Críticas e perversidades
“Sempre foi assim na história dos homens sobre este mundo”.
É o que dizem muitos quando a referendar ações inspiradas pelo mais puro egoísmo. Pra dizer pouco sobre aqueles que, de perversidade em perversidade, conquistaram o direito (?) de nos dominar. Poderia eu classificá-los de filhos de putas, se não houvesse no mundo tantas putas indignas de serem reconhecidas mães de tais canalhas. Poderia eu utilizar qualquer palavrinha com peso de palavrão, se qualquer palavrão não fosse inapropriado para qualificar satisfatoriamente quaisquer tantos daqueles que somente deveriam ser reconhecidos animais entre os poucos humanos existentes – não fossem os comportamentos dos animais absolutamente isentos da maldade desumana que tem imperado sobre o planeta desde que se desenvolveu a inteligência entre bestas.
“Sempre foi assim na história dos homens sobre este mundo”, insistem muitos, mas tenho muito daquele idiota dostoievskiano. Em minha idiotice, chego mesmo a pensar que deveria ter de fato algum poder divino para identificar e eliminar imediatamente os tantos e tantos pequenos e grandes acionistas do mal sobre este mundo. Em meu exercício de poder aniquilá-los, longe de mim exercícios de perversidade a vê-los sofrer quaisquer tipos de torturas antes da morte; embora, considerando as sugestões de Moisés, e esquecendo as idiotices mestras de Jesus Cristo, também tenha tido vontade de estuprar aqueles e aquelas que nos tem estuprado, graças a renúncias aos sentimentos cristãos, que não me estimulam mais a amar meus inimigos ou tolerar sequer as conseqüências de minha própria ignorância. E se assim é, que dizer de suportar esta multidão de dementes levada por estímulos de desejo e babaquices que aqueles “donos do mundo”, ao seu bel prazer, geraram em cabeças ocas?
Embora seja evidente, não posso admitir possível que, depois de milênios de experiências existenciais e relacionamentos, não tenhamos feito evoluir sequer um dia nossa consciência cidadã, não tendo sido possível aos processos de Educação tornar as pessoas sensíveis e definitivamente cônscias de certas verdades essenciais.
Até aqui, tais dementes não consideram suficientemente a vida dos outros; e muito menos seus direitos de, graças ao trabalho e sacrifícios de muitos, viverem num mundo melhor do que foi o nosso. Porque foi graças aos trabalhos e sacrifícios de inúmeros passados que hoje usufruímos o conforto de uma lâmpada elétrica e dos aviões, entre tantas outras conquistas que sequer imaginamos virem por aí.
Dessa forma, reconsiderando evoluções, o espírito cidadão da maioria me parece ser ainda embrionário. Um exemplo disso pode ser encontrado em pequenas atitudes cotidianas. Por exemplos, muitos tem agido como aquele preguiçoso que temos em casa, que não apanha um papel do chão da sala porque não foi ele quem o colocou lá. Além dele, há aquelas megeras que lotam os supermercados e se sentem no direito de interromper o fluxo das pessoas que passam próximas dos caixas, pondo seus carrinhos de compras em filas a interromper a passagem.
A lista de atitudes individualistas e de evidente desconsideração aos outros é imensa e todas elas denunciam a inconsciência ou, por outro lado, a perversidade daqueles que sequer sabem ainda que existem e, portanto, de que vivem em relações uns com os outros, essencialmente a compartilhar experiências e deduzir soluções para os muitos problemas coletivos existentes.
Mas, a despeito dos esforços de alguns de boa vontade sobre esta terra, daqui que o mundo seja como deve ser, até que aquele nosso preguiçoso dê sua pequena colaboração para a harmonia, nosso mundo ainda será mesmo, por muito tempo, entre críticas construtivas e perversidades, aquilo que sempre foi.