Robert BrownJohn (1925-1970)
Robert BrownJohn (1925-1970)
Filho de ingleses residentes em Nova Jersey, (o pai era motorista de ônibus), fã de jazz e amigo pessoal dos ícones Miles Davis e Charlie Parker, (e igualmente amigo da heroína durante incerto período), ao longo de sua carreira Robert BrownJohn manteve um estilo de vida pautado na rapidez e na intensidade, tudo com devoção integral a sua arte, sua teoria do Designer Gráfico e do seu método de trabalho. Ele comia, bebia e falava com extravagância, teve os mais altos salários e foi amigo de estrelas do rock, artistas gráficos e plásticos, modelos, atores, atrizes, etc.
Parece que, sem exceção, todos que o conheceram pessoalmente concordam que em torno dele havia uma aura cintilante. A revista Architectural Forum expressa que talvez ele seja o mais talentoso estudante formado pelo Chicago Institute of Design, uma instituição que, diga-se de passagem, tinha sérias dificuldades administrativas e financeiras, mas era estimulada por um formidável mentor. László Moholy-Nagy, um dos papas da Bauhaus, adepto da filosofia: A arte e a vida podem ser integrados. O verdadeiro artista é em si mesmo uma pedra de amolar – ele afia seus sentidos – seus olhos, mente e sentimentos e interpreta idéias e conceitos através de seu próprio cerne”.
Na sua curta trajetória BrownJohn ajudou a redefinir as artes gráficas, movendo-as da formalidade para a arte conceitual. Seus projetos exemplificam cada aspecto de seu relacionamento com o design incluindo sua ênfase no conteúdo através de imagens ora usuais, ora pessoais e mostrando em cada trabalho uma inventividade além de seu tempo.
“Bj”, sua assinatura e como era chamado, chegou no Institute of Design em 1944. Trabalhou com László Moholy-Nagy em propaganda e exposições de arte e foi apontado como um estudante de arquitetura excepcional por Serge Chermayeff. Após deixar o instituto em 1947, ele permaneceu em Chicago como free-lance para várias agências de publicidade e escritórios de arquitetura, até Chermayeff convidá-lo para retornar a vida acadêmica, em 1949. Professor sem diploma aos 24 anos, Bj ficou cerca de um ano no cargo, até partir para Nova Iorque.
Para se sustentar em NY, BrownJohn permaneceu na estrada do produtor independente para grandes agências. Integravam a clientela Columbia Records e Pepsi Cola. Em 1956 ele se casou com Donna Walters e em 1957 juntou forças com Ivan Chermayeff e Tom Geismar. O objetivo da BrownJohn Chermayeff & Geismar era a busca por novas idéias e imagens e mais, na melhor solução conceitual. Nesse objetivo estava clara a noção de não se limitar em apenas deixar a embalagem vistosa, mas sim resolver o problema através da inventividade de forma e conteúdo.
Bj olhava o mundo à sua volta em busca de novas idéias, NY era um caldeirão fervilhante, algumas fontes sugerem ter sido o local da eclosão de sua paixão pela música e pela heroína, bem como da amizade com o artista Andy Warhol. Não raro ele e os sócios partiam em pequenas excursões para localidades próximas (Coney Island, por exemplo) quando um deles formulou que quanto mais fresca a essência, melhor o resultado. No mais, BrownJohn acreditava que se uma idéia não podia ser descrita por telefone então não era simples, clara e direta o suficiente para ser trabalhada.
BrownJohn Chermayeff & Geismar foi muito bem no primeiro ano e os sócios celebraram o aniversário do empreendimento com suas famílias. Sara Chermayeff, esposa de Ivan, lembra que Bj mandou a sobremesa: uma porção gigante de gelatina coberta de moedas. Um autêntico representante da Pop Art.
Após dois anos a sociedade se desfez amigavelmente. Com a mulher, Donna, a filha, Eliza, BrownJohn se muda para a Inglaterra, indo trabalhar para J. Walter Thompson como diretor de criação. Seu estilo era uma experiência nova para o staff da JWT. Bj interessava-se em achar objetos e tipografias tidas como “junk” nas ruas de Londres, fazia horários extravagantes – boa parte do tempo estava ausente e de certo modo pode-se dizer que meditava. O fato é que se tornou o maior salário da agência, e se num primeiro momento isso causou certa dose de ressentimento entre seus pares, não tardou muito para que ele fosse aceito, respeitado e amado.
Diversas fontes inspiraram esse artigo, até mesmo para validá-lo como tal e não como uma mera tradução, entre elas a apresentação do Art Directors Club de Nova Iorque, que pincela a vida desse Gênio da Comunicação com tons róseos e doces. Outros artigos, entretanto, demonstram lados menos favoráveis. Se a ida de Bj para Londres foi providencial em termos artísticos, deve-se ao uso de heroína seu convite de saída dos USA.
Pouco tempo depois a McCann-Erickson o contrata e Bj faz seu primeiro destaque através de uma criação para a fábrica de meias Taylor-Woods. No intento de convencer mulheres exaustas com pernas mais cansadas ainda a comprarem meias caras, Bj encomenda uma foto pxb com pernas glamurosas, enfocadas quase como uma abstração de sensualidade (há quem diga que a pose remete a uma escultura de Constantin Brancusi), e coloca o seguinte texto para completar o anúncio: “A garota que gasta uma ninharia num par de meias merece ter suas pernas examinadas”. A peça ganhou todos os prêmios possíveis, dentro e fora da Inglaterra. David Burnstein, executivo da agência, disse acerca de BrownJohn: “Ele é um grande sintetizador, algo diferente e superior a um simplificador”.
Ao mesmo tempo em que trabalhava na McCann-Erickson, Bj foi contratado, como free-lance, para fazer a titulagem do saudoso James Bond “From Rússia with Love”. Alan Fletcher, designer peso pesado e contemporâneo de Bj descreve como foi a apresentação do conceito para os produtores: “Ele ligou o projetor, pediu para que todos se sentassem, apagou as luzes, tirou o paletó e a camisa e ficou saltitando na frente dos títulos que vinham da projeção. Então disse: é basicamente isso, apenas usem uma menina bonita”.
Em bom português poderia ser escrito que BrownJohn pintou e bordou com a sua arte. Em 1959 apresentou para a Pepsi Cola o célebre pôster relativo ao relatório anual da empresa - sobre um fundo azul, tampinhas de garrafa vão se perfilando num crescendo. Dentre outros grandes trunfos de sua carreira como designer deve-se somar a capa de um album dos Rolling Stones - Let It Bleed – além de criações para o Midland Bank, American Craft Museum e Pirelli.
O episódio com James Bond simplesmente lhe rendeu mais uma empresa, desta feita ligada ao ramo cinematográfico – a Camell Hudson & BrownJohn. Ele dizia usar a arquitetura como modelo de comparação. “Arquitetura é o grande catalisador do design. Ela fornece o senso de estrutura e a disciplina necessária para a composição final. Gosto de trabalhar com cinema por se tratar de uma mídia arquitetônica. Fazer filmes é construir no espaço”. Já, nas palavras de seu sócio David Camell: “Ele é um experimentador incansável sempre dando a impressão de ser um amador”.
Da sua incursão no cinema destacam-se também “Goldfinger” e “A Noite dos Generais”.
BrownJohn partiu desta para a próxima aos 44 anos de idade, no mês de agosto de 1970, em Londres, faltando 8 dias para completar o quadragésimo quinto aniversário. Seu último projeto foi para um amigo de longa data em NY, que havia idealizado uma série de posters sobre a paz feita por artistas consagrados. Bj usou o ás de espadas do baralho, (nalguns meios tida como a carta da morte), e de próprio punho escreveu PE antes do A da carta (ace, inglês para ás, sendo o resultado PEACE), colocou um ponto de interrogação no final, e, no rodapé, Love – Bj.
A aura cintilante fora para outra esfera e sua assinatura de despedida não poderia ser mais adequada.
(Imagem: Peace? - Poster for the New York Peace Campaign,1969)