O curioso caso do Rabino Emmanuel Muyal
Um rabino como santo popular? Parece até um conto de Millôr Fernandes, mas é verdade. No Cemitério São João Batista, o túmulo do rabino (ou rabi ou ribi, como se fala no Oriente Médio) Emmanuel Muuyal ou Shalom Imanu El-Muyal tornou-se foco de uma devoção popular. Muitos vão ali pedir pequenos milagres e quando atendidos fazem questão de deixarem no túmulo (cercado por um pequeno muro para explicitar a origem não-católica do homem ali enterrado justamente porque na época não existiam cemitérios israelistas em Manaus) votos, agradecimentos.
Hoje seu túmulo se encontra no Cemitério Israelita, ao lado do Cemitério São João Batista, no Boulevard. Foi preciso construir uma grade para que a quantidade de votos não engolisse o próprio túmulo. A Comunidade Judaica de Manaus, a cada ano recitava uma prece pelos que ali descansam, e foi assim que acompanharam, ano por ano, o crescimento da devoção ao "santo rabino milagreiro de Manaus". Turistas israelenses já vieram a Manaus só para conhecer o tão falado rabi, prova de que sua devoção ultrapassou os limites da Amazônia.
Na década de 1980, seu sobrinho, Eliahu Muyal, figura importante na política israelense (membro do Parlamento de Israel e Ministro dos Transportes) tomou conhecimento através de um amigo que foi visitar Manaus que seu tio tinha sido sepultado ali. Logo endereçou uma carta ao presidente da Comunidade Judaica de Manaus, o então professor Samuel Benchimol, pedindo que os restos mortais de seu tio fosse transladados para Israel. Benchimol pensou bastante e respondeu que não poderia fazer isso, já que a comunidade católica da cidade ficaria furiosa ao verem um de seus santos milagreiros serem retirados de sua terra.
Engraçado. O rabi Muyal tinha vindo á Manaus á pedido de seu mentor e grande amigo Rabi Refael Encáua, chefe da Comunidade Judaica Marroquina, justamente para aprofundar o judaísmo na Amazônia e acabou sendo cultuado como santo pela população amazonense que é, em sua maioria, católica. O rabino aqui chegou em 1908 e veio a falecer dois anos depois, vítima de uma doença tropical. Os milagres teriam começado não muito tempo depois de ter sido enterrado. A fama de milagreiro se espalhou e hoje existem inúmeras histórias sobre as "graças alcançadas". Essa é uma das tantas ironias da História. E, no caso, uma boa ironia, uma vez que ajudou a aproximar a população local com a cultura judaica. Mesmo que tenha deturpado um pouco seu significado, esse culto popular é um elo de ligação importante com a comunidade hebraica que tanta importância tem em nosso Estado.
Mais informações sobre o caso do Rabi Muyal:
-Documentário Eretz Amazônia- Os Judeus na Amazônia (2004), dirigido por Alan Rodrigues
-Artigo de David Salgado, A Verdadeira História de Ribi Muyal, na revista digital Morashá.
(publicado em Caminhos da História[www.caminhos-historia.blogspot.com], em 24 de Setembro de 2011).