EGO_ENTENDENDO SUA CONSTRUÇÃO

O ego é construído, basicamente, em cima do medo. Ego e medo andam de mãos dadas. Onde há ego há medo e vice-versa. Obviamente, estou falando do medo psicológico. Não estou me referindo ao tipo de medo vivenciado quando estamos prestes a sofrer algum dano físico, por exemplo. Estou me referindo ao medo da vida e de suas mudanças, o medo da impermanência ou, então, ao medo de mergulhar fundo na vida, em busca de novas aventuras.

O ego é um fenômeno virtual. Ele só existe quando tentamos afirmar o nosso próprio “eu”. Ego e “eu” são sinônimos. Assim, se pararmos um pouco e olharmos para dentro de nós mesmos não encontraremos nenhuma entidade chamada “eu”. Assim, o ego é uma ficção, mas uma ficção que insiste em se proteger quando não nos relacionamos com a vida abertamente, sem nenhuma máscara.

Quando nascemos não trazemos um ego para este mundo. Quando nascemos viemos a este mundo como uma tabula rasa. Dessa forma, aquilo que chamamos “eu” é lentamente construído em torno do nosso assim-chamado processo educacional. Quando aprendemos com os nossos pais, por exemplo, a dizer “meu”, “minha” damos início à formação de uma forma bastante sutil do “eu”. Posteriormente surge a identificação com o nome e com a forma. Repetidamente ouvimos o nosso nome e a cada dia, olhando no espelho, começamos a acreditar que somos um corpo.

O ego carrega a ilusão de ser uma entidade separada da vida, do mundo e dos outros. Se pudesse defini-lo em poucas palavras, diria que o ego é a crença em si mesmo; uma crença que mais tarde se tornará um vício em nossas vidas. Então, olharemos para o mundo não como ele é, mas como nós somos. O “eu” é como uma fina película que se coloca entre nós e a vida. É, também, o filtro que criamos para nos relacionarmos com o todo, um filtro impermeável à verdade.

Portanto, experimentamos o mundo em função do ego. Um ego mais aberto olhará para o mundo de uma forma mais aberta. Um ego mais fechado olhará para o mundo de uma forma mais fechada. Assim, nasce o sofrimento. Se a vida parece perigosa demais, é preciso fechar-se para ela. Sim, para o ego a vida parece perigosa demais. Para o ego, a vida é uma batalha constante, onde apenas os mais fortes poderão sobreviver. O ego não conhece o amor!

Entenda: o ego se parece mais com uma ferida. Por isso, ele se protege tanto. Através dos seus mecanismos de defesa – basicamente a negação e a projeção – ele evita qualquer interferência vinda de fora. O ego é um pequeno universo; um universo voltado, basicamente, para a defesa de seus próprios interesses.

No caminho espiritual precisamos, mais cedo ou mais tarde, lidar com a questão do ego. Assim, muitas pessoas se jogam numa luta fadada ao insucesso. Acreditando ser o ego uma entidade sólida e concreta, os assim chamados buscadores espirituais se lançam em um jogo cujo único objetivo é derrotar este inimigo tão cruel. Porém, conferir realidade ao ego é como conferir realidade a uma sombra. Não há como lutar contra uma sombra! Tudo o que podemos fazer é aceitá-la e deixar a vida seguir seu ritmo. Assim é com o ego. Não é necessário lutar contra ele. Lembre-se: ele, o ego, não existe ou sua existência é apenas virtual.

Qual é, então, o trabalho correto a ser feito com o ego? Observá-lo, compreender o seu funcionamento. Assim, meditação é a palavra básica. Através da meditação começamos a entender um pouco mais o modo como ele opera. Através da meditação compreendemos a sua não existência. Sim, porque quando olhamos para dentro não enxergamos nada, exceto um amontoado de emoções, sensações, pensamentos e sentimentos. Nada além disso! O ego, portanto, não significa nada. Apenas quando reafirmamos o nosso “eu” ele parece surgir. Portanto, quando olhamos para dentro e não encontramos nada, resta apenas a mais pura consciência. Você é isso! Você é pura consciência! Uma consciência clara e lúcida, impossível de ser nomeada, impossível de ser rotulada ou localizada.

ALEUZEBIO
Enviado por ALEUZEBIO em 09/05/2011
Código do texto: T2959138