ELEITOR
Sou eleitor, sou patriota, cidadão ciente dos meus deveres,
das minhas obrigações eleitorais.
Sou eleitor, e por isso elejo, escolho, estabeleço minhas
prioridades, traço o meu caminho.
Sou eleitor, e nisso está a resposta aos meus anseios, às
minhas perguntas.
Sou eleitor, escolhendo os meus patrões, aqueles que vão
mandar, fazer e desfazer.
Sou eleitor, na minha escolha está o destino da nação.
Sou eleitor, e tenho que saber votar, saber escolher a pessoa certa.
Sou eleitor, livre para escolher, livre para não escolher, livre
para me abster.
Sou eleitor, sabedor do meu dever, ciente do meu privilégio.
Sou eleitor, e meu privilégio é enviar ao planalto central os donos
desse país.
Sou eleitor, livre para me pronunciar na eletrônica urna.
Sou eleitor, procurando no meu voto a saída para o dilema dessa
nação.
Sou eleitor, e então me pergunto: voto nele ou nela?
Sou eleitor, suando sangue, suando lágrima, suando medo, suando
angústia.
Sou eleitor, e me lanço no universo do perigo, a possibilidade
da escolha errada.
Sou eleitor, o que fazer diante da minha dúvida?
Sou eleitor, e minha insegurança me leva a me perguntar: qual deles
vai menos roubar?
Sou eleitor, e me questiono: qual deles vai mais trapacear?
Sou eleitor, e me ponho a meditar: qual deles vai mais assaltar?
Sou eleitor, e me vejo a mastigar a minha dúvida: qual deles
devo alijar?
Sou eleitor, e elejo o meu ditador, o meu senhor feudal, ou a
minha senhora Bloody Mary.
Sou eleitor, e me perco na minha incerteza, essa que machuca,
que angustia.
Sou eleitor, esse que fica na fila para escolher o melhor, ou o
menos pior.
Sou eleitor, e elejo o meu mandarim, o meu imperador, ou
seria imperatriz?
Sou eleitor, e escolho o dono desse feudo, o dono do poder,
o dono dos cofres públicos.
Sou eleitor, e elejo o meu pastor, eu que ovelha sou.
Sou eleitor, mas aqui fica a pergunta: o pastor não seria um lobo
em pele de cordeiro?
Sou eleitor, e me cubro de terror, o medo de não saber
escolher o ladrão certo.
Sou eleitor, esse animal acuado entre o fogo e o espeto.
Sou eleitor, esse palhaço rodopiando no circo político dessa
sesmaria.
Sou eleitor, patriota, consciente, amante da minha pátria,
carente do meu pastor.
Sou eleitor, elejo os donos das cifras, feudais senhores que
gritam ordens.
Sou eleitor, e diante da urna eu me pergunto: em que direção
devo andar?
Sou eleitor, quem devo eleitorar? Quem devo abraçar?
Sou eleitor, e escolho os samurais, diante dos quais me ajoelho, me
rastejo.
Sou eleitor, e na frente da urna me pergunto: que botão devo
apertar?
Sou eleitor, e, enquanto medito, monologo: serei dele um
escravo? Serei dela um mujique?
Sou eleitor, de quem devo me livrar?
Sou eleitor. Deve ele serrá-la, ou deve ela dilmá-lo?
Sou eleitor...
IRAQUE