EU PRECISO
Preciso do silêncio da madrugada a fim de coordenar meus
pensamentos. Nesse segmento do dia, quando a cidade dorme,
faço do meu canto uma realidade de conceitos, de possibilidades que
me levam a expressar o que me vai na mente.
Na azáfama do cotidiano, são inúmeras as distrações, mas não
no silêncio do meu território. Aqui, encontro comigo mesmo, sem
cansativas e inócuas convenções, só eu, comigo . Nesse
restrito espaço, me deparo com meus deuses, meus anjos, e também com os meus fantasmas,
seres que estruturam o meu ser, me inoculando energia e desespero.
Nesse espaço, tenho consciência de que faço parte de uma
colluvies vitiorem, mas também sou consciente do fato de que há
no universo um potencial para uma confraria daqueles que fazem
a diferença, essa que acrescenta algo de positivo, elemento esse que
diz ao nosso ouvido: segue em frente. Após a próxima curva, tu
encontrarás mais razões para continuares tua jornada, por mais
cansado estejas. Prosseguindo na caminhada, vislumbro luzes que
jamais eu havia identificado, e isso me alimenta com nova
energia. Afinal, isso a que damos o nome de civilização não se me
apresenta como uma realidade linear, mas é elaborada num
clima de subidas, descidas e solavancos. Se esses suportamos e
aguentamos, certamente é porque antecipamos algo que segue nos
empurrando, com dúvidas, mas também com esperança.
Abraçando o meu silêncio, me pergunto: para que estamos
aqui? Somente para dar sequência a uma efêmera existência
biológica, respirar o ar não tão puro, e seguir cambaleando pelos
descaminhos da vida? Porque, se uma certeza temos, essa é a de
que estamos aqui durante um sopro de vento, o movimento de um
galho de árvore num dia de tempestade, e, depois disso, somos
lançados no desconhecido vácuo, esse feito de perguntas sem
respostas.
IRAQUE