pelo isolamento geográfico do Estado, mas claro que temos nomes de grande destaque no cenário Nacional como a saudosíssima Cora Coralina, Hugo de Carvalho Ramos, Bernardo Élis, José J. Veiga e Gilberto Mendonça Teles.
Na atualidade, a Literatura que vem sendo desenvolvida em Goiás também possui sua linha artistica. Admito que a Literatura Goiana é um campo mágico a ser explorado ainda, uma cartola à espera do mágico lhe enfiar a mão. Lógico, verdade seja dita, ainda não conseguiu se equiparar a outras literaturas feitas em outros Estados, como a Literatura Baiana, feita por Jorge Amado, Castro Alves, Dias Gomes etc., etc., mas está engatinhando e conquistando maior espaço.
Creio que a função que a Literatura Goiana vem cumprindo vai muito mais além do que simplesmente fazer graça. Aliás, entre outras funções da Literatura Goiana, graça é o que não lhe falta. Está perdendo uma grande chance de se maravilhar com belas risadas quem ainda não leu Causos, de Humberto Milhomem, Mexidos e Remexidos, de Lêda Selma ou quem ainda não se deliciou com As netas do Barão, romance de época de Sandra Rosa. Todas elas são obras-primas que, como outras que ainda teremos a oportunidade de ler, estão inseridas na quarta Coleção Goiania em Prosa e Verso lançada recentemente pela Prefeitura de Goiânia, por meio da Secretaria Municipal de Cultura.
Muitos leitores quando vêem Humberto Milhomem, Heleno Godoy, Miguel Jorge, Eurico Barbosa, Sandra Rosa, Lêda Selma, Aidenor Aires, Leidianne Alves, Cida Almeida, Márcia De Conti e tantos outros autores goianos fazendo parte de uma coleção como essa, colocam em cheque, ao ponto de fazer cair por terra qualquer comentário avesso à função que cumpre esse projeto tão ousado de realizar o maior lançamento de livros já visto antes. Certificam de que a história da Literatura Goiana realmente precisa continuar, de modo que na próxima edição da coleção o número seja bem maior.
Assim como a Literatura Goiana vem se mostrando para o mundo, o Diário da Manhã também tem firmemente cumprido sua função jornalística e social: informando, abrindo espaço para todos e divulgando a nossa cultura goiana para o planeta.
Gilson Vasco
Escritor,
Professor de Língua Portuguesa
e Liderança Comunitária
Diário da Manhã,
Goiânia, 30 de outubro de 2011