Rock Rio (IN RIO)
Rio das Ostras, verão de 1991.
Chegamos para passar deliciosos e despreocupados dias entre família e amigos nesse balneário que na época era um manancial de longas praias desertas, calmas lagoinhas como a Lagoa da Coca-Cola e belos montes com fazendas que começavam à beira da estrada e iam findar por detrás dessas suaves cadeias onduladas de matos verdes onde pastavam serenas vaquinhas brancas.
Sempre fui muito familiar, gosto de estar em companhia de muita gente, casa cheia, mesa farta, gente que não pára de falar, contar anedotas e sorrir. Isso até alta madrugada sem ter hora pra acabar. Cervejada, churrasco e boa música. Porém, com meus 17 anos me sentia dividida, cabeça em outro lugar, saquei da bolsa meu inseparável diário e comecei a escrever: saudade dos meus amigos, da minha melhor amiga de adolescência e do meu (talvez) namoradinho. Pois pode parecer que as coisas mudaram nessa coisa de “ficar”, mas na minha época era igual, a gente nunca sabia se estava ou não com o carinha, e ficava sonhando com o tal, no possível reencontro, sem sequer saber se estávamos namorando ou não.
Na verdade, o que me incomodava é que todos os meus amigos, sempre mais velhos que eu, e inclusive o meu “suposto namoradinho” iriam todos se esbaldar no Rock in Rio, e eu na época ainda era regida pelas regras de meus pais: NEM PENSAR EM IR A UM FESTIVAL DE ROCK CHEIO DE MACONHEIROS!
Esse era a palavra final de minha mãe. E eu não parava de pensar nisso!
Tirei meu walk-man amarelo da mochila (naquele tempo nem pensar em MP3, 4 ou 5, o negócio eram ridículos tijolões que comportavam nossas fitas K7 gravadas no rádio cheias de chiadeira em péssima qualidade, mas era tudo que podíamos fazer para escutar os novos lançamentos dos nossos ídolos), apertei o play e comecei a me deliciar com a suave voz de Morten Haket, vocalista de uma das minhas bandas preferidas, A-ha, e a sensação de que eu estava voando por sobre a estrada direção ao Rio, ao Rock in Rio veio em minha mente de olhos cerrados, sob os belos acordes de suas canções. Não podia me conformar ao pensar que “todos” estariam lá menos eu, “garotinha mimadinha da mamãe”. Que merda, eu queria assistir meus ídolos e beijar na boca do João Luís (meu quase namoradinho ficante)!! Além disso, lá estariam quase todas as bandas e cantores que eu SEMPRE, ENLOUQUECIDA, QUIS ASSISTIR AO VIVO: A-HA, Billy Idol, Colin Hay, Debbie Gibson, Dee-Lite, Faith No More, George Michael, Guns N’Roses, Information Society, INXS, , Lisa Stansfield, New Kids on the Block, Prince, Santana e SNAP. E cá estava eu... em Rio das Ostras. Fazer o que? Antigamente era assim, onde a vaca e o boi iam os bezerros deveriam estar...
De maneira que estou muito feliz com essa nova edição do Rock in Rio 2011. Mas o que eu queria realmente dizer não é isso...
Que palhaçada foi essa de fazer o NOSSO FESTIVAL QUE TANTO MARCOU MINHA ESTÓRIA DE VIDA EM OUTROS PAÍSES?
Rock (in Rio) em Lisboa? Rock (in Rio) em Madri? Que que é isso?
Aí vi na internet que o Medina queria “globalizar” a marca Rock in Rio, mas como assim? Rock in Rio só pode ser no Rio, ou o Rio de Janeiro mudou de pátria? Brasileiro tem essa mania de querer levar pros outros o que é só nosso...
Por acaso alguém já ouviu falar de Touradas de Madrid em Sampa, Festival de Woodstock em Belém do Pará ou Festa da Tomina* no Rio de Janeiro?
Se isso vira moda o Festival Bumba-meu-Boi de Parintins vai ser realizado onde? Imagine? Festival de Parintins em Hong-kong, Círio de Nazaré em Trás-os-Montes, Bonecão de Olinda em Madrid e Maracatu na Cidade Proibida, na China?
De qualquer forma agora, provavelmente não vou poder ir não vai ser mais por causa dos meus 17 anos e sim porque demorou tanto tempo se levando o Rock in Rio pra Lisboa e Espanha que passei da idade e sou uma mulher trabalhadora, comprometida e mãe ocupada. E o tempo que ele, o Rock in Rio estava dando os ares da graça dele lá por fora é que eu teria liberdade para ir, mas graças ao Medina esse tempo já passou, e os meus ídolos não vão voltar.
* Festa da Tomina é uma oportunidade de reencontro dos vários santaleixenses espalhados por Portugal e pela Europa