Crítica a falta de ideias
Poderia um homem viver estático como uma flor, ou uma imagem de um quadro? Se a resposta for não, porque tantos se sujeitam a viver assim, longe de ter ideias próprias e conclusões provenientes de suas experiências passadas? Naturalmente o homem tende a mudança, a buscar um novo que o guarde em satisfação. Assim como as plantas procuram o sol, o homem também procura objetos primordiais a sua vida. Não falando de comer e beber, sobram o entertenimento e a vida social, as politicas, as reuniões, os agrupamentos, os estilos de vida, etc. Então porque tanta gente se sujeita a receber uma imagem estática, como a de um televisor, que o induzirá a pensar com moldes pré-estabelecidos? Naturalmente porque lhe foi ensinado assim, é fácil a resposta. Mas a questão fica em torno deste ensino. Todos sabem que um ser humano provido da capacidade de questionar o porquê de uma situação é capaz de, primeiro mostrar suas ideias diferentes da maioria e depois, tentar mudar aquela situação dita por ele ruim. Então, é muito mais interessante para aqueles que causam esta "situação" que o maior número de pessoas, ou "massa", não tenha esta capacidade de questionamento. Para isto serve a cultura popular, para criar um padrão e para este padrão não questionar nem seu papel nem o dos outros. Caso a questão não seja diretamente com ele, ele não irá se importar. Aí então, quando falamos de uma pessoa, ou grupo, interessado em manter a "situação" e fazer com que o grande grupo que está fora, não questione isso, encontramos um livro - e posteriormente um filme - que nos exemplifica isto em um romance. Farenheit 451, o "451" é a temperatura em que o papel queima, em farenheit. Este livro trata sobre o assunto da censura, censura ao conhecimento, ao "poder", se pensarmos que quem tem o conhecimento exerce o poder sobre os outros.
O filme, obviamente assim como o livro, que foi dirigido pelo cineasta francês François Truffaut em 1966, nos mostra uma sociedade futurística em que os bombeiros são na verdade profissionais de uma brigada especializada em colocar fogo em livros e perseguir aqueles que leêm. A razão disto? Afirmam eles que o indivíduo se torna triste e anti-social, o que faz com que o pensamento crítico seja suprimido. Em contraponto, televisores são comuns em todas as casas, e os programas exibidos são de um teor leve, que não causará nenhum pensamento crítico. Como os best-sellers vendidos hoje, as histórias de vampiros ou bruxos que para muitos, são a porta de entrada para livros ou cinema. E assim, a sociedade se mantém, afastada dos livros e do pensamento crítico e cada vez mais acostumada com a generalização do pensamento, com o senso comum. Esta metáfora é muito bem exemplificada no livro Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, que traça o mesmo paralelo entre poder (poder x conhecimento) e acondiciona as pessoas a um pensamento comum, genérico.
Pois bem, o resultado de tudo isso (tanto de Farenheit 451, quanto Admirável Mundo Novo) é uma voraz crítica a sociedade consumista e hipócrita de hoje - de hoje? Só o filme é de 1966 - que pensa que estabilidade é uma regra pré-definida por alguém, que para chegar nisto deve-se seguir um padrão e estar fora disso é um verdadeiro erro. Mas pergunte para qualquer um, mesmo um que obviamente esteja condicionado a isto, ele irá dizer palavras de conhecimento de que a crítica é fundamental para mudar a situação. Aí que está o erro, não se trata diretamente de mudar a situação, a mudança ela virá, mas quando as pessoas realmente sentirem que devem fazer isso por elas, por cada uma delas, não por um objetivo, não por uma "lógica". Mas as pessoas normalmente formam ideias a partir de algo digamos, não confiável, como um best-seller ou um programa de televisão. A televisão, como o filme mostra, destrói o interesse pela leitura, porque ela é muito mais atrativa e rápida. Não requer interpretação, é um ótimo meio de intertrenimento. Mas que é usado para manter as pessoas longe da crítica, longe de um pensamento próprio. Mas certamente isto não é tão fácil, não se pode simplesmente implantar uma cultura "X" numa pessoa, ela deve procurar isso, ela deve estar insatisfeita com algo, ela deve reclamar de algo e ver que existem outras formas de interpretar a vida. Esta é a metáfora da vida, as interpretações.
Por fim, o filme/livro trata disto, ele nos propõe uma discussão (que pode ser feita com nós mesmos, uma discussão interna) sobre, primeiramente os meios de comunicações, e depois, sobre nossa visão crítica, nosso modo de aceitar as coisas. E acredito ser este o grande mal da sociedade de um modo geral, os fanatismos, os centralismos, os "ignorantismos", os socialimos, capitalismo, todos os "ismos", toda a estagnação, toda forma de cultura que vê apenas um "fim" como provável.