Um samba na porta de minha cumade

Artigo publicado no Portal Camaçari Agora:

Um samba na porta de minha cumade

O título desse artigo faz alusão ao belíssimo projeto realizado em Camaçari, entre os meses de outubro e novembro deste ano, o já aclamado: “Terreiradas, um samba na porta de minha cumade”.

Em meu último artigo, onde falo sobre a visão do estrangeiro sobre nossa cultura, eu havia dito que precisávamos fazer uma revolução cultural em Camaçari e que essa revolução deveria estar pautada em um retorno às nossas raízes e tradições. O Terreiradas, para nosso deleite e felicidade, segue exatamente esse preceito.

Quem pôde ir ao menos a um terreiro, comprovou de forma inquestionável o quão importante são iniciativas com esta, que resgatam, valorizam e, principalmente, ajudam a perpetuar as nossas tradições, junto ao público mais jovem.

Entre sambas, marujadas, lobos, caboclos e vaqueiros brilharam os olhos da cultura local. Esta que pouco tem sido, verdadeiramente, valorizada. Mas isso é assunto para outro artigo – risos! –, voltemos ao admirável trabalho encabeçado por nossa Sub Secretária de Cultura, Elisângela Sena...

Tive oportunidade de ir a três das edições: Parafuso, Monte Gordo e Barra do Pojuca. Em todas me chamou a atenção a satisfação dos mestres de cultura camaçarienses em ver suas manifestações sendo reconhecidas. Os olhos brilhavam, o sorriso era farto em seus rostos. Seus pés, outrora cansados de muitas andanças, não mais travavam batalhas e sim sambas de celebração. Nos terreiros, víamos crianças, jovens, adultos e idosos com os pés no chão exaltando o mais afável intercâmbio entre as gerações. Mestres e mestras como: Miro, Sardinha, Dona Bete, Bochecha, Eliene, Dona Elisabete, Dona Nildes, dentre outros, passaram a sair de um anonimato (inconcebível!), rumo ao reconhecimento de suas culturas passadas de avós para pais, e de pais para filhos.

O Terreiradas abre nova possibilidade de manter-se um canal direto de contato entre os mestres de cultura do município, onde todos podem não apenas sambar, mas trabalhar de forma conjunta e organizada, compartilhando suas vivências, dificuldades e vitórias.

A nós, admiradores destas culturas de terreiros, resta-nos torcer para que outros editais de valorização cultural sejam disponibilizados pelo poder público, e que a já ilibada competência de pessoas apaixonadas pela cultura popular, como é o caso de Elisângela Sena, seja novamente premiada.

Muito mais que parabenizar os grupos de cultura popular de Camaçari, acredito que todos nós devemos render a nossa gratidão por nunca terem deixado a peleja e por nos ensinar que não basta termos os recursos, é preciso ter um amor profundo pelo nosso país, pois foi apenas esse sentimento que, por muito tempo, alimentou a nossa cultura local, não deixando que a chama se apagasse.

... E que venham outros terreiradas! Que sambas sejam sambados até o amanhecer e, finalmente, que esse amanhecer cultural desperte em nossos gestores o desejo de ser mais Brasil e, assim, investir em nossas manifestações culturais.

Salve,

Caio Marcel Simões Souza (Caio Cultura)

(é administrador de empresas graduado pela Faculdade Metropolitana de Camaçari, professor de curso técnico, professor de capoeira regional, formado pelo Grupo de Capoeira Porto da Barra, mantenedor, professor e dirigente do Projeto Social Crianças Cabeludas – Núcleo Camaçari/Bahia, escritor, pesquisador e admirador de cultura popular brasileira).

admcaio@gmail.com

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