MEMÓRIA PROFANADA.

Ainda não é hora de dar nome aos bois, mas certamente encontraremos do outro lado, na hierarquia da culpa, uma dupla de boi de canga que viaja rumo ao retrocesso e nesse carro, amarrado a seus fueiros o pouco que ainda restava de nossa memória, já debilitada pela ação de governantes insensíveis a cultura de seu próprio povo. O sebo seco passado nos eixos de velho carro, faz ranger ao longe uma desastrosa lamúria triste, ao saber que mais uma página de nossa memória começa ser destacada de nosso livro histórico; o seu canto antes saudoso, parece hipnotizar a reação popular de um povo,que  no futuro sabe-se lá como viverá, sem uma identidade cultural, sem conhecer sua própria origem. Cada governo que passa rasga um pouco deste livro sagrado, sem falar nas páginas que naturalmente morre com o passar dos tempos, levando consigo segredos e história que por certo nunca se tornará conhecida.  (Raul de Dona Zuzu e Hugo de Cassimiro, duas páginas que acabamos de perder), junto a essas perdas naturais, dia a dia assistimos passivos nosso próprio fim, com atos de tais natureza, como agora nos foi denunciado por telefone.  Dentro em pouco, ninguém vai saber quem foi que foi; porque que foi; se apagada a memória dos mortos, que enquanto vivos, escreveram importantes momentos de nossa existência. Alí, naquele velho cemitério, estão os restos mortais de nossos bisavós, avós, pais; que agora sofrem a profanação da especulação imobiliaria e a possivel insenbilidade dos governos que se fazem  indiferentes ao passado, como se todos nós fossemos fruto do presente. 
 
Bem lembrada e oportuno a canção do Roberto que diz: "Há muito tempo eu vivi calado, mas agora resolvi falar, chegou a hora tem ser agora" não dá mais prá vê e ouvir sem reagir; que entendam ou que deixem de entender; que as picuinhas politicas interioranas, tão pequenas quanto alguns de seus personagens;  me enquadre e desenquadre em suas concepção retrogradas. Sou um cidaddão antes de tudo correntinense, orgulho de ser um Araújo Tobó da gema, e por isso não posso clarear, embranquecer, tremer, diante de um lamentável fato como este que está ocorrendo,  no exato momento em Correntina.

J[a fomos vítimas de fatos desta natureza em vários momentos de nossa história; quando por exemplo construíram o forum municipal no meio da principal praça da cidade, um incabível absurdo, que matou pra sempre a bela exuberante da praça, testemunha de tantos momentos de infância e namorados. Perdemos a cortina verde do Morro do Estreito e toda tradição do cerrado alí encontrada; mesmo sendo um local de propriedade particular, um governo que tivesse visão ambientas não permitiria esse e outros absurdos ambietais que nos acontece a cada dia.

Porém entre tantos absurdos o que nunca deixou de doer  foi  a demolição do  Cine Teatro de Correntina; um velho casarão de espetáculos teatrais, bailes sociais, eventos civicos e religiosos;  sem que ninguém falasse nada e por ninguém ter feito nada, ficou o feito por feito, sem nenhuma remediação, ou compensação. Foi demolido injustificadamente, a capricho da vaidade ou sabe lá a que vantagens fora; para quem concedera tão absurdo ato. Hoje sofremos a bruta realidade e as penosas consequências, frutos do absurdo ato, que demoliu o Cine Teatro de Correntina e hoje todos vivem seus dias, indiferentes ao que aconteceu, até mesmo sem dar por conta do autor de tamanho absurdo.   Não bastou o fato histórico que representava aquele prédio; não bastou as lembranças e amores alí vividos por todos, até mesmo pelo autor, mandante  desta barbarie. Nunca mais Cine Teatro; nunca mais velhos carnavais, bailes, matinês, cinema... nunca mais!  Apagou-se tudo, quando acabou o último baile, o último filme, o último carnaval e ninguém sabe quando foi este último momento de saudade!.

Nunca mais teve outra casa de espetáculos  erguida em seu lugar ou onde quer que fosse, no perímetro urbano, de uma cidade cuja vida social também morreu, restando apenas algumas lembranças, para os que viveram momentos áureos, hoje resumidos numa foto única  que gira de mão e mão, sonhando com o dia em que vissemos retratada parte de nossas vidas.



Hoje chega a mim a fatal notícia,  via telefone,  de que o Velho Cemitério está sendo invadido, ou profanado pela especulação imobiliaria. Onde estão as autoridades neste momento tão importante de um povo?  A SER VERDADE TAMANHO ABSURDO,( o que solicitei a fontes seguras a confirmação) outra vez assistiremos  passivos, que se rasgue mais uma página de nossa memória; que façam o que bem entenderem com os nossos valores culturais; que falte aos governantes a sensibilidade para tais assuntos, mas que nunca falte  ao povo atitude, a ação, na defesa  de sua memoria.  Tomamos tal iniciativa partido do principio que a notícia seja um fato, mas esperamos, com alegria,  anunciar que tudo não passara de um engano.

Muitos talvez nem pensem na importância de um fato desta natureza, pois foi por culpa da falta de principios culturais, valores referências,  que os nossos jovens, se viram sem opção e tomaram o caminho da banalidade se enveredando pela era do Pocotó, po co tó! e se tornaram adeptos da banalidade musical, banalidade do sexo e se matando no mundo das drogas. É assim, que acontece, quando um povo deixa morrer sua história, sua memória; o primeiro vestígio desta morte é a falta de ação, a falta de vida de sua sociedade e quando uma sociedade morre, morre também todos seus valores e princípios.  Eu eu ainda acredito na juventude atuante; que mesmo adormecida, vive em um cantinho da sociedade, respirando o pouco ar que ainda lhe resta; acredito na atitude de pessoas que sabem preservar os valores históricos desta terra e os princpios de civilidade de nosso povo; acredito que ainda verei a beira do Rio em harmonia com a natureza, com lugares definidos para ouvirmos uma música de qualidade, respirar um ar puro e curtir a natureza em paz; sem os abusos dos "duristas" ao invés de turistas, como diz meu amigo Periquito de Marina, quando alega que tais farofeiros vem para explorar e promover bagunça, propagando a fama de que esta é uma terra sei lei.  

Não faz muito tempo,  perdemos a única espaço que tinha codições ideais para realização de eventos populares ou quem sabe, nela recuperar a velha memória de nosso Cine Teatro e alí se edificar a Praça do Povo; mas o local,  obra de um governo anterior, desafeto politico da atual legislatura, fez prevalecer a mentalidade tacanha da política interiorana  e o resultado nesta briga mesquinha foi a perda de uma oportunidade de se ter uma praça como nunca tivemos ou teremos. O governo da mudança teve lá seus pecados mortais, como todos governos têem e terão, mas deixou rastro visíveis de um novo tempo;  estabeleceu naquele lugar o Parque de Vaquejadas, que ao invés de ser melhorada, foi num ato incomcebível,   loteado. O espaço e foi-se “pras cucuias”. O governo atual perdeu a oportunidade de fazer história e o povo de ser parte dela.



Agora os nossos mortos são profanados com a invasão que se configura na parte de trás do cemitérios velho; em breve, certamente as velhas catacumbas, centenárias, que nos contemplam do alto da colina, serão também demolidas e os parentes que ainda prezarem as lembranças e ossos de seus ente-queridos, que tomes as providências de agir, ou de lá retirar os restos mortais de seus queridos antepassados, pois o processo "invasório" começou. 

Se não houver uma reação popular, uma atitude do Legislativo Municipal em requerer a preservação de nossos valores culturais;  de nossa memória; aqueles que ali descansavam em paz, perderão a paz da colina e serão apagados do cenário. 

Perdemos a oportunidade de agir, quando demoliram o Cine Teatro de Correntina, quando em seu lugar ergueram o Banco do Nordeste; vamos agora permanecer calados em si confirmando tamanho absurdo!!! . Correntinenses, não é por ideologias políticas, mas pela  preservação de nossa própria memória; reajam antes que seja tarde, peçam ajuda ao Legislativo, se o Executivo for o autor deste absurdo, ou o inverso, se o autor for o Legislativo, alguém é o culpado deste começo trágico e antes que ele seja consumado, corte pela raiz este maldito ato.

Entre o autor de um delito e o mandante dele, o culpado maior é quem manda, já que quem executa nem sempre tem capacidade de pensar no que faz ou deixa de fazer; é notória a limitação gestora a que festamos submetidos, mas sabemos que há por trás dos atos de quem faz tem culpa quem manda ou deixa fazer. 

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em tempo:

Pelos comentários os internautas poderão perceber a imedita resposta do Sr. José França, Secretário do Prefeito Municipal, pelo que se digna de nosso aplauso. Quanto ao exegero na autoria do texto, amigo José, cabe lembrar que foi por falta de atitude desta natureza que muitos atos de violência contra nosso patrimônio cultural acabou por se concretizar. Hoje foi uma contrução irregular que pôs em risco nosso memorial;  se nada fosse feito ou dito, certamente o intento do invasor acabaria por atrair outro e outro e quando menos e de passo em passo, estariam definitivamente dentro do campo santo onde descansa os restos mortais de nossos ancestrais. 

Fica aqui o meu agradecimento a você,  José França, pela atitude imediata em preservar a memória dos seus e dos nossos antepassados e que alí continuem o sono da paz.

ACORDA CORRENTINENSES!!!