Análise de Poemas de Fernando Pessoa - Letras UFRGS

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração

Análise:

( O poeta é um fingidor.) Na primeira frase, primeiro verso o autor é taxativo, quanto à adjetivação do ser poeta, não deixa margem para outra interpretação, do que o poeta finge.Mesmo as dores sofridas são relegadas, para que o fingimento abra espaço para a dor fingida ser sentida.

Este fingimento é tão bem apresentado, que passa aos seus leitores a sensação da dor, que para eles é problema do poeta, pois eles sentem a dor fingida.

Isto

Dizem que finjo ou minto

Tudo que escrevo. Não.

Eu simplesmente sinto

Com a imaginação.

Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,

O que me falha ou finda,

É como que um terraço

Sobre outra coisa ainda.

Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio

Do que não está ao pé,

Livre do meu enleio,

Sério do que não é.

Sentir? Sinta quem lê!

Análise:

Neste poema as emoções são deixadas em segundo plano, e o poeta lança mão da imaginação.

A separação entre sensações e emoções, está centrada na figura em que o poeta situa-se num terraço, portanto acima de tais sentimentos.

Tido como continuação do poema “Autopsicografia”, o poeta joga ao leitor, a responsabilidade, do sentir, e julgar a sua maneira, visando a inteligência e a emoção.

JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES
Enviado por JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES em 07/05/2011
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