Vida e morte sob uma perspectiva matrix/espectrom: de volta à Matriz

Algumas inovações teóricas abrem possibilidades místicas anteriormente não vislumbradas. Dois novos conceitos cyber ilustram bem essa perspectiva.

O filme Matrix retomou uma antiga conjetura elaborada por Descartes de uma maneira inverossímil, e a atualizou para os nossos tempos. A sugestão é de que o mundo que percebemos ao redor não passa de uma matriz criada em um computador. Teríamos acesso apenas ao mundo virtual, como se vivêssemos um videogame do qual nunca escapássemos.

Uma possibilidade mística, entre tantas, sugerida pela matriz corresponde à reencarnação: poderíamos viver múltiplas vidas como diferentes fases de um mesmo jogo. A mesma conjetura também possibilita a vivência de uma quase eternidade, já que não estaríamos circunscritos às dezenas, ou talvez centenas de anos que correspondem às nossas vidas, mas a um número múltiplo e ignorado de vidas, virtualmente ilimitado.

Conjetura muito menos explorada, mas igualmente profícua para elucubrações místicas, consiste no conceito espectrom. Em seu romance cyberpunk, William Gibson vislumbrou a possibilidade de uma vida eterna virtual. Podemos ilustrar o conceito com a seguinte sucessão de imagens aproximadas. Uma fotografia pode capturar algumas facetas de uma pessoa. Podemos com uma delas, evocar lembranças de uma pessoa ausente e querida, mas a foto não passa de uma recordação distante.

Uma cena de vídeo pode capturar muito mais detalhadamente, não só o as feições da pessoa, mas seus movimentos e expressões, sua voz e alguns de seus atos. Mas tais recordações nunca passam de uns minutos que sempre se repetem.

Gibson imaginou uma “câmera” que filmasse a própria alma da pessoa. Não apenas sua voz e feições seriam gravadas, mas também os seus desejos, seus modos, opiniões, sua própria alma ficaria gravada na memória, juntamente com as imagens de seu corpo. Esse espectro, poderia ser vivenciado em uma realidade virtual, em um mundo computadorizado, à maneira matrix. Nesse universo, poderíamos reencontrar nossos entes queridos que já se foram, conversar com eles, acariciá-los, pedir seus conselhos, e em suma, conviver eternamente com todos aqueles que nos foram caros.

Espectroms ainda são uma ficção, mas suponho que já ninguém duvide ser apenas questão de tempo conseguirmos gravar não apenas uns breves momentos das pessoas que amamos, mas sua própria alma.

Também não podemos descobrir se não somos nós mesmos os próprios espectrons, vivendo eternamente em uma imensa matriz futurística.

Há também um conceito, esse advindo da física, que amplia ainda mais todas estas possibilidades, trata-se da idéia desenvolvida por Hugh Everett de muitos mundos coexistindo simultaneamente. Essa idéia foi elaborada com o intuito de dar coerência à mecânica quântica, a visão de mundo na qual os físicos de hoje dizem acreditar.

De acordo com essa idéia, a cada momento o mundo se desdobra em inúmeros universos paralelos, o que amplia muitíssimo as possibilidades de vida após a vida esboçadas acima, mas isso já é outra história...

Nota: espectrom é um espectro, ou fantasma, vivendo em uma memória ROM.