Memórias de uma costureira

Memórias de uma costureira

Estudo biográfico de Ana Aurora Fagundes Franco para demonstrar as diferenças nos modos de vida do início do século XX aos dias atuais.

Este artigo se constituirá em um estudo biográfico de Ana Aurora Fagundes Franco (1916-) com objetivo de mostrar as diferenças nos modos de vida do início do século XX aos dias atuais por meio da análise da origem das minhas raízes familiares maternas, seus costumes e tradições.

Ana Aurora F. Franco, 94 anos

A vida de Ana Aurora F. Franco

Nascida em Clevelândia no dia 24 de agosto de 1916, Ana Aurora Fagundes Franco tinha 5 irmãos, dos quais poucos ainda continuam vivos. Filha de João Fagundes da Silva e Benavenuta Pinheiro da Silva ela tem muitas lembranças de sua história, das quais muitas se relacionam aos primeiros 10 ou 12 anos. O pai que lhe ensinou durante o período que ela estudou, ou seja, até a 6ª série, era professor, além disso, carpinteiro, marceneiro, alfaiate e barbeiro, o fez em casa. A mãe Benavenuta, fazia trabalhos manuais, como por exemplo, plantio e colheita dos alimentos, costura. Sua família humilde, mas honesta, se mudou muito de lugar para morar, sem, no entanto, sair do estado do Paraná. Dentre as cidades que eles moraram, estão Mariópolis, União da Vitória e Pato Branco.

Dentre suas principais lembranças, destaco a situada no período da Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas assume a presidência e interrompe o ciclo “café-com-leite”.

“João Pessoa, João Pessoa, o teu vulto varonil, vive ainda, vive ainda, no coração do Brasil.” (Ana Aurora Fagundes Franco)

Essa canção entoada para João Pessoa, que segundo ela, era filho ou sobrinho de Getúlio, marcou no sentido de que na época ela cantava essas músicas e esta foi uma que ficou marcada na sua vida.

Segundo Fabiano Junqueira e Paula Lou Ane Matos Braga, a partir dos anos 1980, a historiografia admite que a relação entre história e memória é mais uma oposição do que uma complementaridade, ao mesmo tempo que fornece à história o status de produtora de memórias. Analisando esse ponto de vista teórico, pode-se dizer que a memória além de ser falha traz uma análise superficial do fato por partir de um ponto de vista singular, no entanto, fornece à história certo conhecimento do passado por apresentar uma visão mais conterrânea ao fato analisado. Portanto, é válida qualquer lembrança que a entrevistada Ana Aurora tenha do período getulista dos anos 1930, pois ela viveu o período, mesmo que indiretamente.

A principal atividade desenvolvida por Ana Aurora foi a costura.

“Costurei muito pra gola lá, na fazenda, não faço mais, agora só costuro, tenho 94 anos...” (Ana Aurora Fagundes Franco)

Máquina de costura de Ana Aurora F. Franco

Na costura ela trabalhou profissionalmente durante 18 ou 20 anos, além disso, ela fez trabalhos agrícolas manuais como plantio de trigo, arroz, entre muitos outros. Esse trabalho manual foi herdado dos pais e do próprio local de nascimento, uma fazenda no município de Clevelândia no interior do Paraná, portanto, se constitui em uma herança familiar.

Fazendo nova ponte com os teóricos citados, a relação história e memória ainda implica novas indagações com relação aos fatos, coletivos ou individuais que produziram ressentimentos a quem deles foi vítima. Assim, segundo Ansart, há quatro atitudes possíveis que atravessam simultaneamente a memória que, nesse caso, é individual. São elas: a tentação do esquecimento, da repetição, da revisão e da intensificação da memória dos ressentimentos. Essas atitudes se percebem na reação da entrevistada quanto às lembranças da cidade de União da Vitória, pois foi o lugar onde ela perdeu tudo, vítima de um jogo chantagista de um vigarista da cidade.

“Lá que eu perdi todos os meus teres (patrimônio)... em União da Vitória, meu marido (Amâncio José Franco) não fazia nada, não era advogado... os advogados deram tudo para um vigarista.” (Ana Aurora Fagundes Franco)

Chegou a Curitiba há mais ou menos 60 anos, e relembra uma cidade pequena, que não tinha nada comparada a de hoje, no entanto, já insegura, com muitos ladrões. Faz uma comparação com Mariópolis, onde morou muitos anos, participou de muitos bailes festivos, e da qual guarda muitas boas lembranças, que na mesma época era maior e tinha maior importância. Apesar disso, gosta de Curitiba, principalmente por ser o local de nascimento das duas filhas, onde elas construíram suas vidas profissionais e suas famílias e onde nasceu seus netos também.

Atualmente, como se sabe, o Brasil, assim como a própria Curitiba é dominado pelas inovações tecnológicas, a economia capitalista, fazendo com que as tradições e os costumes das gerações da primeira metade do século XX fossem sobrepostas por um domínio norte-americano, iniciado, sobretudo, após os dois conflitos mundiais.

Curitiba nesse meio tempo, também se modernizou, sobretudo, nas décadas de 1970 e 1980, com a modernização urbana, do sistema público de transportes, inovador mundialmente na época, criação de novos bairros, crescimento da própria cidade, tanto geograficamente como em população.

Hoje em dia, Ana Aurora mora com a filha mais velha na casa aos fundos, costuma fazer crochê e aos 94 anos se sente muito orgulhosa da família, principalmente do pai, do qual falou muito durante a entrevista.

Saiba mais:

FENIANOS, Eduardo Emílio. Almanaque Kurytyba. Curitiba: Univer Cidade, 2006.

SACHS, Ignacy, WILHEIM, Jorge e PINHEIRO, Paulo Sérgio (org.) Brasil, um século de transformações. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

Marcel Franco Lopes, História (bacharelado) 5ºperíodo

Marcel Lopes
Enviado por Marcel Lopes em 19/02/2011
Código do texto: T2801537
Classificação de conteúdo: seguro