Bispa Sônia Hernandes no programa Raul Gil: deprimente
O outrora instigante quadro que já teve seus momentos de glória, com a opinião de convidados como Tom Zé e Marcelo Tas começou mal no SBT. Levar a ex-detenta e bispa para o quadro do chapéu foi uma péssima idéia.
Acho importante estar sempre atento e nunca perder a esperença de que as pessoas podem mudar, podem ser realmente diferentes, pelo menos daquilo que se pensa delas. Apesar disso, não houve nada de novo, nenhuma palavra que fosse diferente das de outras pessoas na mesma condição à da convidada: proprietária de uma igreja, ou seja, uma empresária de sucesso. Nada que empolgasse, que me fizesse ter uma imagem diferente da que tenho sobre esta pessoa. Para mim, continua sendo apenas uma oportunista que, por acaso descobriu-se, também cometeu um crime. Aliás, descobriram para nós, pois aconteceu nos Estados Unidos.
E infelizmente, pelo menos desta vez, o quadro continuou a apresentar personagens óbvios e fáceis de se "avaliar". Certa vez escutei o próprio Raul Gil criticando a ingenuidade do quadro. Eu me lembro que ele disse algo do tipo: "ela não tira o chapéu para a violência! Mas é lógico! Quem é que tira o chapéu para a violência?". Não foi diferente com a participação da bispa. Ela não tirou o chapéu para o preconceito racial, para a maconha e nem para o juiz francês que expulsou o Kaká. Ora bolas, mas não é óbvio?
Em seguida, evidentemente tirou o chapéu para o jogador. E por que cargas d'água não tiraria o chapéu para o seu pupilo? Kaká é o maior garoto-propaganda da Renascer! Por isso, pelo menos enquanto os interesses dela e do marido ainda forem atendidos, podem ter certeza de que ela vai tirar o chapéu para o rapaz e dizer obrigado em seguida! Com direito a aleluia.
Depois de deixar de tirar o chapéu para o juiz francês, ela disse: "o juiz expulsou o francês e agora a França está fora da copa. A VINGANÇA pertence ao Senhor". Não entendo de religião, mas uma das coisas que me lembro vagamente é que as religiões procuram cultivar em seus fiéis bons sentimentos e evitar aqueles considerados ruins. Por que então esta frase, atribuindo a Deus a missão de desclassificar os franceses da copa por "vingança"?
Para finalizar de forma ainda mais lamentável esta, que foi na minha opinião a mais detestável participação no quadro nos últimos anos, na hora do último chapéu Raul Gil falou em voz alta - mais alta ainda - que a bispa "deveria tirar o chapéu para Luan Santana, porque o garoto canta bem". Neste momento a platéia foi mostrada: um grande número de adolescentes, protestando contra a brincadeira.
O apresentador revelou que Sônia Hernandes não tira o chapéu para HUGO CHÁVEZ. Enquanto eu perguntava para o nada "quem tiraria?", notei que o público estava em silêncio, inerte. Nem aplaudia, nem vaiava. Raul pediu para que levantasse a mão na platéia quem conhecesse Hugo Chávez. Das centenas de pessoas, vi duas mãos se levantando. Me perguntei o que aquelas garotas tão novas faziam na escola e o que faziam à noite na hora do jornal.
Este é o público do programa do Raul Gil: aquele que ovaciona um zé-bonitinho sem qualquer valor cultural, como o Luan Santana e simplesmente desconhece o crápula que (des)governa a Venezuela, apesar dos escândalos aparecerem exaustivamente na TV em todos os noticiários. O público que engole bobagens que saem da boca de pessoas como a proprietária da Renascer, além de prestar atenção e até elogiar a hipocrisia dos calouros de playback com seus gestos artificiais e sorrisos amarelos.
E já não me bastava a desclassificação do Brasil para ter vontade de chorar naquele fim-de-semana?
(Gabriel)