História de um povo I - O centenário da República em Portugal, 5 de Outubro de 2010
5 de Outubro de 2010, o centenário da República:
Hino de Portugal em uníssono nacional!
Hoje, dia 5 de Outubro de 2010, celebra-se o primeiro centenário da proclamação da República em Portugal, país com 900 anos de história, que descobriu novos mundos para o mundo.
O Hino Nacional será tocado ao mesmo tempo em todo o território português, assinalando o Centenário da Proclamação da República.
A cerimonia oficial do hastear da bandeira, ao som do Hino Nacional, terá lugar às 10h30, hora de Portugal e, as bandas filarmonicas de todo o país, que aceitaram o convite para participar, tocarão “A Portuguesa” em uníssono, a partir da sua própria localidade, numa celebração única, que terá o tamanho do país.
O programa oficial das comemorações, que tem como objectivo mobilizar os cidadãos e suscitar a reflexão sobre a herança cívica e cultural da República, será desenvolvido à escala nacional.
5 DE OUTUBRO DE 1910 - 5 DE OUTUBRO DE 2010 = 100 ANOS DE REGIME REPUBLICANO
5 de Outubro de 1910 foi um dia de renovada esperança para Portugal.
Há precisamente cem anos atrás, a realidade economica, política e social de Portugal era profundamente diferente da atual. A Monarquia portuguesa era constitucional, mas estava profundamente desacreditada. Longe do povo, incapaz de resolver os principais problemas do País e do Império, as esperanças voltavam-se todas para a instauração da República.
Os republicanos prometiam um "mundo novo", queriam instruir o povo e trazê-lo à participação política, melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e fazer de Portugal um país mais próspero.
Regra geral, o povo aceitou o regime republicano como sinal de mudança e de muita esperança. As contas públicas equilibraram-se, surgiu nova bandeira, novo hino, nova moeda. Apostou-se muito na instrução dos jovens. Por todo o lado apareceram jornais de fervor republicano. O clero sofreu algumas humilhações e perdeu patrimonio e importância social. O país mexeu nas suas estruturas mais profundas.
Contudo, nem tudo foram "rosas"! Manteve-se sempre uma persistente oposição monárquica, houve divisão entre os republicanos e, pior que isso, surgiu a 1.ª Guerra Mundial em que Portugal participou, em África (para defender as suas colonias) e na Europa (Frente Ocidental, ao lado da velha aliada de Portugal: a Inglaterra.
Esta participação foi verdadeiramente dramática para Portugal pelas suas conseqüências: desequilíbrio financeiro, inflação galopante, desvalorização do escudo, caos social e uma insustentável instabilidade política decretariam o fim mais que certo da Primeira República, com a implantação da Ditadura Militar (1926) que, pouco depois, evoluiria para o "Estado Novo" (1933-1974).
Um pouco de história: O último rei de Portugal
Portugal foi, desde a sua origem, governado por reis, forma de governo chamada de monarquia.
D. Carlos foi um dos reis da quarta dinastia e o 13° rei de Portugal, filho primogénito do rei D. Luís I e da rainha D. Maria Pia, nasceu em Lisboa em 28 de Setembro de1863.
Em 1886, casou com Maria Amélia de Orleães, princesa de França. Quando subiu ao trono em 1889, o país atravessava uma grave crise económica.
Para complicar a situação, em Janeiro de 1890 os portugueses sofreram uma afronta: o "Ultimato Inglês", no qual a Inglaterra exigia que o governo português mandasse retirar os exércitos que se encontravam entre as colónias de Angola e Moçambique, ou declararia guerra ao país.
O governo cedeu e muitos portugueses sentiram-se humilhados e atribuíram as culpas à insuficiência política do rei. Os republicanos aproveitaram esta oportunidade para reforçar a ideia de que a monarquia devia ser derrubada. Houve em todo o país muitas manifestações e os jornais encheram-se de artigos violentos contra a Inglaterra, contra o rei e contra a monarquia.
Esta história termina, tristemente, em Lisboa, no dia 01 de Fevereiro de 1908, onde num atentado contra a monarquia, D. Carlos I cai assassinado, juntamente com o seu sucessor, o infante D. Luís, restando como descendente seu segundo filho que seria o último rei de Portugal: D. Manuel II.
D. Carlos foi um grande Rei, reformador, poeta, pintor, desenhista, músico, cientista, histologista. Teve de ser morto pelos anarquistas mesmo, porque de outra forma nunca se faria a República tão cedo, pois ele era muito amado pelo povo, tanto de Portugal como do Brasil, onde abriu os Portos à navegação Atlântica.
República: o que mudou em Portugal volvidos 100 anos
A República foi proclamada da Câmara Municipal de Lisboa no dia 05 de Outubro de 1910. A importância deste fato foi tal que se decidiu que essa data fosse um dia feriado.
Os presidentes são eleitos por períodos de tempo mais curtos, e as suas decisões são controladas pelo governo.
O primeiro presidente foi Teófilo Braga, mas foi só presidente do Governo Provisório até às eleições, onde foi eleito o primeiro Presidente da República de Portugal, Manuel de Arriaga.
Em cem anos o o país e o mundo deram muitas voltas. O centenário da República serve também de mote para uma viagem às transformações sociais que Portugal viveu durante um século.
Eis as principais mudanças:
Nova bandeira: A Bandeira Nacional substituiu a Bandeira da Monarquia Liberal.
Dividida na vertical com duas cores fundamentais: verde-escuro do lado esquerdo e vermelho à direita. O vermelho é a cor de força, coragem e alegria, que representa o sangue derramado pelos portugueses.
O verde é a cor da esperança e do mar, foi escolhido em honra de uma batalha onde esta cor deu a vitória aos portugueses. Ao centro, sobre as duas cores, tem o Escudo das Armas Nacionais, e a Esfera Armilar Manuelina, em amarelo e estimulada de negro. Simboliza as viagens dos navegadores portugueses pelo Mundo. No meio o branco representa a paz; o Escudo lembra a defesa do território; as Quinas, a azul, representam as primeiras batalhas na conquista do País (diz-se que são os cinco reis mouros vencidos na Batalha de Ourique por D. Afonso Henriques); cada quina contém cinco pontos brancos que são as cinco chagas de Jesus Cristo que ajudou D. Afonso Henriques a vencer esta batalha; os sete castelos amarelos representam os castelos tornados aos mouros por D. Afonso III. A esfera armilar representa um símbolo que o Rei D. Manuel I escolheu para representar as descobertas marítimas.
O Hino Nacional: Antes do hino “A Portuguesa” (Música: Alfredo Keil,
Letra: Henrique Lopes de Mendonça) existiram vários hinos em Portugal como o hino “Hino Patriótico".
O hino que conhecemos hoje foi oficializado em 1911, depois da Implantação da República (em 5 de Outubro de 1910).
A moeda nacional: No reinado de D. Duarte apareceu o meio-escudo de ouro. No reinado de D. João V cunharam-se também as dobras, múltiplos do escudo. Também nos reinados de D. José I, D. Maria I e D. João VI se cunharam escudos. O escudo era dividido em 100 partes chamados os centavos. Depois de 1914, por virtude da crise provocada pela Primeira Guerra Mundial, o escudo em papel (nota) experimentou uma descida rápida de valor, atingindo a sua menor correspondência em ouro, em Julho de 1924. Desde o segundo semestre de 1926 até Abril de 1928, o escudo sofre nova desvalorização, em consequência de dois aumentos de circulação, do agravamento da dívida flutuante interna e externa e do quase esgotamento das reservas de ouro que o Tesouro Nacional possuía em Londres.
O escudo, cujo símbolo é o cifrão ($) foi a última moeda de Portugal antes do Euro, pelo qual foi substituído no início de 2002. A taxa de conversão entre escudos e euros foi estabelecida em 31-12-1998, tendo o valor de 1 euro sido fixado em 200,482 escudos.
População: O país duplicou a sua população. Em 1911, a população portuguesa não passava dos 5,9 milhões. Atualmente é o dobro, ultrapassando os 10,6 milhões de pessoas.
O papel da mulher na sociedade: A evolução é clara. Em 1910 a mulher não tinha os mesmos direitos que o homem, ganhava menos, não tinha direito ao voto,não podia ausentar-se do país sem autorização do marido, não tinha direito a ter passaporte individual. As professoras e enfermeiras tinham que pedir autorização ao governo para casar.
Hoje, felizmente, a mulher é considerada como igual em dignidade e direitos (e também em deveres) ao homem, o que é salutar para todos, homens e mulheres.
Automóveis: A mobilidade dos portugueses mudou muito. À época havia registo de 3211 carros em circulação no país - o que representava um carro para 1692 habitantes. Este era, sem dúvida, um luxo das famílias mais ricas. Hoje, basta olhar para uma cidade como Lisboa para se ter a certeza que a realidade mudou completamente. Os dados de 2009 apontam para 6,3 milhões de veículos a circular nas estradas nacionais, o que dá cerca de um carro para cada dois portugueses.
Assistência médica e hospitalar: No início do século passado, os hospitais eram usados pelos pobres, pois os ricos recebiam as visitas médicas necessárias em casa. O acesso a consultas fora dos centros urbanos era precoce, muito mais do que actualmente em termos comparativos. Em 1908 havia registo de 471 médicos. A média em Lisboa era de um médico para 900 habitantes e no Porto a situação registada era de um médico para 800 habitantes. Atualmente, de acordo com dados do INE (Instituto Nacional de Estatística), o numero de médicos por mil habitantes era de 3,6 em 2007.
Os avanços na medicina beneficiaram a média de vida dos portugueses e verificou-se também uma acentuada melhoria na taxa de mortalidade infantil, que em 1910 era de 14,6 por cento, vindo a aumentar em flecha nos anos seguintes. Os dados de 2006 apontam para 3,3 óbitos por mil nados vivos. A média de vida está nos 78,4 anos.
Escolaridade: Em 1910 o analfabetismo entre maiores de sete anos correspondia a 69 por cento. Atualmente, ainda existe em Portugal mais de nove por cento de analfabetos, o que corresponde a cerca de um milhão de portugueses, segundo dados de 2009 do INE.
Trabalho: Em 1910 a agricultura era a principal ocupação da maioria dos portugueses - 60 por cento. Atualmente, de acordo com o Anuário Estatístico, existem 562,2 mil pessoas no sector agrícola e das pescas. A maior parte da população ativa encontra-se na área do comércio e dos serviços.
Telefones: Em 1910 havia 3500 telefones em Lisboa, 1500 no Porto e menos de mil no resto do país... Atualmente u número de telefones é bastante maior. Só no campo dos telemóveistelefones celulares, dados da Anacom referentes ao primeiro trimestre de 2010 apontam para 148,9 aparelhos activos por cada cem habitantes.
Cem anos depois da implantação do regime republicano em Portugal, devido à crise a que o regime monárquico levou o País, que regime (alternativa) o país tem hoje para resolver mais esta crise em que de novo se encontra? Fica no ar a pergunta...
... entretanto, esperarei pelo momento em que forem 10h40 em Portugal, sintonizarei um dos canais de rádio portuguesa, e levantar-me-ei para ouvir e cantar o hino nacional, (tal como milhares, talvez milhões de portugueses, em uníssono!)...
"Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!
Desfralda a invicta Bandeira,
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o solo teu jucundo
O Oceano, a rugir d'amor,
E teu braço vencedor
Deu mundos novos ao Mundo!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!
Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal do ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte.
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!"
Ana Flor do Lácio (05/10/2010)