ESTATÍSTICA
Quando leio textos que falam de esperança,
fico imaginando
o quanto meus pensamentos são diferentes,
pois acho que a minha vida é uma janela acortinada,
refração de luz no espelho,
lampejo num campo coberto de neve, brilhante no brilho,
não uma lanterna no escuro, mas em dia de sol escaldante.
Como tal, ainda que vestido em seda,
perdido estou nas sombras, e assim esuecido.
Eu não passo de uma face num álbum de fotografias,
anônimo dado em qualquer recenseamento,
um número a mais nas estatísticas populacionais,
morto enquanto ainda vivo,
somente vivo depois de morto,
até que as estatísticas sejam mudadas.
Que mais posso afirmar?
Quem encarno?
Sou o espírito que a nada aspira,
o maltrapilho dormindo sob uma marquise,
o suicida dançando no espaço vazio,
a lágrima rolando pela face,
o soluço no silêncio da madrugada,
a pergunta sem resposta,
o desespero menos a fantasia da esperança,
a noite destituída de estrelas,
o cego caminhando na calçada,
o corpo sob a gelada lápide.
Resumindo, sou aquele
que nunca foi.
IRAQUE