Bandeiras de outras terras
Fiquei sabendo por um amigo que, na fachada de um banco espanhol, agência localizada no centro comercial da cidade São Paulo, se encontra em posição privilegiada, a bandeira do país de origem da citada instituição bancária. Se alguém sabe dizer se isto é mesmo verdade, por favor, informe no espaço para os comentários a este texto. Fiquei pensando sobre a profunda indignação do meu amigo, no que tem toda a razão.
Ocorreu hoje, em Madri, um fato terrível, de tanta violência que arrepia a alma. Uma mulher grávida foi assassinada enquanto orava em uma igreja por um homem que relação alguma tinha com a vítima. Ato contínuo, o agressor ajoelhou-se frente ao altar e disparou contra si um tiro fulminante. Teria ele deixado um bilhete onde anotara que o diabo o perseguia. A mulher, mesmo morta, foi operada para que se tentasse salvar a criança que ainda vivia no ventre da mãe. A notícia está na web para quem quiser acompanhar o desfecho do infausto evento.
Ah, tá, e que ligação tem a bandeira estrangeira hasteada em território brasileiro e o crime ocorrido em Madri? À primeira vista, nenhuma. Entretanto, cabe recordar que se fala mal do Brasil o tempo inteiro, aqui, ali e acolá. E se fala bem do mundo europeu e dos países ditos civilizados como se fossem paraísos da perfeição humana e este aqui fosse o inferno com todos os seus terrores. Os casos de violência contra a mulher naquela nação européia são corriqueiros. Não sei, quanto às estatísticas, quem é o campeão.
E por falar em campeão e retornando à questão da bandeira, meu pensamento se volta para os anos da minha pré-adolescência e adolescência quando as bandeiras eram símbolos sagrados e, em muitas escolas o costume era, com toda a solenidade, pompa e circunstância conduzido, diariamente, o cerimonial de hasteamento do pavilhão verde, amarelo, branco e azul. Todos cantavam o Hino Nacional e era obrigatório memorizá-lo, inclusive com o nome dos autores da letra e da música. Ai de quem ousasse sair da posição correta de demonstração de amor e respeito.
Aqueles tempos sumiram no horizonte da ditadura, das diretas já e do processo de redemocratização. Nesse ínterim, a transformação foi tamanha que nos perdemos do sadio patriotismo e enveredamos por novos comportamentos ainda não muito bem explicados.
Vimos, repentinamente, formar-se uma cultura de valores questionáveis. Acredito que, no caso da bandeira, tudo tenha começado pelo futebol. Afinal, o Brasil tornou-se famoso, inclusive pejorativamente, por sua competência com a bola; pelo gingado do samba; pelas mulheres e pelo café. A fama se espalhou e nos tornamos craques, país de chuteiras, de mulheres fáceis e mundanas; e do melhor café que sai daqui para a degustação de outros povos.
Quando aqui chegam visitantes ilustres e mesmo os da realeza, trata-se logo de levá-los para uma roda de samba. Nada contra o samba, mas contra essa preguiça turística de procurar outros atrativos para os que aqui chegam.
O rótulo grudou de tal forma que agora está quase impossível removê-lo da garrafa de pinga, outra das nossas especialidades. Isto também não é demérito. Como entornam uma cerveja os alemães e como se afogam na Tequila muitos espanhóis! Sobra para os desta terra a fama de pinguceiros. Sobrou também para ex-presidente Lula, cuja figura aparece associada a uma das nossas cachaças. Quanta marcação! O uísque é uma bebida alcoólica igualmente. Será o preconceito movido pelo fato de nossa aguardente vir da cana?
E a bandeira? Quem sabe, lá esteja tremulando e todo mundo passando sem sequer notar. Agora, você que me lê, diga se acredita que em partidas de futebol, realizadas no sacrossanto espaço verde dos estádios brasileiros, se atreveria alguma Seleção de futebol estrangeiro a empinar a bandeira do país dele em posição melhor que a nacional?
Essa coisa de tanta brasilidade apenas em datas e horários marcados para o futebol me causa tristeza, ao contrário do que causa aos torcedores que aparecem nas telas dos aparelhos de televisão, chorando copiosamente de alegria e amor pela pátria brasileira.
***
Observação: em breve pesquisa pelos sites da Internet, encontrei textos que se referem à questão da bandeira. O pouco que li diz respeito à bandeira do Estado de São Paulo. Então, se não se trata da bandeira nacional, trata-se de um dos estados da Federação. De toda a sorte, se trocaria de bandeira, neste caso, e não de país.