Análise de Poemas de Florbela Espanca - Letras UFRGS
Mentiras
Aí quem me dera uma feliz mentira
Que fosse uma verdade para mim!
J. Dantas
Tu julgas que eu não sei que tu me mentes
Quando o teu doce olhar pousa no meu?
Pois julgas que eu não sei o que tu sentes?
Qual a imagem que alberga o peito meu?
Ai, se o sei meu amor! Em bem distingo
O bom sonho da feroz realidade...
Não palpita d’amor, um coração
Que anda vogando em ondas de saudade!
Embora mintas bem, não te acredito;
Perpassa nos teus olhos desleais
O gelo do teu peito de granito;
Mas finjo-me enganada, meu encanto,
Que um engano feliz vale bem mais
Que um desengano que nos custa tanto !
Análise: Soneto Clássico
1º Quarteto e 2º Quarteto – Rima o primeiro verso e o terceiro verso
o segundo verso e o quarto verso respectivamente
1º e 2º Terceto – Rima o primeiro e terceiro verso
O poema gira em torno da mentira, engano ,negação do amor. A mulher que deseja o amor mesmo que ele ( o amor) seja através do desengano
A mulher suplicando pelo amor, finge acreditar para a dor ser menos sentida.
Nostalgia
Nesse país de lenda, que me encanta,
Ficaram meus brocados, que despi,
E as jóias que p’elas aias reparti
Como outras rosas de rainha santa!
Tanta opala que eu tinha! Tanta,tanta!
Foi por lá que as semeei e que as perdi...
Mostrem-me o reino de que eu sou infanta!
Ó meu pais de sonho e de ansiedade,
Não sei se esta quimera que me assombra,
É feita de mentira ou de verdade!
Quero voltar! Não sei por onde vim...
Ah! Não ser mais que a sombra duma sombra
Por entre tanta sombra igual a mim!
Análise: Soneto Clássico
1º Quarteto e 2º Quarteto – Rima o primeiro verso e o terceiro verso
o segundo verso e o quarto verso respectivamente
1º e 2º Terceto – Rima o primeiro e terceiro verso
Saudosismo, através do despojamento de vestes e jóias. A vontade de conhecer o seu verdadeiro pais. A dúvida que assombra se este pais é real fictício, ou apenas fruto da saudade e querer exacerbado
A questão feminina está no vocábulo “infanta”, herdeira do reino
Análise: Análise: Soneto Clássico
1º Quarteto e 2º Quarteto – Rima o primeiro verso e o terceiro verso
o segundo verso e o quarto verso respectivamente
1º e 2º Terceto – Rima o primeiro e terceiro verso
EU...
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...
Sobra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...
Sou talvez a visão que alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra ver,
E que nunca na vida me encontrou
Análise: Soneto Clássico
1º Quarteto e 2º Quarteto – Rima o primeiro verso e o terceiro verso
o segundo verso e o quarto verso respectivamente
1º e 2º Terceto – Rima o primeiro e terceiro verso
A primeira estrofe do soneto é de uma tristeza e desencanto atroz, a desesperança segue no decorrer a maldizer o destino e a sorte, tendo como conseqüência a morte. Chega a tornar-se invisível, sua negação do “ser”, até seu pranto não tem explicação, tantas são as dúvidas que nos temos durante a vida , e passamos a questionar a efemeridade da existência.