Encontro dos Reservistas de 1976

* Prof. Arnaldo de Souza Ribeiro

“ Educai as crianças e não será preciso punir os homens.”

Pitágoras. Matemático e filósofo. Nasceu no ano de 570 a. C na ilha de Samos, na região da Ásia Menor (Magna Grécia) e faleceu em Metaponto, região sul da Italia, provavelmente em 497 ou 496 a. C.

Prezados pais, senhoras, senhores, meus queridos amigos do saudoso Tiro de Guerra – 04 - 080 – Itaúna – Minas Gerais.

Prezados Capitães Juscelino Silva e Orlando Coelho Leão, que nos honram com suas ilustres presenças.

Boa noite a todos.

Em atendimento ao honroso convite feito pelos fraternos amigos Gilson Heleno Caetano e José Aparecido Ferreira, organizadores deste Primeiro Encontro, farei um breve pronunciamento, representando os reservistas de 1976, que nesta noite rendem homenagens aos pais, aqui presentes e àqueles que já se foram, em saudosa memória, e aos nossos ex-comandantes: José Pereira da Silva, Juscelino Silva, Orlando Coelho Leão e Valmir de Mattos Vieira.

Prometo-lhes que serei breve e limitar-me-ei a falar-lhes: de gratidão, de saudade e, sobretudo, de alegria.

Gratidão: Agradecer ao bondoso Deus, que nos deu a vida e permitiu que a desfrutássemos plenamente.

Aos nossos pais e familiares, em especial às nossas mães. Tendo em vista que, quando de nossa passagem pelo Tiro de Guerra 04 - 080, quase todos os dias, eram as nossas mães que se levantavam de madrugada, para preparar o nosso café e a nossa farda e o faziam com amor, zelo e dedicação, muito antes de nos despertar. A elas, o nosso reconhecimento, o nosso carinho e a nossa eterna gratidão.

Aos sargentos de então, José Pereira da Silva, Juscelino Silva, Orlando Coelho Leão e Valmir de Mattos Vieira, homens que, com sabedoria, respeito, patriotismo e dedicação, a cada dia nos ensinavam uma nova lição e suas lições se fundamentavam: na ética, na moral, na importância do estudo, do trabalho, da preservação da saúde e da necessária prática da cidadania, materializadas no incentivo ao amor à Pátria e aos seus Símbolos; ao respeito para consigo e ao próximo, princípios inerentes à filosofia do Exercito Brasileiro e daqueles que o integram e com honradez e galhardia o representam e o defendem.

Registre-se que estes abnegados cidadãos que nesta noite reverenciamos e agradecemos, exerceram marcante influência em nossa formação pessoal, moral e intelectual, tendo-nos legado, além de seus ensinamentos, o exemplo de suas vidas. Eram homens possuidores de poder, prestígio cultura e sabedoria, porém tratavam a todos com respeito e solidariedade, agiam sempre com austeridade, isentos de quaisquer vaidades.

Para corroborar as assertivas de que o serviço militar sempre foi um caminho eficaz para a formação dos jovens, servir-me-ei dos ensinamentos do imortal Humberto de Campos:

[... No discurso com que iniciou, em São Paulo, a 9 de outubro de 1915, a sua campanha pelo ressurgimento cívico do Brasil, Olavo Bilac assim definiu entre nós, pela primeira vez, o serviço militar: Que é o serviço militar generalizado? É o triunfo completo da democracia; o nivelamento das classes, a escola da ordem, da disciplina, da coesão; laboratório da dignidade própria e do patriotismo. É a instrução obrigatória; é a educação cívica obrigatória; é o asseio obrigatório; a higiene obrigatória; a regeneração muscular e física obrigatória...] [1]

Meus caros pais, ex-comandantes, senhoras e senhores, meus queridos amigos. As lições preconizadas por Olavo Bilac em 1915 e registradas por Humberto de Campos, são equivalentes àquelas que diariamente nos eram ministradas em 1976.

Saudade: Passaram-se trinta anos, desde aquele primeiro semestre de 1976 e, muitos daqueles bons momentos vividos e várias pessoas que deles participaram encontram-se presentes, em nossas mentes e em nossos corações, materializados neste nobre sentimento que denominamos saudade.

Nas palavras de um sábio e anônimo pensador:

“A saudade é melhor que a felicidade, porque a saudade é a felicidade que ficou.”

Sim, realmente fomos felizes àquele tempo e por isto hoje, sentimos saudades.

Dentre os momentos felizes e marcantes que deixaram saudades, citaremos: as instruções diárias no antigo e pequeno Quartel, bem próximo ao Campo José Flávio de Carvalho, hoje uma bela praça; daqueles plantões que algumas vezes os incontidos arroubos da juventude os transformavam em festas e quando descobertas recebíamos as merecidas e bem dosadas punições. Dos “passeios” naquele velho caminhão da Prefeitura Municipal de Itaúna, que nos levavam ao “Estande” próximo ao morro da Igreja Nosso Senhor do Bonfim, para a prática de tiro ao alvo e lá ficávamos por toda manhã de domingo; e na volta, o que quase sempre acontecia, as manifestações de felicidades que se aproximavam da indisciplina, e por não conseguirmos identificar quais eram os mais felizes, recebíamos de brinde: “uma bela e instrutiva preleção” e a ordem para que retornássemos ao Quartel a pé, no menor tempo possível e para os últimos que chegassem: plantão, no próximo final de semana. Daquelas caminhadas cívicas que fazíamos pelas ruas da cidade, sob os olhares atentos e respeitosos daqueles que paravam ou vinham às portas e janelas, para nos ver passar. Com absoluto silêncio e respeito seguíamos em ordenadas filas que eram formadas em escala física decrescente. Ocasião em que vestíamos nossas fardas zelosamente engomadas por nossas mães e portávamos garbosamente os nossos fuzis com suas baionetas, que brilhavam sobre os nossos ombros a reluzir os belos raios do sol. Naquelas caminhadas, tínhamos à frente a Bandeira Nacional e nos orgulhávamos de segui-la e protegê-la, pois nela reconhecíamos e contemplávamos o nosso País, na exata dimensão que nos ensinara o poeta Heli Menegali:

[... Agora passa a bandeira

Tiremos nosso chapéu

Vai a pátria brasileira

Nas dobras daquele véu...] [2]

Trazemos também em nossos corações o vazio e a saudade, deixados por aqueles que compartilharam conosco daqueles momentos felizes e que já foram chamados à casa do Pai Celestial. A eles o nosso especial carinho e, por acreditarmos na imortalidade da alma e na bondade Criador, estamos certos de que, onde quer que estejam estão a nos contemplar e a comemorar conosco. Ainda que prevaleça o respeito incondicional às determinações do Criador, gostaríamos que aqui estivessem.

Alegria: Para encerrar, falarei da alegria. Alegria por realizarmos este Primeiro Encontro dos Reservistas de 1976, alegria por rever saudosos amigos, acompanhados de seus pais, filhos, netos, esposas, convidados e, sobretudo, por reencontrar dois daqueles inesquecíveis instrutores: Juscelino Silva e Orlando Coelho Leão, que com zelo e maestria souberam nos orientar para a vida, seguindo os princípios basilares do Exército Brasileiro aliados à sabedoria do filósofo e matemático Pitágoras, que preconizava: educar o jovem, para não punir o adulto e eles o fizeram muito bem, juntamente com nossos pais.

Por estas razões, senhores pais, ilustres capitães José Pereira da Silva, Juscelino Silva, Orlando Coelho Leão e Valmir de Mattos Vieira, recebam as nossas homenagens e a nossa eterna gratidão.

Que o Bondoso Deus os ilumine sempre.

Quero também agradecer aos ilustres amigos Gilson Heleno Caetano e José Aparecido Ferreira, que envidaram todos os esforços para promover este Encontro, motivo de alegria para todos. Em caráter particular gostaria também de agradecer-lhes pelo honroso convite para pronunciar estas modestas palavras em homenagem aos nossos pais, presentes e ausentes e aos nossos ex-comandantes, pessoas que merecem todo nosso respeito, admiração e eterna gratidão.

Muito obrigado a todos.

Itaúna, (sábado) 25 de março de 2006.

Notas do Discurso:

1. CAMPOS, Humberto. Mealheiro de Agripa. W.M. Jackson INC – Editores: Rio de Janeiro, 1951. p. 93

2. Trecho da poesia de Heli Menegali.

Bibliografia

CAMPOS, Humberto. Mealheiro de Agripa. W.M. Jackson INC – Editores: Rio de Janeiro, 1951.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio eletrônico. Direção de Carlos Augusto Lacerda. São Paulo: Nova Fronteira, 1999. 1 CD-ROM. Produzido por MGB Informática

Notas Gerais:

1. O Primeiro Encontro dos Reservistas de 1976 realizou-se no dia 25 de março de 2006. Iniciou com um Culto, celebrado pelo Ministro da Eucaristia Sílvio Delaino da Silveira, realizado na Igreja Santa Bárbara, situada na Rua Jácome Ribeiro s/n e em seguida um coquetel para os reservistas, familiares, homenageados e convidados no Salão de Festas da “Associação Comunitária Pio XII” – Rua Carmelo de Abreu, n. 150, Bairro Morro do Sol – Itaúna – MG.

2. Durante o evento todos os reservistas vestiram camisas verdes, que foram confeccionadas exclusivamente para o evento, tendo ao peito um círculo com os dizeres: “1976 – 2006, 30 anos e às costas: 1º Encontro dos Reservistas da 1ª Turma de 1976.”

3. Quando conclui o pronunciamento supra, os Capitães Juscelino Silva e Orlando Coelho Leão fizeram uso da palavra e de forma magistral, manifestaram acerca de suas passagens pelo Tiro de Guerra 04 - 080, da alegria de terem colaborado para a formação de centenas de jovens e agradeceram a homenagem a eles prestadas e ao término de suas falas foram calorosamente aplaudidos.

* Arnaldo de Souza Ribeiro é Doutor pela UNIMES – Santos - SP. Mestre em Direito Privado pela UNIFRAN – Franca - SP. Especialista em Metodologia e a Didática do Ensino pelas Faculdades Claretianas – São José de Batatais – SP. Coordenador e professor do Curso de Direito da Universidade de Itaúna – UIT – Itaúna - MG. Professor convidado da Escola Fluminense de Psicanálise – ESFLUP – Nova Iguaçu - RJ. Advogado e conferencista. E-mail: professorarnaldodesouzaribeiro@hotmail.com