ESCAVAÇÃO ARQUEOLÓGICA – UM EXERCÍCIO EM RESIDÊNCIA DE ESTILO ECLÉTICO NO CENTRO DE ARACAJU/SE

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CURSO DE ARQUEOLOGIA (BACHARELADO)

PROFESSORA ORIENTADORA: RENATA DE GODOY

ESCAVAÇÃO ARQUEOLÓGICA – UM EXERCÍCIO EM RESIDÊNCIA DE ESTILO ECLÉTICO NO CENTRO DE ARACAJU/SE

Alba Rosane Salvador Moura

*Márcia Rodrigues

RESUMO

O presente artigo apresenta o tema voltado para a escavação arqueológica como um exercício realizado em uma residência cuja construção apresenta evidências da utilização do estilo Eclético. O patrimônio cultural data do início do século XX e está situado na Rua xxxxx, do lado esquerdo de quem desce em direção ao Rio Sergipe e se situa entre as esquinas das ruas xxxx e xxxx. O objetivo principal do trabalho é o de apresentar o resultado de um exercício de escavação arqueológica revelador, ao mesmo tempo, de aspectos históricos, artísticos e culturais predominantes na arquitetura no Brasil do início do século XX, a partir da apreciação do estilo empregado na construção do imóvel objeto deste estudo e biografando a herdeira desse patrimônio. A metodologia aplicada foi a da pesquisa bibliográfica acompanhada de um breve exercício de escavação arqueológica; visitas ao imóvel; realização de entrevistas e de sessão de fotografias/produção de slides. Os resultados se mostram na constatação de que o prédio representa um patrimônio cultural, indício revelador de uma época, de seu modus vivendi e das tendências correntes no início do século XX no que se refere ao estilo arquitetônico denominado Eclético. As conclusões apontam para a necessidade de estudantes e profissionais da Arquitetura/Urbanismo e de outras áreas estarem atentos à conservação do patrimônio cultural de Aracaju, conservando-o e respeitando-o.

Palavras-chave: Escavação Arqueológica; Ecletismo; Patrimônio; Século XX.

1 INTRODUÇÃO

Este artigo tem por tema a Escavação arqueológica - um exercício em residência de estilo eclético no centro de Aracaju. Visa lançar sobre a construção um olhar que alcance perceber-lhe aspectos arquitetônicos e histórico-culturais representados em um patrimônio cultural da cidade de Aracaju, capital do Estado de Sergipe.

O avanço da civilização e o progresso tecnológico levam os atores sociais ao paulatino esquecimento da importância de um patrimônio arquitetônico como símbolo de uma época e de uma identidade. Sabe-se, porém, que a conservação de uma obra ajuda a descrever a história passada (uma cultura material) e contribui para restituí–la tornando-a de fácil compreensão para a sociedade atual e, inclusive, para a posteridade.

O estudo do comportamento humano é de fundamental importância para compreendermos aspectos da organização espacial. Através da Arqueologia, ciência responsável pelo estudo do passado por meio de vestígios materiais, é possível identificar e analisar objetos de civilizações da antiguidade, proporcionando informações sobre sua cultura e o seu modo de vida.

A apresentação da proposta de escavação arqueológica e análise histórico-arquitetônica que inclui a figura da primeira herdeira da residência fez aflorar nos atuais herdeiros do imóvel intensa emoção, gosto e demonstração do valor sentimental que atribuem ao patrimônio.

Coube às investigadoras verificar as formas de habitação do espaço ao longo de quase um século e as linhas seguidas para a construção da casa com a finalidade de reconhecer o seu selo de cultura patrimonial sergipana. Constatou-se que o citado bem de família, desde as suas origens, foi utilizado apenas em caráter residencial.

Este trabalho não apenas contém as informações de um exercício de escavação arqueológica, mas também busca reavivar, mesmo que de forma sucinta, os traços arquitetônicos e históricos existentes no prédio. Isto é, a forma como foi construído, utilizado e qual o estilo arquitetônico que lhe serviu de inspiração/modelo.

E, para poder melhor compreender as características da construção em foco, tornou-se imprescindível fazer, além do exercício de escavação, uma revisão de teorias da escavação arquitetônica; estudos relativos à predominância e influência do estilo denominado Eclético em países da Europa, como também no Brasil, por aderirem a essa tendência.

A partir deste estudo, outros pesquisadores poderão ampliar o conhecimento acerca da questão dos estilos arquitetônicos e seus usos pelo mundo e no Brasil no início do século XX.

Dessa forma, espera-se contribuir para aumentar nos ambientes acadêmicos a disseminação de uma atitude mais investigativa e analítico-reflexiva em torno de valores representativos de uma cultura em determinada época e o valor que têm as ciências Arqueologia e Arquitetura.

Esta pesquisa se justifica por ser uma forma de compartilhar conhecimentos sobre o processo da escavação arqueológica, a noção de uma tendência de estilo arquitetônico marcando a vida social em aspectos representativos e reveladores de determinada época (início do século XX). O presente trabalho destina-se, não apenas aos acadêmicos de Arqueologia e de Arquitetura, mas a todos os interessados na cultura em geral e, especificamente, na cultura sergipana e sua manifestação na construção civil.

A pesquisa oferece uma modesta, porém inegável contribuição aos aspectos social, científico e acadêmico, pois possibilita a ampliação dos conhecimentos em história da cultura sergipana e de sua arquitetura no referido período.

É importante conhecer etapas e processos de mudanças sociais, a partir da observação do foco analítico, baseando-se na hipótese de que a arquitetura acompanha o desenvolvimento de um país ao qual está vinculada a sua identidade histórico-cultural.

O objetivo geral deste estudo é o de apresentar o resultado de um exercício de escavação arqueológica revelador, ao mesmo tempo, de aspectos históricos, artísticos e culturais predominantes na arquitetura no Brasil do início do século XX, a partir da apreciação do estilo empregado na construção do imóvel objeto deste estudo e biografando a herdeira do patrimônio.

Os objetivos específicos tratam de apresentar o resultado de um exercício de escavação arqueológica; desvelar, ao mesmo tempo, aspectos históricos, artísticos e culturais predominantes na arquitetura no Brasil do início do século XX, a partir da apreciação do estilo empregado na construção do imóvel localizado no endereço Rua xxxx, no centro de Aracaju; e apresentar nota biográfica relativa à herdeira desse patrimônio cultural, Maria Lima Santos Meneses (in memoriam).

Para a realização deste trabalho foi adotado o tipo de pesquisa bibliográfica, aliada à consulta de documentos do imóvel e, ainda, foram realizadas 3 (três) sessões de entrevistas gravadas, além de 4 (quatro) sessões de fotografia a partir de tomadas de diversos ângulos da residência. Foram assim totalizadas 7 (sete) visitas ao local escolhido como objeto de estudo. A entrevistada foi a atual moradora, Tânia Maria da Conceição Meneses Silva, filha e uma de dois herdeiros do imóvel. Convém frisar que esta metodologia incluiu um breve exercício de escavação arqueológica centrado no terreno do quintal da residência. Foram também criados slides contendo fotos de toda a casa (exterior e interior; área construída e área livre).

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Escavação Arqueológica – Um Exercício

A noção de escavação, utilizada para a preparação desta pesquisa, está vinculada ao conceito de processo geológico de estratificação do solo, que obedece à denominada "lei da superposição". De acordo com essa conceituação, as camadas superiores do terreno seriam resultados de ações recentes, enquanto que, as camadas inferiores e mais profundas do terreno seriam o resultado de ações antigas.

A deposição de peças arqueológicas no solo obedece ao mesmo princípio geral: as encaixadas nos estratos próximos à superfície seriam relacionadas a uma ocupação humana mais recente, enquanto peças encontradas em estratos profundos pertenceriam a uma ocupação bem mais antiga.

Segundo Franco (1996, p. 1),

"O trabalho de escavação é lento, feito com colheres de pedreiro, pincéis, espátulas, onde tudo é observado, medido, anotado, descrito, desenhado e fotografado. Muitas vezes, juntamente com os objetos e os restos de alimentação, são encontrados ossos humanos muito antigos, testemunho das pessoas que viviam naquele lugar, naquela época remota".

Deste modo, os estratos se acumulam em sequência, ao longo do tempo, com suas sucessivas camadas, organizando-se uma sobre a outra. Assim, a leitura dos estratos estratigráficos fornece o que os arqueólogos denominam de "cronologia relativa", isto é, qual ocupação humana veio antes, qual veio depois. A partir daí, tem-se um primeiro ordenamento na cronologia da área, definindo uma sucessão histórica das ocupações.

Tanto para o processo simulado de uma escavação arqueológica na construção, quanto para o estudo do interior da residência, foram utilizados os mesmos procedimentos. Neste caso, o quintal foi a parte escolhida como sítio arqueológico para o ensaio da análise das camadas do terreno.

E. C. Harris e A. Carandini (1988), em trabalho sobre metodologia de escavação arqueológica, orienta da seguinte forma uma escavação: devem ser analisadas as unidades de deposição natural e as produzidas pela ação humana. Podem ser depósitos (unidades de deposição primária ou secundária), interfaces verticais (valas ou outro tipo de buracos) e elementos de construção (elementos integrantes de construções, tais como muros ou outros). Estas unidades são individualizadas de acordo com as suas características físicas (compactação, cor, composição) e, acima de tudo, pela relação estratigráfica que desenvolvem com outras unidades. Para a identificação destas relações tem lugar primordial a observação em planta, assumindo-se o registro dos cortes como um ponto de apoio à interpretação arqueológica.

Todas as informações concernentes à caracterização de cada unidade estratigráfica precisam ser registradas num tipo específico de ficha individual de unidade estratigráfica. Neste contexto, importa explicitar a utilização de dois tipos distintos de fichas: uma para a caracterização de depósitos e interfaces verticais e outra específica para elementos de construção. A cada ficha de depósito, compete preencher a respectiva ficha de inventário de materiais. A coleta de materiais arqueológicos ocorre de forma sistemática e, depois, se procede ao competente registro nas fichas de unidade estratigráfica.

Os materiais exumados em cada unidade estratigráfica devem ser depositados em sacos inventariados e referenciados com o número de unidade estratigráfica correspondente. Posteriormente, são lavados e etiquetados com o código de sítio, setor e número de unidade estratigráfica. As amostras de sedimentos são, igualmente, recolhidas para análises paleoambientais (antracológicos, carpológicos, palinológicos) das unidades estratigráficas mais significativas; estas amostras são devidamente embaladas, etiquetadas e referenciadas nas fichas de unidade estratigráfica e, evidentemente, no relatório final da escavação.

Em outra etapa, fotografa-se o material, em formato digital e em diapositivo, com referência ao Norte magnético e utilizando-se uma escala e placa de identificação. Quanto aoss limites de cada unidade estratigráfica, estes devem ser desenhados em planta, à escala 1:20, e cotados altimetricamente de acordo com um ponto fixo denominado ponto zero georeferenciado. Terminada, então, a intervenção, os cortes são fotografados e desenhados, tal como sucede com os alçados mais relevantes de todos os elementos construtivos detectados.

O conjunto de relações estratigráficas é, em geral, representado num gráfico conhecido como Matriz de Harris, o qual permite a leitura integral da estratigrafia da escavação.

"Matriz de Harris ou Diagrama do seriation de Winchester é uma ferramenta usada descrever a sucessão temporal de contextos archaeological e assim a seqüência do deposition “em um local archaeological da terra seca”. A matriz reflete a posição relativa e os contatos stratigraphic de unidades stratigraphic observable, ou os contextos. A matriz foi desenvolvida no princípio dos anos 70 em Winchester, Inglaterra, pelo Dr. Edward Cecil Harris. Entretanto o conceito de criar diagramas do seriation dos strata archaeological baseados no relacionamento físico entre strata tinha tido alguma moeda corrente em Winchester e outros centros urbanos em Inglaterra antes do formalisation de Harris. Um dos resultados de fim do trabalho de Harris era o realisation que os locais tiveram que excavated stratigraphically, na ordem reversa àquele em que foi criada, sem o uso de medidas arbitrárias do stratification tais como cuspos ou planums. Harris articulou primeiramente (em Princípios do stratigraphy archaeological) a necessidade para cada unidade do stratification ter sua própria respresentação gráfica, geralmente no formulário de uma planta medida. Em articular as leis do stratigraphy archaeological e em desenvolver um sistema em que demonstre a simplesmente e gràfica a seqüência do deposition ou truncamento em um local, discutiu-se que Harris seguiu nos passos dos arqueólogos stratigraphic verdadeiramente grandes tais como o Wheeler, sem necessariamente ser um excavator grande ele mesmo. O trabalho de Harris era um pre-cursor vital ao desenvolvimento do único planeamento do contexto pelo museu de Londres e também desenvolvimento de diagramas do uso de terra, todos os facets de um suite de ferramentas archaeological da gravação e as técnicas tornaram-se no Reino Unido que permitem a análise indepth de séries de dados archaeological complexas, geralmente de urbano escavações".

Finalmente, segue-se a fase da identificação das relações estratigráficas e a análise dos materiais arqueológicos recolhidos levam à identificação das fases ou períodos históricos do sítio arqueológico.

Conhecendo tais procedimentos, observou-se, de forma ainda superficial, muito simples, os exemplos obtidos durante as visitas de pesquisa realizadas na casa da Rua xxxx, Cabe, entretanto, aprofundar esses procedimentos apontados pelas teorias no que diz respeito a uma investigação pormenorizada deste ou de outro local escolhido como objeto de estudo.

2.2 A Residência – Estilo Arquitetônico Eclético

A casa foi construída no início do século XX. Nesse período a Europa passava por momentos de transição social e movimentação cultural em várias áreas. Na arquitetura não foi diferente. Deixou-se de imitar os estilos “neo” para se aderir a outro estilo – o Ecletismo.

"O termo ecletismo denota a combinação de diferentes estilos históricos em uma única obra sem com isso produzir novo estilo. Tal método baseia-se na convicção de que a beleza ou a perfeição pode ser alcançada mediante a seleção e combinação das melhores qualidades das obras dos grandes mestres. Além disso, pode designar um movimento mais específico relativo a uma corrente arquitetônica do século XIX.

O uso do termo como conceito é introduzido na historiografia da arte no século XVIII pelo teórico alemão Johann Joachim Winckelmann (1717 - 1768) para designar uma espécie de sincretismo consciente identificado na produção de artistas como os Carracci e seus seguidores, em atividade no norte da Itália no fim do século XVI. Seu projeto artístico caracteriza-se pela junção harmônica das excelências de seus predecessores em uma obra singular. Tendo como base as ideias de Winckelmann, o termo passa a ser utilizado, sobretudo em sentido pejorativo como sinônimo de falta de personalidade e originalidade. No século XX o conceito de ecletismo perde algo da conotação negativa que o acompanha, e é usado para indicar fases ou fenômenos sincréticos em culturas de diferentes períodos ou regiões. Desde a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945) tende-se a admitir o ecletismo como procedimento válido na atividade criativa".

Além disso, pode também designar um movimento mais específico relativo a uma corrente arquitetônica do século XIX.

Segundo Colin (2010, p. 1),

"Com relação ao Ecletismo, não podemos falar literalmente de um revivalismo, pois já não interessava a volta de um momento específico do passado e de sua arquitetura. Mais apropriado é falarmos de um “historicismo”. A História Ocidental, neste caso, é vista como um todo, acreditando-se que a solução para um determinado problema formal, técnico ou estilístico, já foi encontrada em algum momento passado. Não há, aí, a preocupação fundamentalista de princípios morais, éticos ou econômicos. A arquitetura historicista volta-se mais para a “poética” dos estilos".

Como movimento artístico, o ecletismo ocorre na arquitetura no século XIX. Por volta de 1840, na França, em reação à hegemonia do estilo greco-romano, os arquitetos começam a propor a retomada de outros modelos históricos como, por exemplo, o gótico e o românico. O principal teórico do ecletismo arquitetônico é o francês César Denis Daly (1811 - 1893), que o entende como "o uso livre do passado". Não se trata de uma atitude de simples copista, mas da habilidade de combinar as características superiores desses estilos em construções que satisfaçam a demandas da época.

Na segunda metade do século XIX, o ecletismo tem forte presença na Europa. O estilo Segundo Império ou Napoleão III, na França, é caracterizado pela realização de importantes edifícios ecléticos, como o Teatro Ópera de Paris, projetado por Charles Garnier (1825 - 1898).

O ecletismo arquitetônico difunde-se também pelas Américas, marcando as construções do mundo novo. No Brasil, no período de transição para o século XX, o ecletismo é a corrente dominante na arquitetura e nos planos de reurbanização das cidades.

"No Brasil, a arquitetura eclética foi uma tendência dentro do chamado academicismo propagado pela Academia Imperial de Belas Artes e pela sua sucessora, a Escola Nacional de Belas Artes, ao longo do século XIX. Assim, o ensino arquitetônico acadêmico no Rio de Janeiro, que inicialmente privilegiou o neoclassicismo, mais tarde adotou o ecletismo de origem europeia. Em pararelo surgiram instituições artísticas em outros lugares do Brasil também comprometidas com a arquitetura eclética, como o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo.

Em São Paulo o ecletismo arquitetônico teve em Ramos de Azevedo seu principal nome. Em Porto Alegre o ecletismo encontrou um grande representante na figura de Theodor Wiederspahn".

E, nessa linha, dentro desse clima de tendência arquitetônica, o engenheiro sergipano, Gentil Tavares da Mota, projetou a construção foco desta pesquisa.

A casa apresenta as seguintes medidas, conforme reza a documentação apresentada pela Professora Tânia Meneses, uma das herdeiras do patrimônio: 49m 5 cm de comprimento por 4m 30 cm de largura. Possui dez cômodos, e está dividida da seguinte forma: um hall de entrada, tendo - ao lado esquerdo de quem entra - uma sala de visitas (como era o costume da época), depois transformada em quarto; um longo corredor de acesso; dois quartos (modelo original); uma área de ventilação - no meio do corredor, do lado esquerdo -; uma sala de jantar; uma cozinha; uma copa; um banheiro (área construída). Além do que, dispõe (área descoberta) de um pátio e um extenso quintal.

Atualmente, a casa da Rua xxxx encontra-se em processo de inventário sob a responsabilidade da advogada Ninfa Machado e da inventariante, a Professora Tânia Maria da Conceição Meneses Silva.

A fachada do prédio residencial apresenta características da arte Déco, derivada do Ecletismo, tendo, porém leves traços coloniais.

"O termo art déco, de origem francesa (abreviação de arts décoratifs), refere-se a um estilo decorativo que se afirma nas artes plásticas, artes aplicadas (design, mobiliário, decoração etc.) e arquitetura no entreguerras europeu. O marco em que o "estilo anos 20" passa a ser pensado e nomeado é a Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas, realizada em Paris em 1925. O art déco liga-se na origem ao art nouveau. Derivado da tradição de arte aplicada que remete à Inglaterra e ao Arts and Crafts Movement, o art nouveau explora as linhas sinuosas e assimétricas tendo como motivos fundamentais as formas vegetais e os ornamentos florais. O padrão decorativo art déco segue outra direção: predominam as linhas retas ou circulares estilizadas, as formas geométricas e o design abstrato. Entre os motivos mais explorados estão os animais e as formas femininas. Nesse sentido, é possível afirmar que o estilo "clean e puro" art déco dirige-se ao moderno e às vanguardas do começo do século XX, beneficiando-se de suas contribuições. O cubismo, a abstração geométrica, o construtivismo e o futurismo deixam suas marcas na variada produção inscrita sob o "estilo 1925". O vocabulário moderno e modernista combina-se nos objetos e construções art déco com contribuições das artes hindu, asteca, egípcia e oriental, com inspiração no balé russo de Diaguilev, no Esprit Nouveau de Le Courbusier (1887 - 1965) e com a reafirmação do "bom gosto" estabelecido pela Companhia de Arte Francesa (1918)".

A casa, toda construída com tijolinhos de cerâmica fabricados em Itabaiana, passou por três reformas de conservação, porém com mínimas alterações no estilo - a primeira, na década de 60; a segunda, na década de 80 e a terceira, neste ano de 2009. A porta principal de entrada, assim como o janelão, as duas peças em madeira cedro, foram assim substituídos na primeira reforma (a porta) e, na segunda reforma (o janelão). A porta foi trocada por um portão de ferro (modismo à época da primeira reforma) e o janelão, por esquadrias de alumínio e vidro (também tendência de época). As três portas internas existentes (cada uma com mais do que dois metros de altura) e uma janela de quarto que dá para a área de ventilação, talhadas em cedro, são originais e conservadas.

A janela do primeiro quarto, voltada para a área de ventilação, foi substituída por esquadria de alumínio, mantendo, entretanto, a estrutura original da parede de encaixe. O piso original era também de tijolinhos avermelhados, hoje escondidos pelo piso em azulejos de cerâmica (fundo amarelo canário com motivos em preto e branco), trabalho da primeira reforma. O hall de entrada está ainda com o piso original e já desgastado em cores escuras. O telhado dos últimos compartimentos (copa, cozinha e banheiro) ainda é original, tendo algumas peças e telhas sido trocadas em virtude do desgaste natural promovido pelo decorrer do tempo e condições atmosféricas. Da frente da casa até a sala de jantar o telhado foi inteiramente renovado e, também, as instalações elétricas - parte durante a segunda reforma e parte durante a terceira. A fachada da residência mantém suas formas originais tendo sido apenas pintada várias vezes.

Poucos móveis ainda são do período em que foi construída - e mobiliada -, na primeira quadra do século XX, quando Aracaju era uma romântica e aconchegante cidade. O quintal mede dezoito metros de comprimento, sendo que no seu centro há uma mangueira frondosa que foi plantada por Maria Lima. Anteriormente, o quintal, em períodos áureos, esteve ornamentado com diversos tipos de plantas frutíferas, crótons e ali também eram cultivadas hortaliças. Constituía-se essa parte da casa em um espaço admirado por todos que visitavam a família. É um ótimo lugar para descansar à sombra e sentir a brisa que vem do mar.

2.3 Maria Lima Santos Meneses – Breve Nota Biográfica

Maria Lima Santos nasceu em 05 (cinco) de maio de 1916, em Itabaiana, município do Estado de Sergipe. Filha do casal José Vitorino dos Santos, comerciante e agricultor, proprietário de plantações de algodão, e de Antônia Rosa de Lima, dona de casa. A família veio de mudança para Aracaju, provavelmente na década de 30, pensando estabelecer-se na capital, com vistas à educação da única filha. Maria Lima Santos estudou o Curso Pedagógico da Escola Normal Rui Barbosa, situada no Parque Teófilo Dantas, àquela época. José Vitorino dos Santos construiu a primeira casa na Rua xxxx, trecho entre as ruas xxxx e xxxx, mas, em 1940, decidiu construir outro imóvel, desta vez no trecho vizinho. Para o projeto estrutural desta residência, objeto do presente estudo, o genitor de Maria Lima contratou o engenheiro Gentil Tavares da Mota.

"Gentil Tavares da Mota - Fez o curso de humanidades no Atheneu Sergipense e de Engenharia Civil na Escola Politécnica da Bahia. Trabalhou na Diretoria de Obras Públicas, foi professor do Atheneu, diretor da Imprensa Oficial do Estado, membro do Conselho de Ensino de Sergipe. Em 1918 foi eleito deputado estadual e, em 1992, eleito deputado federal. Também foi diretor dos jornais O Estado de Sergipe e Correio de Aracaju".

Após a perda da mãe e, pouco tempo depois, do pai, ainda solteira, Maria Lima tomou providências, junto ao Juízo de Direito da 2ª. Vara da Comarca de Aracaju, do Estado Federado de Sergipe para o Formal de Partilhas em seu favor, “extraído dos Autos do inventário dos bens de José Vitorino dos Santos, para título e conservação dos seus direitos” - conforme esclarece documentação registrada em Aracaju, no Cartório de Domingos Felix de Santana, Tabelião oficial do Registro de Imóveis e Escrivão do 1º. Ofício, em 6 de fevereiro de 1946.

Moça estudiosa, esclarecida, bem relacionada na sociedade aracajuana, frequentava as casas de cinema (Cine Rex, Cine Rio Branco, Cine Vitória Cine Gaurany), acompanhava a programação das emissoras de rádio e promovia reuniões culturais ao som de um piano que ela mesma executava, em sua primeira residência, anteriormente citada, Tinha particular gosto por joias, gostava de trajar-se elegantemente e, para isto, contava com os préstimos da modista de nome Thermutes. Apreciava especialmente a poesia e a música e lecionou as disciplinas Música e Canto Orfeônico na Escola Normal Rui Barbosa.

Considerada aluna exemplar, após a formatura na Escola Normal, onde também completou sua formação em Curso de Aperfeiçoamento, passou a ensinar nessa tradicional instituição de ensino público em Aracaju.

A jovem Maria apaixonou-se platonicamente, quando ainda normalista, por um renomado maestro com que flertou durante a sua juventude, mas o destino, posteriormente, encaminhou-a para o casamento com o seu par definitivo. A cerimônia foi celebrada a 20 de novembro do ano de 1946, na Catedral Metropolitana de Aracaju, com o funcionário do antigo Serviço de Luz e Força (depois ENERGIPE e, atualmente, ENERGISA), José Paulino de Meneses, natural de Irapiranga, atual Itaporanga d’Ajuda/SE. O casamento civil foi realizado no Cartório do Sexto Ofício perante o Juiz de Direito, Nicanor Oliveira Leal. A partir de então a jovem senhora passou a assinar o nome de casada, Maria Lima Santos Meneses.

São dois os filhos desse casamento. E, ao todo, sete os bisnetos do casal. O casal viveu em harmonia até o ano de 1983 quando faleceu José Paulino, no Hospital Santa Isabel, localizado em Aracaju. Aos 86 anos de idade, faleceu Maria Lima, no Hospital da Polícia Militar.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A tentativa de estudo do estilo arquitetônico, como este aqui tratado, o ecletismo, e a aplicação simulada de técnicas de escavação, não dão conta satisfatória de descrever e narrar de forma mais precisa a história de um determinado espaço/lugar/construção.

É um trabalho que ainda carece de parceria com outras áreas do conhecimento humano e que possam servir de ferramenta essencial para a reconstrução de uma história tornando possível a compreensão de uma determinada época, levando em conta seu contexto cultural e suas formas de utilização, por exemplo, na arquitetura marcando uma época ou um modus vivendi.

A residência da família Lima Meneses é um exemplo ilustrativo de identidade cultural de uma época, dentro do contexto arquitetônico examinado, pois está diretamente ligada às questões sociais e se pode, então, afirmar que representa um patrimônio cultural, documento de seu tempo. Por tais motivos foi proveitoso e útil examinar, mesmo que brevemente, os aspectos histórico-culturais e arquitetônicos que destacam o contexto em que o prédio foi erigido. Espera-se com este trabalho oferecer uma contribuição para a preservação da cultura sergipana.

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taniameneses
Enviado por taniameneses em 10/12/2010
Reeditado em 10/12/2010
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