EU PRECISO

Preciso do silêncio da madrugada a fim de coordenar meus

pensamentos. Nesse segmento do dia, quando a cidade dorme,

faço do meu canto uma realidade de conceitos, de possibilidades que

me levam a expressar o que me vai na mente.

Na azáfama do cotidiano, são inúmeras as distrações, mas não

no silêncio do meu território. Aqui, encontro comigo mesmo, sem

cansativas e inócuas convenções, só eu, comigo . Nesse

restrito espaço, me deparo com meus deuses, meus anjos, e também com os meus fantasmas,

seres que estruturam o meu ser, me inoculando energia e desespero.

Nesse espaço, tenho consciência de que faço parte de uma

colluvies vitiorem, mas também sou consciente do fato de que há

no universo um potencial para uma confraria daqueles que fazem

a diferença, essa que acrescenta algo de positivo, elemento esse que

diz ao nosso ouvido: segue em frente. Após a próxima curva, tu

encontrarás mais razões para continuares tua jornada, por mais

cansado estejas. Prosseguindo na caminhada, vislumbro luzes que

jamais eu havia identificado, e isso me alimenta com nova

energia. Afinal, isso a que damos o nome de civilização não se me

apresenta como uma realidade linear, mas é elaborada num

clima de subidas, descidas e solavancos. Se esses suportamos e

aguentamos, certamente é porque antecipamos algo que segue nos

empurrando, com dúvidas, mas também com esperança.

Abraçando o meu silêncio, me pergunto: para que estamos

aqui? Somente para dar sequência a uma efêmera existência

biológica, respirar o ar não tão puro, e seguir cambaleando pelos

descaminhos da vida? Porque, se uma certeza temos, essa é a de

que estamos aqui durante um sopro de vento, o movimento de um

galho de árvore num dia de tempestade, e, depois disso, somos

lançados no desconhecido vácuo, esse feito de perguntas sem

respostas.

IRAQUE

Iraque
Enviado por Iraque em 24/11/2011
Código do texto: T3353335
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