ARACAJU, DUAS IMAGENS *
*Tânia Maria da Conceição Meneses Silva (texto produzido durante as aulas de Pós-graduação/ Curso Sergipe: Sociedade e Cultura _ Faculdade Pio X e Academia Sergipana de Letras; também publicado no site da referida Faculdade).
Este paper é um exercício desenvolvido durante as aulas da disciplina Imagens na História de Sergipe, ministrada pela Professora Dra. Raylane Andrade Dias Navarro, e tem por objetivo comparar duas imagens de Aracaju em épocas distintas, buscando a compreensão da importância da utilização da imagem na pesquisa da história cultural como indício legítimo e testemunha ocular da história.
Observando-se (fotografia 1) uma foto recente da cidade de Aracaju, capital do Estado de Sergipe, visualiza-se a histórica Avenida João Ribeiro (Estrada Nova ou Estrada da Colina), Bairro Santo Antônio. A depreender pela perspectiva da foto, esta foi obtida do pátio da Igreja de Santo Antônio, um dos mais privilegiados mirantes da cidade de Inácio Barbosa.
A avenida arborizada, asfaltada, sinalizada e ajardinada liga o Bairro Santo Antônio ao centro comercial. Ao longe se vê o Edifício Estado de Sergipe (28 andares), popularmente conhecido pelo epíteto Maria Feliciana, devido à altura do prédio, algo inédito em Aracaju no ano em que a obra foi inaugurada (1970 _ no governo Lourival Baptista). O Maria Feliciana tornou-se marco de uma nova era de construções de prédios altos e, de lá para cá, a cidade foi se desenhando mais metropolitana, mesmo conservando ainda cheiro e gosto de província.
A segunda fotografia, em preto e branco, mostra a mesma avenida _ um instantâneo do logradouro público, no início do século XX, quando a Empresa Carris Urbanos inaugurou em Aracaju um sistema com tração animal e bitola métrica, no dia 24 de outubro de 1908. José Rodrigues da Costa Dória governava o Estado de Sergipe.
Segundo Santos (2007, p.1):
"A bitola métrica 1,000 m foi escolhida por numerosas estradas de ferro de interesse local. Ela foi adotada na França, lei de 12 de julho de 1865, para a rede ferroviária de característica secundária, de pequena extensão e fraco tráfego, as quais impunham um programa de investimento mais econômico."
Comparando-se as duas fotografias, nota-se a vegetação nos quintais das casas, uma característica que ainda existe em determinados pontos do centro de Aracaju e em quase todos os bairros.
A importância da imagem como registro histórico encontra-se anotada nas reflexões de Barreto (2004) sobre a década de 20. Para esse historiador, o valor se evidencia no tocante à revelação do passado sergipano em suas mais significativas cenas nas ruas da capital ou nos engenhos e fazendas interioranas.
Um momento importante desse passado, segundo Barreto, foi aquele em que o Presidente Pereira Lobo aqui esteve durante a realização do evento comemorativo ao Centenário da Emancipação Política de Sergipe. Dois fotógrafos fizeram de Aracaju e mais 34 municípios o foco de suas lentes: Fabian, um carioca, e Leone Ossogini, de São Paulo, “contratado para executar as fotos do Álbum de Sergipe, livro monumental encomendado ao jornalista, professor e político, Clodomir Silva, e impresso nas oficinas de O Estado de São Paulo.” (BARRETO, op. cit. , p.1)
A respeito do que apresenta Carvalho (2004) em seu estudo sobre as Imagens no “Método Paulo Freire” na experiência de Angicos (RN) _ 1963, ressalta-se a chamada “pedagogia pela imagem”. A pedagogia baseada na imagem foi trabalhada por Paulo Freire em seu bem sucedido método de alfabetização rápido e prático, apresentando resultados considerados satisfatórios.
Carvalho frisa o momento em que as imagens transcendem “os aspectos estritamente artísticos” e passam a ser uma ferramenta do processo ensino-aprendizagem. Ao evocar Tardy (1976), Carvalho remete à implicação das imagens com as circunstâncias em que são apresentadas com relação a materiais e técnicas da arte em sua função pedagógica _ ensino de uma disciplina aliado à conscientização política.
A resenha intitulada História, indícios, imagens: a historiografia do olhar, de O ‘ Donnell (2004), elaborada a partir da obra de Burke (2004), Testemunha ocular: história e imagem, trata de examinar os usos e abusos da imagem.
Burke prestigia o potencial que tem a imagem de comunicar, de expressar, e confere-lhe patamar de indício legítimo no método historiográfico da abordagem como é feita pela chamada nova história.
A cada vez que uma pessoa visualiza uma imagem, torna-se testemunha ocular de um momento. Os olhos das pessoas retratadas nas calçadas e no leito da Avenida João Ribeiro, e sequer os de Allen Morrison, jamais poderiam formular uma comparação entre as duas fotografias aqui expostas. Essas pessoas estão no passado e delas herdamos a cena, o instantâneo, a arte e a história. A imagem atual de Aracaju revela o progresso, de forma nítida e multicolorida, registrando com as novas tecnologias a história em sua dinâmica.
REFERÊNCIAS
BARRETO, Luiz Antonio. 1920: A década da imagem. Aracaju, 20/01/2004. In NAVARRO, Raylane Andrade Dias. Sergipe _ Sociedade e cultura. Disciplina: Imagens na História de Sergipe. Associação de Ensino e Cultura Pio X. Faculdade Pio X. Curso de Pós-Graduação Lato Sensu, Aracaju/SE, 2009.
BRITO FILHO, José de Oliveira. Aracaju antiga. O solitário da colina.
Disponível em <http://aracajuantigga.blogspot.com/ >
Acesso em 19 de maio de 2009 18h29min
CARVALHO, Vicente Vitoriano Marques. As imagens no “Método Paulo Freire” na experiência de Angicos (RN) _ 1963. Revista Educação em Questão, Natal, v. 21, n. 7, p. 98-115, set./dez. 2004. In NAVARRO, Raylane Andrade Dias. Sergipe _ Sociedade e cultura. Disciplina: Imagens na História de Sergipe. Associação de Ensino e Cultura Pio X. Faculdade Pio X. Curso de Pós-Graduação Lato Sensu, Aracaju/SE, 2009.
O’ DONNELL, Julia Galli. História, indícios, imagens: a historiografia do olhar. Resenha de BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. Bauru, Edusc, 2004. In NAVARRO, Raylane Andrade Dias. Sergipe _ Sociedade e cultura. Disciplina: Imagens na História de Sergipe. Associação de Ensino e Cultura Pio X. Faculdade Pio X. Curso de Pós-Graduação Lato Sensu, Aracaju/SE, 2009.
SANTOS, Sílvio. Transporte Modal. As bitolas das ferrovias (2) _ 2007
Disponível em <http://www.portogente.com.br/texto.php?cod=12267>
Acesso em 19 de maio de 2009 18h30min
Publicado em: 19/05/2009 20:25:56
Última alteração:20/05/2009 16:01:25
*POSTAGEM DE CÁSSIA SUELY