ONDE ESTÃO AS ROSAS?
Na minha frente está a parede, cor-de-rosa,
de Hiroshima.
O tique-taque do relógio mostra a inexorabilidade
do passar das horas.
No caminhar do tempo as rosas de Hiroshima vão
sendo destruídas pelo verde, a cor do argent imperial; pelo
branco, a tonalidade da cocaína, o veneno que
temporariamente entorpece, pois as rosas de Hiroshima,
nas suas meigas, inocentes e jovens sensibilidades,
não conseguem encarar a cinzenta cor da realidade que as cerca.
Onde estão as rosas de Hiroshima? Nos shopping-centers
da vida? Nas esquinas dos campos de concentração alcunhados
de cidades? Nos barzinhos onde os transitórios sorrisos
são transformados em oceanos que afogam as rosas de Hiroshima?
Nos colégios da respeitável classe média, onde elas são
metamorfoseadas em Messalinas de Hiroshima?
Onde estão as rosas de Hiroshima? No interior de suas
famílias, onde constantemente imperam a violência e a explosão
das reprimidas bombas emocionais? Explosão que mata as
rosas de Hiroshima? Nos hospitais psiquiátricos onde aqueles que,
supostamente, cuidam das rosas de Hiroshima, também
são prisioneiros das hecatombes de Hiroshima?
Onde estão as rosas de Hiroshima? Nos cemitérios que,
indiferentemente, as engolem? Onde estão as rosas?
IRAQUE