POLÍTICA NO RECANTO DAS LETRAS

Nestes meus poucos 36 anos de vida aprendi que saber se movimentar entre as variadas camadas da sociedade é uma arte. E para quem é pobre, não tem origem nenhuma e muito menos qualquer tipo de apadrinhamento, é mais do que arte, é sim uma enorme necessidade.

É assim porque temos que comer, nos vestir, ter uma moradia minimamente decente e todas essas tralhas de que necessita o ser humano. Aprendi também a me movimentar por entre grandes e pequenos, entre nobres e plebeus, entre ricos e pobres; e isso com uma habilidade ímpar, quase com maestria.

Um menino pobre como eu deve saber bem a hora de dizer amém aos poderosos, e, se quiser contrariá-los, devo fazer com uma observância muito rígida sobre mim mesmo e sobre COMO eu vou dizer a contrariedade.

Ou seja, o COMO se diz uma coisa é muito mais importante do que aquilo que efetivamente é dito.

Assim, a política dos espertalhões, a polidez, a velhacaria, a bajulação, o cinismo, a hipocrisia, a mentira, a dissimulação, o bater nas costas, os elogios vazios e toda a sorte de cortesia que temos que ter no dia a dia são absolutamente necessários para efeito de viver bem socialmente.

Tudo isso é vital.

E eu, menino da periferia, vejo nitidamente essa necessidade. Pois há um preconceito estampado nas relações sociais entre grupos de classes opostas. Não pensem, alguns babacas, que faço uma análise apenas marxista da sociedade, minha visão vai além.

Sou um brasileiro que convive entre classes totalmente opostas e vejo nas entrelinhas das conversas, nos não ditos, o quanto de preconceito que há na classe média brasileira.

Principalmente agora que a população mais pobre começa acessar bens de consumo que antes nem imaginava ter. O rancor é bem grande, ninguém precisa me dizer, eu vejo isso no meu cotidiano.

E a classe média que me perdoe, mas vocês vivem um momento de grande vácuo ideológico e intelectual. É difícil, muito raro ver alguém realmente inteligente sair do seio dessa classe.

Bundões preguiçosos, acomodaram-se. É uma classe que hoje só produz medíocres e papagaios, e a maioria nem mesmo lê ou escreve direito.

Que a política seja necessária para a vida prática, que a mentira seja um verniz para nossas palavras ásperas contra nossos bem quistos patrões é até aceitável, mas no meu exercício pessoal de escrita é uma coisa inconcebível.

Aqui digo o que penso, não preciso adular ou bajular ninguém, pois nenhum leitor aqui paga o meu salário. Portanto, se considero que o site decaiu em qualidade, escrevo isso com todas as letras e não preciso fazer média com ninguém.

Não sou formado em nada e tenho absoluta certeza de que é totalmente desnecessária uma formação educacional nos moldes tradicionais para fazer alguém melhor. Aqui mora outra mentira gorda, a do argumento de autoridade. O fulano sabe do que está falando, pois é “formado”.

Grande merda é ser formado!

Se para Vinícius São Paulo era o túmulo do samba, para mim a universidade é o mausoléu do conhecimento. Se quer fazer alguma inteligência brilhante se tornar uma grande mediocridade matricule-a num curso universitário e os “doutores” farão dela apenas uma repetidora de fórmulas, assim como são eles, os papagaios “doutores”.

As faculdades são entraves para pessoas inteligentes, molduras antiquadas para domesticar mentes subversivas. Ninguém precisa de diploma para saber o que diz, aliás os diplomados na maioria das vezes dizem apenas grandes bobagens. São os imbecis do terceiro grau.

Pois bem, não preciso fazer concessões. Políticas de boa vizinhança?

Somente quando for estritamente necessário, pois se na vida não formos astutos o suficiente, principalmente para quem não é cheio da grana, o destino é o cárcere, o manicômio, a marginalidade ou simplesmente a miséria. E ninguém se importa com a miséria alheia.

Se no meu cotidiano muitas vezes me calo ou se não falo o que queria não vou fazer o mesmo aqui. Sou um pobre que enxerga, e muito bem. As lentes dos meus óculos são bem apuradas.

Apesar de tudo ainda sou polido. Pois, não dirijo minhas críticas a ninguém especificamente, mas faço de forma genérica. Se muitos se doem não posso fazer nada.

Parece que estamos num tempo em que não se pode criticar ninguém, nem que seja de maneira indireta.

Vivemos a época do AMÉM. Para tudo se diz AMÉM. Até mesmo para os calhordas políticos e religiosos se diz AMÉM, é tempo de juntarmos as mãos em forma de prece e dizer AMÉM! Viva a todos os medíocres, louvemos os babacas e todos os repetidores de fórmulas gastas. Tudo pela política da boa vizinhança.

Política, senhores, é pura astúcia.

Usamos somente quando precisamos. Porém, quando tivermos uma oportunidade como esta, de dizer a rara verdade, devemos dizer aquilo que muitas vezes teve que ser silenciado.

Não vou dizer que fulano escreve bem quando suas palavras são dignas do lixo.

Aqui não faço média.

E por fim, como dizia o meu velho avô espiritual, o Frederico Nietzsche, “engolir sapos faz um grande mau caráter”.

Por isso deixo os sapos para vocês.

Frederico Guilherme
Enviado por Frederico Guilherme em 22/11/2010
Reeditado em 22/11/2010
Código do texto: T2629528
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