O CASO ROBSON

O CASO ROBSON

Na hora de mandar o Robson para a escola é um sufoco. Ele nunca quer ir, não gosta, sempre arrumando encrenca. Já não chega os problemas que tenho? A casa é pequena e o que é de um é de todos: comida, roupa calçado, até coisa de escola. De dia ainda passo, eu ponho os colchões um em cima do outro, as crianças ficam pela rua e só vêm para casa quando dá fome, quando eu saio para fazer faxina, comem pela rua mesmo. Mas de noite, não tem jeito, esparramo os colchões no chão e cada um vai se ajeitando pra dormir, já aconteceu de dormirem com fome.

O último a chegar é o meu marido que trabalha de guarda noturno, fica perto da porta e aí não dá pra entrar nem sair ninguém. Então na hora da escola, eu mando o Robson se lavar na bacia e sair pela janela. O banheiro é fora, quando tem gente o jeito é se aliviar na viela mesmo.

Hoje a diretora da escola do Robson mandou me chamar. Que será que ele aprontou dessa vez? Só sei que ele vai levar uma surra que é para não dizerem que eu não corrijo meus filhos. Esse menino não tem sossego!

Atividades:

. Comente este caso, detecte o comportamento de Robson:

<Porque não gosta da escola;

<porque está sempre arrumando encrenca;

Este é um caso corriqueiro nas nossas escolas públicas, nesse caso em particular existe um problema muito sério, que nem sempre é levado em consideração. Você detectou? Quais atitudes psicopedagógicas deverão ser tomadas, para minimizar esse problema? Cite algumas estratégias.

-Examinando atentamente o caso de Robson constatamos que as condições sociais e humanas em nosso país, ainda são precaríssimas e até dolorosa. Robson e a família vivem em condições subumanas, sem amparo do governo e ausente dos direitos que lhes confere a lei maior do País, a Constituição Federal de 1988. Colando na mente os problemas dessa infeliz família o que poderíamos pensar? Várias coisas. A identificação de comportamento ou conduta com manifestação externa levaria a se considerar como distúrbio de comportamento qualquer tipo de perturbação que acarrete uma manifestação externa condutual; isto significa, na realidade, toda a psicopatologia infantil. Gorden Porter, em Elementos críticos para Escolas Inclusivas (março de 1995)- compara o enfoque tradicional da educação especial com o atual. Novas Perspectivas sobre a Prática da Educação Especial: Enfoque Tradicional e Enfoque Inclusivo: características das Políticas Sociais.

O Enfoque Tradicional concentra-se nas dificuldades do aluno/deficiências do aluno; atendimento educacional depende da avaliação do aluno por um especialista (enfoque clínico); A atuação educacional é resultante do diagnóstico/ prescritivo; programa dirigido ao aluno; atendimento em escolas especializadas. O Enfoque Inclusivo concentra-se nas potencialidades do aluno, professor do ensino regular e da educação especial examinam os fatores do processo ensino/aprendizagem; a atuação é uma função da resolução de problemas de forma cooperativa; existem estratégias voltadas para professor e o aluno; ambiente adaptado em escolas regular com apoio às necessidades educativas especiais do aluno. Características das Políticas Sociais: Modelo tradicional: paternalista, busca custo-eficiência, supre carências ou deficiências, utiliza categorias e rótulos, competitiva e coordenada.

O Modelo Baseado nos Direitos Humanos: Permite autonomia, busca efetividade dos resultados, desenvolve potencialidades e capacidades para superar adversidades, define os apoios que as pessoas necessitam, solitária e setorizada. Não se trata de ignorar as dificuldades do individuo, mas entender que o desenvolvimento dele não se explica unicamente a partir de suas condições, mas também a partir da sua interação com adultos e colegas. Uma avaliação inicial e investigada deve permitir ao professor identificar o que o aluno já sabe, seu potencial, quais suas necessidades educativas e o seu grau de especificidade, para estruturar a proposta pedagógica definindo como: tipo e grau das adaptações curriculares que serão necessárias estabelecer em relação a determinado aluno; meios de acesso ao currículo que deverão ser facilitados ao aluno; outros aspectos de caráter mais global ( aspectos afetivos, interpessoais, sociais etc); temporalidade prevista para o alcance dos objetivos pelo aluno.

O professor Eric Calderoni classifica os tipos de criança-problema em: Criança (“puxa - saco”) ou bajulador, criança (“bagunceira”); criança (“apática”), criança (“sabe-tudo”), “criança (do “contra”), “criança (“ mentirosa”), criança (“violenta”), O problema estaria em diferenciar o normal do patológico. Existem vários tipos ou características de aprendizagem, mas pelo que denotamos no texto a que Robson se enquadra seja inerente a Social e emocional, criança hiperativa com baixa autoestima e atenção. Crianças com os problemas que Robson tem, existe aos milhões, onde a condição social e o bom assistencialismo não existem. O governo não promove uma Assistência Social adequada e pasmem: No Brasil o descaso com a evasão escolar se traduz na dificuldade em se encontrar pesquisas com estatísticas sobre o assunto. Na escola em alusão o fato corriqueiro que denotamos é a falta de qualidade, planejamento escolar, controle sobre os alunos, assistência social e psicológica, reunião de pais e mestres, um ensino de responsabilidade que cativasse o aluno independente de sua classe social, merenda escolar e tempo integral.

O IBGE, por exemplo, há mais de 30 anos não faz um levantamento dos índices e dos motivos da evasão escolar. Levantamos alguns questionamentos sobre o comportamento de Robson e o sufoco que ele causa a mãe para não frequentar a escola. Rosely Sayão afirma que: "A escola já foi considerada um local sagrado e, portanto, reverenciado, estimado, cuidado e respeitado por todos. Uma de suas denominações, inclusive, era "Templo do Saber". Atualmente, elas são o retrato colorido de nossa sociedade, um espelho do estilo de vida urbana que temos levado e do tipo de relação que estabelecemos com os mais novos”.

Como Robson é vitima da ingerência social, tenha problemas familiares graves, falta de alimentação, espaço para viver e fome não sinta ânimo, talvez por fraqueza, cansaço físico e mental se revoltando com a mãe quando determina que ele vá ao colégio. A escola tem regras, tem limites, mas seu ambiente familiar não existe estruturação, falta afetividade dos pais, o convívio com nuanças negativas o torna impulsivo. A mãe tem que trabalhar, o pai sendo guarda-noturno não dispõe de tempo para cuidar dos filhos como deveria, pois aproveita o dia para descansar e dormir. A família fica sem um orientador e todas fora de esquadro, e o destino natural é a rua.

A criança embrutecida tem ao seu dispor todos esses parâmetros negativos que Robson possui, falta de estímulo, fome, noites mal dormidas, falta de assistência dos pais e do governo, sem esses importantes apetrechos o estímulo esperado não chegará jamais. Será que ao analisarem o caso de Robson foram vistas as atitudes psicopedagógicas de como ele age a resistências, bloqueios, sentimentos, lapso, uma busca para conhecer a rejeição de estudar, e compreender de forma mais completa estas crianças ou adolescentes já tão criticados por não corresponderem às expectativas dos pais e professores.

Notamos que falta uma maior interação entre a diretoria do colégio e a família dos alunos. Uma orientação comum aos países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento consiste no interesse em utilizar as estratégias "Criança a criança". Estas podem revestir-se de muitas formas. Por exemplo, são usadas em muitas zonas rurais de países em desenvolvimento para apoiar crianças com deficiências. Igualmente, em diversos países ocidentais, a utilização planificada da potencialidade do "poder dos colegas" tem sido utilizada como uma estratégia eficaz para integrar alunos com deficiências nas turmas regulares. Estas estratégias têm como objetivo comum tentar que as crianças duma comunidade tenham a oportunidade de compreender melhor as pessoas que, por quaisquer razões, são diferentes - na cor, na maneira de vestir, nas crenças, na língua, nos movimentos, nas capacidades. Verifica-se que, quando as crianças compreendem melhor qualquer criança que é diferente, deixam de revelar crueldade ou sentir desagrado, para se tornarem os seus melhores amigos e o seu melhor apoio.

Podemos observar por algumas informações da UNESCO – que um meio importante para ajudar todas as crianças a ter sucesso na aprendizagem consiste no recurso ao que podemos chamar poder inter-pares. Esta estratégia pode ter especial importância quando se trata de crianças que têm dificuldades ou deficiências. As escolas que utilizam esta potencialidade de forma adequada podem empregar uma variedade de abordagens, incluindo a aprendizagem cooperativa em grupos e o uso de várias formas de aprendizagem através de colegas. Os resultados de numerosas investigações demonstram, por exemplo, que os alunos treinados como tutores podem, às vezes, ser mais eficazes que os adultos a promover a leitura ou a ensinar determinadas matérias tais como conceitos de matemática. Isto pode advir do fato de tenderem a ser mais diretivos que os adultos, de terem mais familiaridade com a matéria que está a ser ensinada, de terem maior compreensão das frustrações dos colegas ou de utilizarem um vocabulário e exemplos mais compreensíveis e mais adequados à sua idade. Por conseguinte, a aprendizagem através dos colegas é uma estratégia que os professores podem utilizar para proporcionar um apoio complementar aos que dele necessitam.

É importante referir que estas estratégias podem ter, igualmente, um efeito positivo para as crianças que asseguram a ajuda, no que respeita ao seu desenvolvimento, tanto acadêmico como social. Historicamente, alguns alunos, particularmente os que têm deficiências, têm sido excluídos de certos aspectos da vida escolar (por exemplo, clubes escolares, acontecimentos sociais). Diferentes tipos de grupos de apoio entre colegas têm-se revelado como meios eficazes para tornar esta participação mais ativa. O objetivo de uma rede de apoio entre colegas é enriquecer a vida escolar de outro aluno. Alguns professores que experimentaram este método resumem-no do seguinte modo: "Apoio entre colegas, consiste em reunir um grupo de miúdos para que trabalhem juntos e destruam as barreiras que a sociedade criou em relação à ideia geral do que deve ser uma norma".

"Apoio entre amigos" é uma forma específica de aprendizagem através de colegas, na qual o envolvimento de uns com os outros se situa, fundamentalmente, nas áreas não acadêmicas. As possibilidades desta estratégia são ilimitadas. Por exemplo, um "amigo" pode ajudar um aluno com uma deficiência física a utilizar a sua carteira e a tirar objetos lá de dentro. Pode simplesmente acompanhá-lo antes e depois das aulas. A sua função pode também consistir em ajudar os outros colegas e os professores a compreender as dificuldades e os desafios que se colocam ao seu "amigo".

Em algumas escolas, os alunos que se entre ajudam, através de grupos de intervenção, demonstraram ter uma acção valiosa na ajuda à integração de alunos com deficiências. De fato, numa escola, um grupo de alunos reuniu com os professores para preparar a admissão de um aluno com deficiências múltiplas que vinha duma escola especial residencial. Os conselhos que deram foram muito práticos, desde sugestões para um equipamento especializado de comunicação, até tipos de cadernos de notas que poderia usar para ajudá-lo a integrar-se. É sem dúvida enorme a capacidade dos alunos para se ajudarem uns aos outros na escola, mas para que esta capacidade se exerça é necessário que os professores liderem o processo, encorajando-os. UNESCO (1996).

A instituição de ensino obtém informações, apoio pedagógicas e diretrizes do órgão central e demais órgãos oficiais (Secretária de Educação do Município, do Estado), através do MEC, e, ainda observa o que as outras escolas, públicas e particulares, estão praticando em relação a novas técnicas administrativas e pedagógicas e fazem uma análise para obtenção de melhores resultados na cadeia de agregação de valores (ensino aprendizado) aos alunos após colherem informações internas e seguir a visão, a missão, os objetivos e as estratégias previamente definidos pela direção escolar. Pelo que vimos à escola de Robson está alheia a essas determinações e é um dos pontos fracos da mesma. Não existe interação escola aluno e aluno escola. Talvez por sua condição social seja motivo de comentários dos colegas e surja daí a sua esquiva na obrigação de frequentar a escola. (sine qua non).

“A infância é uma dimensão impensada e imprevisível da experiência humana” Kohan (2001). Devemos reconhecer que as crianças são como um ator social, sujeito histórico de direito, que se apropria e produz cultura. Será que nossos alunos são vítimas da inércia cultural e o sistema escolar um fator de mobilidade social, segundo ideia da escola libertadora, quando ao contrário tende a mostrar que ele é um dos fatores mais eficazes de conservação social, pois fornece a aparência da legitimidade às desigualdades sociais, e sanciona a herança cultural e dom social tratado como dom natural. Essa situação de falta de responsabilidade social tem que mudar urgentemente. Existem muitos problemas sérios que acontecem no âmbito das escolas públicas, o desinteresse é um deles. O Brasil não leva a educação a sério. Esta é uma frase que soa como uma redundância, a qual todo mundo reconhece. Mas não sabemos o motivo de a termos como slogan de nossa falta de incompetência para difundir uma educação universal, que englobe a todos os cidadãos sem distinção, visando um país mais justo e próspero, não apenas no sentido econômico, mas de desenvolvimento humano e social. O Brasil é um país que não privilegia a educação e a cultura como estimuladores do crescimento e desenvolvimento humano. Aqui a educação sempre foi vista como 'lustro', 'erudição', a exaltação do saber 'enciclopédico' que não transforma a realidade, apenas reproduz modelos impostos pelos detentores do poder.

Mesmo com a mobilidade social atual e diminuição das desigualdades, parece que este pensamento está mais forte do que nunca, com seus divulgadores na mídia e na burocracia do Estado - vários donos de escolas particulares fazem parte de conselhos de educação pelo Brasil afora, definindo critérios para escolas em geral. Um caso notável de relação espúria entre interesses particulares e públicos na educação é o do ex-secretário de educação de São Paulo, Paulo Renato de Souza, que presta serviços de consultoria educacional a grupos editoriais multinacionais com interesses em licitações públicas. A administração da educação no Brasil parece estar se tornando um suculento prato, onde a promiscuidade governamental reina, setores da mídia visando interesses comerciais próprios manipulam a verdade e poucos apenas saem lucrando, em prejuízo de uma nação que ainda não acordou para a importância primordial da educação em suas vidas.

Uma medida pedagógica seria a educação de todos sem distinção, os Parâmetros Curriculares Nacionais foram elaborados procurando, de um lado, respeitar diversidades regionais, culturais, políticas existentes no país e, de outro, considerar a necessidade de construir referências nacionais comuns ao processo educativo em todas as regiões brasileiras. Com isso, pretende-se criar condições, nas escolas, que permitam aos nossos jovens ter acesso ao conjunto de conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos como necessários ao exercício da cidadania. A evolução da humanidade, os avanços tecnológicos e científicos transformam a vida das pessoas, colocando-as em um meio onde suas necessidades mudam e, por conseguinte, a demanda existente no mercado como um todo se torna a cada dia que passa ainda mais exigente.

Essas transformações ocorrem nos cenários políticos, social, econômico e educacional. O meio, ou o habitat dos profissionais que trabalham nas instituições de ensino público também absorve tais mudanças. Assim é inevitável o aperfeiçoamento de forma a atender às necessidades do novo mercado. Um planejamento estratégico bem elaborado é essencial. Precisamos melhorar muito, incentivar o professor, reciclá-lo periodicamente, remunerá-los condizemente, participação em simpósio e seminários, reuniões extracurriculares, folgas, assistência média, dentária, creches para os filhos, mas infelizmente os governantes além de reduzirem o percentual previsto para a educação, ainda fazem de conta que o professor é muito importante para a sua gestão.

ANTONIO PAIVA RODRIGUES- ALUNO DO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA FACULDADE VALE DO JAGUARIBE (FVJ) EM PSICOPEDAGOGIA

Paivinhajornalista
Enviado por Paivinhajornalista em 14/11/2010
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