Amy Winehouse um exemplo de quê?

A polêmica cantora inglesa Amy Winehouse de 27 anos, foi encontrada morta em sua residência no bairro boêmio de Camden de Londres, na tarde do dia 23 de julho de 2011, por volta das 16h do horário londrino (13h de Brasília).

Amy Winehouse  teve seu auge em 2008, quando ganhou cinco, dos seis prêmios Grammy a que disputava, lançou dois discos que a tornaram conhecida. Veio ao Brasil pela primeira e única vez em janeiro de 2011 onde realizou cinco shows. A cantora além de contumaz usuária de drogas, tinha o hábito de cancelar shows como fez  com sua turnê europeia após ser vaiada em Belgrado.

Em que pese a meteórica carreira artística da Amy, sendo considerada a “diva da música pop” tenho algumas considerações a fazer, com todo respeito que os mortos me merecem.

Fico vendo os canais de TV, o noticiário do rádio e na Internet. Parece que Amy é ao lado do demente que fuzilou dezenas de pessoas na Noruega a notícia do momento. A famosa polícia inglesa a “New Scotland Yard” parece que perdeu a eficiência dos tempos da brilhantina, quando era capaz de desvendar um crime quase insolúvel em minutos. Até hoje não sabe as causas da morte da cantora. Só a polícia de Londres não sabe ou parece não querer saber até que a biliardária produtora dos discos da Amy venda todos os álbuns pelo mundo e fature mais alguns milhões de libras esterlinas. Imagino que a Scotland Yard receba uma generosa doação para compra de novos equipamentos em breve. Para não ficar mal na fita, estão pressupondo que ela morreu por causa de uma crise de “severa abstinência”, ou seja: querem nos convencer que ela morreu por não usar a droga. Quanta estupidez. Ela não teria a tal crise se nunca tivesse usado. O organismo estava tão dependente que deixar de consumir a substância poderia levá-la à morte. Isso sim é possível, mas quando alguém está em tratamento recebe medicação adequada para superar a crise. Tudo leva a crer que a cantora morreu mesmo de uma overdose com mistura de álcool e anfetaminas pesadas. Ilações maldosas à parte, quero me concentrar na tragédia grega anunciada: a morte prematura da cantora e de tantos outros jovens e adultos que estão morrendo pelo mundo vitimados pelas drogas, pela violência e pelo desamparo.

Nos últimos anos dezenas de celebridades do mundo artístico têm morrido prematuramente pelo uso de drogas. Uma lista com celebridades do mundo do rock vitimados pelas drogas e outras causas pode ser vista na Wikipedia. Você poderá encontre seu cantor predileto lá.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_mortes_de_personalidades_do_rock

Apesar da lista ser enorme a quantidade das não celebridades é infinitamente maior. O Relatório Mundial sobre Drogas de 2008 informa que o Brasil tem cerca de 870 mil usuários de cocaína e que o consumo aumentou de 0,4% para 0,7% entre pessoas de 12 a 65 anos, no período entre 2001 e 2004, o que  equivale ao  acréscimo de cerca de 75%. O Brasil é o segundo maior mercado das Américas, com 870 mil usuários, atrás apenas dos Estados Unidos, com cerca de seis milhões de consumidores. Mas o que dizer do consumo do crack, do ópio e de outras anfetaminas? E quanto ao álcool? São milhões e todos os dias milhares estão morrendo nos becos infectos, nos quartos de hotéis, nas favelas, nas mansões e nos leitos de hospitais. Neste exato momento enquanto você lê este artigo, pelo menos duas pessoas estão morrendo em consequência do uso de drogas. As estatísticas mostram que 20.000 brasileiros morrem a cada ano em decorrência do consumo de entorpecentes ou de crimes relacionados ao tráfico de drogas. E a imprensa ainda está gastando um precioso tempo falando de Amy Winehouse, este péssimo exemplo de equilíbrio e dignidade humana? Que espécie de culto bizarro é esse? Milhares de pessoas estão morrendo diariamente e a imprensa gasta centenas de horas de noticiário para cobrir as flores, os bilhetinhos apaixonados, as homenagens e as virtudes da pop star viciada em drogas? Que mídia é essa? Que valores são estes que estão cultivando?

Será que algum jornalista sensato terá coragem de cobrar da sua emissora uma atenção maior a problemas como estes que estão publicados neste site?

 

http://www.polmil.sp.gov.br/unidades/damco/drogas.asp

O cantor Cazuza que morreu aos 32 anos de Aids e foi um contumaz consumidor de drogas injetáveis, assumido bissexual, rebelde e boêmio, foi também o autor de uma belíssima canção dentre as mais de 200 músicas que compôs em nove anos de carreira. Ele cantava:

“Meu partido

É um coração partido

E as ilusões

Estão todas perdidas

Os meus sonhos

Foram todos vendidos

Tão barato

Que eu nem acredito

Ah! eu nem acredito...

Que aquele garoto

Que ia mudar o mundo

Mudar o mundo

Frequenta agora

As festas do "Grand Monde"...

Meus heróis

Morreram de overdose

Meus inimigos

Estão no poder

Ideologia!

Eu quero uma pra viver

Ideologia!

Eu quero uma pra viver...

O meu prazer

Agora é risco de vida

Meu sex and drugs

Não tem nenhum rock 'n' roll

Eu vou pagar

A conta do analista

Pra nunca mais

Ter que saber

Quem eu sou

Ah! saber quem eu sou..

Pois aquele garoto

Que ia mudar o mundo

Mudar o mundo

Agora assiste a tudo

Em cima do muro

Em cima do muro...

Meus heróis

Morreram de overdose

Meus inimigos

Estão no poder

Ideologia!

Eu quero uma pra viver

Ideologia!

Pra viver...”

A canção é uma ode à desilusão. Para o poeta, era patente que havia a necessidade de uma nova ideologia para viver. Mesmo aqueles que poderiam servir de inspiração e modelo de vida tinham sucumbido de alguma forma trágica e prematura. Os que não queríamos jamais ver no poder estavam lá, eternamente plantados e mantendo o intocável status quo da corrupção.

Você já ouviu falar da inglesa de 30 anos chamada Julie Williams? Claro que não. A mídia não deu qualquer destaque a essa jovem professora de Genética Neuropsicológica na Universidade de Cardiff, na Grã-Bretanha, que lidera uma das pesquisas mais importantes do mundo para descoberta de tratamentos do mal de Alzheimer. O mesmo é válido para outros tantos cientistas espalhados pelo mundo que estão lutando para descobrir fórmulas para tratar o câncer, a Aids, a pneumonia e tantas outras doenças mortais. Ou ainda pesquisadores que estão investigando as causas da violência, descobrindo tratamento para água poluída e revelando novas fontes de energia não poluentes. A imprensa quando fala dessas pessoas, reserva uns poucos segundos e imediatamente pulam para o noticiário esportivo ou do para reprisar fofocas do mundo das celebridades. Quando morre um cientista famoso, mal falam dele em um noticiário e imediatamente pulam para o último escândalo da família real britânica, o ventre proeminente do Ronaldo ou outra baixaria irrelevante.

Sem querer discriminar ninguém pois não é esse o mote do meu artigo, creio que deveríamos começar uma campanha para sabotar as emissoras de rádio e TV que gaste nosso precioso tempo reprisando a morte de Michael Jackson, Amy Winehouse ou qualquer outra personalidade carcomida pelas drogas. Também deveríamos mudar o canal (se é que tem algum que preste) quando estiverem alardeando as mortes provocadas pelo último matador em série ou besta humana que assassinou crianças, jovens e adultos em algum lugar do mundo. Creio que já temos motivos de inspiração para o mal em excesso no mundo. Precisamos de notícias do bem, precisamos de exemplos de dignidade, modelos de equilíbrio e verdadeiro sucesso.

Amy Winehouse pode ter sido uma boa cantora para os que gostam do estilo de música dela, mas com certeza estaria ainda cantando por muito tempo como poderiam estar Michael Jackson, Elvis Presley, Jimi Hendrix, Cássia Eller, Cazuza e Renato Russo. Quanto a Amy, eu não gostava do jeito dela e nem sei direito o que ela fez além de se matar usando drogas.

Seja como for, precisamos louvar os cantores que ainda estão por aqui e são exemplos verdadeiros de sucesso... não precisam de drogas para fabricarem sucesso e prestígio.

(*) Mathias Gonzalez é psicólogo e escritor.

http://mathias.gonzalez.sites.uol.com.br

MGonzalez
Enviado por MGonzalez em 29/07/2011
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